Clovys Torres não para. Sempre em busca de projetos e desafios. Ator, diretor, produtor, dramaturgo, poeta, jornalista, o artista lança seu primeiro livro, Curva de Vento.
O livro traz 50 poecontos, textos curtos sobre o cotidiano e questões como amor, saudade, amizade e família.
“Acho que um livro é sempre resultado da vivência ou do ponto de vista do seu autor sobre o assunto escolhido e não poderia ser diferente no meu caso. Este compêndio agora escolhido é bastante representativo de como vejo a vida hoje, é poético, engraçado e bem dolorido, mas também é cheio de esperança na vida, no amor, na família!”, observa.
O lançamento, pelo selo ABOIO, acontece no Café do Pimenta Romã, na Alameda Lorena 521, das 11h00 as 13h00.
Formado em Comunicação Social, pela Universidade Metodista de Piracicaba, com especialização em jornalismo literário, trabalhou em veículos de comunicação, mas a paixão pelo teatro ¨falou mais alto¨. Estreou nos palcos em 1993, numa montagem do texto Lembranças da China, de Alcides Nogueira, com a participação dos alunos do curso de Artes Cênicas da Unicamp.
A literatura, no entanto, faz parte de sua vida e durante dez anos, ao lado de Marina Mesquita, produziu o Letras Em Cena, que todas as segundas, no Auditório do Masp, apresentava leituras dramáticas com autores nacionais e estrangeiros, alguns considerados clássicos da dramaturgia, mas o evento também alavancou a carreira de muitos talentos.
Outros eventos que merecem destaque: Primeira Página, no Tuca, encontros literários com escritores de renome como Milton Hatoum, Ruth Rocha, Adélia Prado e Luis Fernando Veríssimo (curadoria em parceria Cândida Morales); e Dose Dupla, bate-papo entre artistas da música e do teatro brasileiro (apresentação em conjunto com o maestro Miguel Briamonte).
Como ator, um dos destaques de sua carreira é o monólogo Moscarda (2007), de Pirandello, direção de Valéria Lauand, texto que fala sobre um homem que descobre os seus defeitos e como isso perturba a sua vida.
Depois encenou Édipo (2011), direção de Elias Andreato; produziu e atuou em O Grande Espírito da Intimidade ( 2011), de Leo Lama, direção de Andréah Dorim, com Adriana Londoño e Fernanda de Paula, e no ano passado esteve em cartaz com Amores Urbanos (2015), idealizou o projeto em parceria com Daise Amaral. (Diretores: Clarisse Abujamra, Marcelo Rubens Paiva e Mario Bortolotto).
Nesse trabalho, além de estar em cena ao lado de Helena Ranaldi/Ingra Lyberato, Juan Alba/Anderson Muller e Daise, Clovys assinou a autoria de um dos três textos curtos encenados, Jardim de infância. Os demais textos: Grupo de apoio para pessoas sentimentalmente muito bem resolvidas, de Mário Bortolotto, e Reconfigurar, de Marcelo Rubens Paiva.
Outro destaque na sua trajetória foi a autoria e direção de O Convite de Casamento, com Walter Portella e Lílian Blanc. Na trama, um casal de idosos, fanáticos por festas de casamento para as quais não são convidados se utilizam de figuras como Clark Gable e Marlene Dietrichi para falar das emoções cotidianas. Uma homenagem ao cinema.
Na área de direção também foi assistente de Clarisse Abujamra no espetáculo Casa de Bonecas e de Elias Andreato, na montagem de Elza e Fred.
No momento, está em cartaz com Esperando Godot,de Samuel Beckett, direção de Elias Andreato, produção de Daise Amaral.
O ator que está no palco ao lado de Elias, Claudio Fontana, Raphael Gama e Guilherme Bueno, chama a atenção pelo primor de sua expressão corporal e vocal, numa interpretação visceral do personagem Lucky.
ENTREVISTA
O artista fala sobre a sua carreira, a paixão pelo teatro, pela literatura e sobre o lançamento do seu livro
A conversa foi realizada no Pimenta Romã, um aconchegante restaurante localizado nas dependências do Hotel HB Ninety, nos Jardins, em São Paulo
Nanda Rovere - Como começou a sua paixão pelo teatro e pela literatura?
Clovys Torres - O teatro eu descobri enquanto cursava jornalismo, em 1989, Na Universidade Metodista de Piracicaba. Comecei a estudar com vários mestres. Buscava os cursos que me interessavam na área.
Durante um tempo eu conciliei o teatro com o jornalismo, até que eu resolvi me dedicar ao teatro, sempre exercendo diversas funções, atuando, escrevendo e dirigindo, porque ele abre um leque enorme de atuação.
A literatura fala de uma maneira que transcende os fatos corriqueiros e analíticos que o jornalismo trabalha. A paixão pela literatura começou no colégio interno, aos 13, 14 anos. Nós éramos obrigados a ler literatura da melhor qualidade, de autores como Guimarães Rosa e Fernando Pessoa.
Eu tinha um professor chamado Frei João, que dava aulas de Geografia, mas relacionava sempre a sua matéria com a literatura e aos poucos fui percebendo o valor da vida das pessoas retratadas nos livros do Guimarães Rosa, por exemplo. Estudei jornalismo porque na minha cabeça a faculdade era uma maneira de aprender a escrever.
NR - Fale um pouco sobre o Letras em Cena, que em dez anos de existência conseguiu um público fiel e deixou saudade.
CT - O Letras em Cena veio do meu desejo de pensar a dramaturgia e exercitar a escrita, veio do desejo de fazer algo diferente do atuar. Fiz uma leitura no Masp e achei muito legal o teatro de lá, que eu não conhecia. Propus o projeto para a administração e eles amaram.
Conheci a Marina Mesquita através da Giulia Gam, que tinha um projeto de leituras dramáticas no Rio, e a convidei para ser a minha parceira. Trabalhamos juntos durante dez anos, mas depois cada um de nós decidiu cuidar de seus projetos.
Pretendo voltar com o Letras num formato diferente. Ele conquistou um público fiel, mas quero experimentar outras ideias, talvez trabalhar com o teatro grego e depois voltar ao formato original... Não tenho ainda uma data definida.
NR - Você é ator, produtor, ator, diretor. Como concilia essas diversas atividades?
CT – A mistura de atividades acontece porque eu gosto sempre de experimentar novas funções. Já me dediquei também à dança e agora voltei a estudar música porque o artista tem que estar sempre pesquisando. Neste momento, estou procurando ficar mais focado na escrita e na atuação. O ato de escrever amplia os nossos horizontes internos, amplia os nossos sentimentos.
NR - Nesses anos de carreira quais espetáculos você destaca?
CT - Os espetáculos que encenei nos últimos cinco anos me marcaram muito. Moscarda que eu fiz durante vários anos; Maria Mucuta, que é um espetáculo que escrevi e encenei por dois anos; O Grande Espirito da Intimidade, do Leo Lama, com a AdrianaLondoño; Amores Urbanos, que idealizei com a Daise Amaral, e Esperando Godot, que está em cartaz agora e tem produção da Daise.
NR - O que te impulsiona a escrever?
CT - Desde que eu descobri a literatura carrego um olhar de escritor e as imagens sempre são muito fortes para mim. A ideia de dividir o olhar com o outro me encanta. Só a arte possibilita isso.
A literatura é, na minha opinião, a mais fiel das artes com relação à imagem porque ela cria um mundo e divide esse mundo com o leitor.
Eu gosto de brincar de criar histórias que não tenham compromisso com a verdade e no jornalismo eu não posso fazer isso porque é necessário ser fiel ao que o outro fala.
Todo dia eu escrevo alguma coisa e tenho publicado algumas coisas no Facebook.
NR - Você colocou no seu livro os textos que publica na Internet?
CT - Alguns textos sim, mas o que eu coloco na rede social são pensamentos sobre o cotidiano e questões que me emocionam ou me deixam inquieto. Fico muito à vontade quando exponho a minha visão sobre as coisas que me incomodam.
NR - O seu livro é definido como poecontos. O que significa essa nomenclatura?
CT - Quem deu essa classificação ao livro foi o poeta Hamilton Faria, que escreveu um lindo prefácio para meu livro e também a Angela Aranha Coelho, que fez a orelha.
Eu achei muito interessante porque o livro tem uma estrutura similar à prosa, mas conta histórias com diferentes formatos, misturando poesia, prosa e conto. Alguns textos têm começo, meio e fim, outros trazem citações sem personagens definidos.
NR - Como surgiu a vontade de publicar o livro?
CT - Muitas pessoas que leram os meus textos me animaram a publicar o livro.
Eu separei todo o material e comecei a sentir uma enorme vontade de dividir com as pessoas a minha viagem intimista no mundo da literatura a partir de uma escrita mais elaborada, separei vários textos e o Hamilton me ajudou a selecionar os conteúdos mais curtos e poéticos.
A minha maior ansiedade é saber como as pessoas vão receber as imagens que eu crio através das histórias que escrevo.
O meu maior prazer é conseguir uma comunhão com pessoas que eu não conheço, mas que compartilham de sentimentos similares aos meus.
Fiquei feliz quando a Angela disse que tenho uma identidade como escritor. Percebi que estava encontrando um jeito próprio de escrever e de me expressar. Descobri que o que eu escrevia fazia sentido tanto para pessoas mais simples quanto para os mais eruditos e que elas se identificavam com a minha alegria ou a minha tristeza.
NR - Você tem uma trajetória de parceria com a Adriana Londono, Elias, Daise, e no momento está encenando mais um trabalho com Elias Andreato, Esperando Godot.
CT – Fiz o espetáculo Édipo com o Elias faz cinco anos e foi incrível. Este ano surgiu a oportunidade de fazer Esperando Godot, um projeto da Daíse Amaral. Quando ela me falou que ia montar esse espetáculo, e convidar o Elias para dirigí-lo, na hora eu pedi para trabalhar com ele, porque ele tem uma generosidade muito grande.
Foi a primeira vez que eu pedi emprego como ator. Esse trabalho está sendo prazeroso porque o Claudio Fontana, que fez Édipo comigo, também tem uma energia muito boa.
Samuel Beckett exige um nível de pensamento e dedicação muito grandes e os atores estão muito integrados. É um elenco gostoso de se conviver e a equipe é de primeira, com Gabriel Villela assinando o figurino e Namatame o cenário. Todo dia eu agradeço.
Completamos dois meses de apresentações e vamos até o final de novembro. Em fevereiro do ano que vem faremos nova temporada no Tucarena. Possivelmente também viajaremos com o espetáculo.
NR - Como consegue estar atuante num momento tão complicado como hoje?
CT - Quem trabalha com arte no Brasil sempre tem que conviver com a crise, seja ela financeira, interna ou de valores. Nós artistas temos que produzir senão enlouquecemos.
NR - Como está a expectativa com relação ao lançamento do livro?
CT - Com relação ao lançamento, eu acredito que ele tem uma certa qualidade e estou ansioso porque preciso do feedback das pessoas, de conhecer o olhar do outro sobre o meu trabalho.
Eu fiz uma edição numerada porque eu quero estabelecer uma relação de troca. Estamos perdendo espaços para debates e quero saber quem leu o meu livro, tenho a necessidade de ouvir a opinião sincera das pessoas.
O lançamento do livro será no Pimenta Romã, que tem apoiado os seus projetos. Qual a importância dessa parceria?
Optei por fazer o lançamento no Pimenta Romã porque tenho uma relação muito próxima com o espaço. O Pimenta é um lugar onde você encontra artistas e a comida é boa.
Fiquei muito amigo da Val e do José Pires, donos do ¨Pimenta¨. A Val tem sido uma das minhas maiores incentivadoras. Temos uma parceria antiga, desde Casa de Bonecas, e também são apoiadores de Esperando Godot.
Eles têm uma um olhar bacana para a arte, vão ao teatro e estão apoiando alguns espetáculos.
Gosto de prestigiar os amigos, pois acredito que nós ( artistas) temos que nos prestigiar. Tem muitos espetáculos bons em cartaz, mas eu procuro ver também dança e exposições.
Na área de literatura, eu li todos os grandes autores brasileiros, que foram ao Primeira Página, entre eles o Ferreira Gullar e a Adélia Prado.
Depois eu comecei a ler a obra de autores mais jovens, entre eles, o Edney Silvestre, e agora estou lendo muitos autores portugueses. Tem muita gente boa escrevendo.
NR - Você disse que está ensaiando um novo trabalho com a Adriana Londoño. Já pode falar sobre ele?
CT - O Aimar Labaki é um parceiro antigo da Adriana e ele queria muito fazer um espetáculo sobre o poeta italiano Giovanni Leopardi, do século XIX.
Quando estreei Esperando Godot, ele me chamou para fazer o espetáculo. Começamos a realizar um processo de pesquisas e faremos ensaios abertos na Oficina Oswald de Andrade, agora em novembro.
NR - Outros projetos que queira citar para finalizarmos a entrevista?
CT - Estou escrevendo dois projetos de teatro para o ano que vem. Também comecei a criar roteiros para cinema. Já filmei um e estou escrevendo um longa.
Serviço:
Curva de Vento
116 paginas
Poecontos
R$ 40,00
Lançamento dia 5 de novembro
Das 11h00 às 13h00
Café do Pimenta Romã
HB Ninety Hotel
Alameda Lorena, 521 (estacionamento com manobrista)
Jardins – São Paulo – SP
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