Primoroso, delicado, singelo e sensível, eis algumas das qualidades do excelente O Filme da Minha Vida com direção de Selton Mello. ¨Cinema arte¨ que encanta e mostra que temos muitos artistas que sabem fazer cinema muito bem!
A história não tem nada de original, não precisa ser e nem por isso deixa de ser interessante.
Eis a sinopse: Drama baseado no livro Um Pai de Cinema , do chileno Antonio Skármeta - autor da obra que originou O Carteiro e o Poeta, Serras Gaúchas, 1963. Tony (Johnny Massaro) sente a falta do pai francês (Vincent Cassel), que foi embora sem dar satisfação. Professor de francês, Tony é apaixonado por livros e cinema. Com o passar do tempo, ele descobre informações sobre o seu pai e vive a descoberta do amor por Luna (Bruna Linzmeyer), num pacato cotidiano ao lado de sua mãe (Ondina Clais) e conta com a amizade de Paco (Selton), antigo amigo da família.
Comecei com essa observação para acentuar que a história é corriqueira, de um menino que sente muito a partida de seu pai e não sabe muito bem como lidar com a sua falta. Não sabe muito bem como interagir com a sua mãe, que sofre e não consegue deixar de lado esse amor e partir para novas experiências, aproveitar a vida ( afinal é nova e muito bonita). Essa história, vale dizer, é muito bem construída e contada, com um roteiro de qualidade.
Os grandes méritos do filme, no entanto, estão na direção e na escolha do elenco. Um elenco muito bem escalado, que interpreta com segurança. Citar o trabalho de um ator é complicado, pois todos estão no mesmo nível de excelência. Elenco: Vincent Cassel, Selton Mello, Johnny Massaro, Bruna Linzmeyer, Rolando Boldrin, Ondina Clais, Beatriz Arantes, João Prates, Erika Januza, Martha Nowill, Miwa Yanagizawa. e Antonio Skármeta. Direção: Selton Mello.
Selton já tinha demonstrado muito talento em seus filmes anteriores (Feliz Natal e o Palhaço) e nesse novo trabalho o cuidado com todos os detalhes impressiona. A delicadeza com a qual ele dirige os atores está nítida em cada cena, cada diálogo, olhar, cada expressão, cada gesto, movimento e fala dos atores.
A poesia está impressa no texto e condução das cenas em que a ¨realidade nua e crua¨ tem em vários momentos um teor onírico, salientando assim a mente de um menino jovem que vive a angústia de estar longe do pai, mas também passa por momentos típicos de um jovem, como a descoberta do amor.
A fotografia e a trilha são grandes aliadas da direção. As sequências de imagens são deslumbrantes e a câmera valoriza cada olhar, cada expressão, o que torna o filme ainda mais cativante.
As imagens destoadas para reforçar a alma, as sensações e pensamentos dos personagens; a natureza e as cores do interior do Rio Grande do Sul e planos dignos de um profissional como o diretor de fotografia Walter Carvalho, que junto com o diretor de arte Claudio Amaral Peixoto, realiza um trabalho brilhante.
A trilha nos leva para os anos sessenta e a nostalgia impera numa pulsão de emoções, sensações e deslumbramentos!
É uma delicia assisti-lo. Tem alma, tem luz, boa energia.
E o que é a Bruna Linzmeyer? que atriz! Linda atuando, dá um show!. Que olho e que olhar. A sua forte presença é muito bem aproveitada pela direção. Menina sonhadora, imaginação fértil, apaixonada por fotografia; mulher meio enigmática, apaixonada, apaixonante.
O Tony tinha que ser o Johnny Massaro, que também tem um olhar marcante, um sorriso curioso de quem está descobrindo o mundo, com suas alegrias e mazelas. Massaro tem uma fisionomia de menino muito novinho e isso ajuda muito na construção do personagem. O rito de passagem da adolescência para a maturidade é mostrado com muita segurança por esse jovem ator.
Selton Mello, além de um diretor de talento, é um ator extraordinário! Faz um homem bruto e que cria porcos ( Paco), que se interessa pela mãe de Tony e é amigo e confidente do garoto, mas que, ao mesmo tempo, não quer deixar o amor descompromissado.
Ondina como a mãe Sofia, que sofre com o sumiço do marido, também merece destaque, assim como Martha Nowill como a simpática prostituta; Bia Arantes como a sedutora Pietra e a participação muito especial do veterano ator Rolando Boldrin, que é conhecido como apresentador, mas é um ator carismático – o seu condutor de trem traz muita poesia.
Filme lindo e necessário para deixar a vida da gente mais interessante!
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Como não sou especialista em cinema, eis duas matérias que falam sobre o apuro técnico do longa:
http://casavogue.globo.com/LazerCultura/noticia/2017/07/desconstruindo-estetica-visual-de-o-filme-da-minha-vida.html Por Paula Jacob
http://cultura.estadao.com.br/noticias/cinema,selton-mello-evoca-tolstoi-em-o-filme-da-minha-vida,70001921808 Luiz Carlos Merten, O Estado de S.Paulo |