O casal de atores Chico Diaz e Silvia Buarque integram o elenco do filme Os Pobres Diabos
OS POBRES DIABOS
Direção Rosemberg Cariry
Poeta e cineasta, com ativa participação nos movimentos artísticos e literários do Ceará.
Nascido no município de Farias Brito, na região do cariri cearense, reside atualmente em Fortaleza.
Filmografia: 1986 - Caldeirão Da Santa Cruz Do Deserto;1993 - A Saga do Guerreiro Alumioso; 1996 - Corisco & Dadá;1999 - A TV e o ser-Tao; 1999 - Pedro Oliveira, o Cego que Viu o Mar; 2001 - Juazeiro, a Nova Jerusalém; 2003 - Lua Cambará, Nas Escadarias do Palácio; 2006 - Cine Tapuia; 2007 - Patativa do Assaré - Ave ou poesia; 2008 - Siri-Ará; 2013 - Os Pobres Diabos
Além de Chico e Silvia, formam o elenco: Gero Camilo, Everaldo Pontes, Zezita Matos, Sâmia Bittencourt, Nanego Lira, Georgina de Castro, Reginaldo Batista Ferro, Letícia Sousa Perna e Sávio Ygor Ramos.
Sinopse:
O Gran Circo Teatro Americano leva suas atrações ao sertão nordestino. Na cidade de Aracati, a trupe monta uma divertida peça sobre a crise no inferno. Com uma trama rocambolesca e inspirada na literatura de cordel, a atração mostra a chegada do bandido Lamparino ao inferno e, como Lúcifer, participa do capitalismo internacional. Enquanto isso, nos bastidores, amores e tragédias movimentam a vida dos artistas. No filme, Chico vive o palhaço Zeferino, amante de Creusa (Silvia Buarque).
CHICO DIAZ
É um ator que se dedica especialmente ao cinema e teatro, com participações na TV. Relatar os seus trabalhos na telona é impossível diante de tantas realizações (mais de 40 filmes). Alguns filmes entre os mais conhecidos:
1983 - Parahyba Mulher Macho (de Tizuka Yamasaki); Inocência (de Walter Lima Júnior); 1984 - Quilombo (de Carlos Diegues); 1985 - Chico Rei (de Walter Lima Júnior); 1986 - O Homem da Capa Preta (de Sérgio Rezende); 1986 - O Cinema Falado (de Caetano Veloso); 1987 - Luzia Homem (de Fábio Barreto); 1988 - Fábula de la Bella Palomera (de Ruy Guerra); 1994 - Veja Esta Canção (de Carlos Diegues); 1994 - A Terceira Margem do Rio (de Nelson Pereira dos Santos); 1996 - Corisco & Dadá (de Rosemberg Cariry) – Corisco; 1997 - Os Matadores (de Beto Brant); 1999 - O Tronco (de João Batista de Andrade); 2002 - Amarelo Manga (de Cláudio Assis; 2002 - Lua Cambará - Nas Escadarias do Palácio (de Rosemberg Cariry); 2003 - Benjamim (de Monique Gardenberg) - 2013 – Travessia; 2016 - Em nome da Lei; - 2017 - Cine Holliúdy 2: A Chibata Sideral.
No teatro, destaque para o monólogo A Lua Vem da Ásia, baseado na obra literária de Campos de Carvalho (1916-1998). Outro trabalho que merece atenção é O que Diz Molero, de Dinis Machado, direção: Aderbal Freire-Filho e Augusto Madeira. Raquel Iantas, Orã Figueiredo, Cláudio Mendes, Gillray Coutinho no elenco.
O artista também e pintor e já realizou exposição no Rio de Janeiro.
Sobre a importância do circo, Chico destaca que o picadeiro é fundamental porque atrai as crianças para o universo lúdico do truque, do aplauso, do riso, de um imaginário que é fundamental para qualquer formação.
¨O filme nos faz pensar sobre a arte artesanal. Para nós atores, o circo é o início de tudo porque traz a relação direta com a plateia e o desequilíbrio. O circo está sempre presente nas primeiras informações que temos sobre o fazer artístico. A arte foi se distanciando do circo e se tornando tecnológica. As pessoas estão seguras em casa brincando com aparelhos e perdemos a iminência do risco, da queda, do tapa do palhaço, do cara pegar fogo e cair da moto... Esse filme resgata que o ser humano tem de estar próximo do artista, em carne, osso e sangue¨, diz.
Segundo Diaz, o diretor Rosemberg Cariry faz uma homenagem à perseverança e à tenacidade dos artistas mambembes do Ceará, mas também dos artistas em geral.
¨Ele parece um filme pequeno por tratar aparentemente de um microcosmo, mas ele é grande e faz uma metáfora sobre a condição cultural que o nosso país está vivendo. O Rosemberg insere oportunamente no seu filme o cordel A visita de Lamparina ao inferno, que é um cordel famoso no nordeste, e que traz uma discussão política contemporânea através do circo-teatro¨.
O ator sempre teve uma relação muito próxima com o cinema e sempre faz personagens diversos (no Brasil e também no exterior). Questionado sobre como é interpretar personagens que retratam tão bem a diversidade da nossa cultura, declarou: ¨Eu me tornei um ator que faz muito cinema quando eu percebi que poderia sair dos centros urbanos e ter contato com milhares de universos, na praia, na selva, na Colômbia, na África¨, conta...
Na sua carreira, Diaz tem encontros preciosos com personagens populares. Ressalta que sempre teve interesse em cobrir o homem brasileiro em sua ampla geografia, do Amazonas até Porto Alegre, e toda a América Latina, se possível... ¨ Como artista, nada melhor do que interpretar diferentes personagens e vivenciar variadas possibilidades ligadas à psicologia e ao espírito humano. Essa sempre foi a minha intenção e está dando certo. Nunca me preocupei em estar em evidência na TV, pois o cinema e o teatro me deixam mais próximo do barro. Moldar o personagem é bem mais interessante¨, afirma.
Diaz fez questão de elogiar Rosemberg e destacar que ele tem uma quantidade incrível de material gravado relacionado ao universo das manifestações populares, documentos guardados desde os seus 19 anos de idade. ¨Ele é uma grande fonte de pesquisa. Tem material sobre o Patativa do Assaré, sobre os beatos do nordeste, sobre o reizado, sobre Canudos e sobre revoluções nordestinas de que nunca ouvimos falar¨.
Uma questão interessante sobre as gravações, que aconteceram em Aracati, é que elas se caracterizaram por um encontro entre famílias e as cenas foram criadas a partir de improvisações.
¨Esse filme tem muita poesia e emoção e foi um encontro entre famílias, e o circo é sempre formado por famílias. Ele estava com a família dele e eu estava com a Sílvia e a minha filha. Além disso, o Everaldo e a Zizita, atores do filme, são irmãos. Ficamos num hotel e recebíamos uma ideia do roteiro e indicações do que deveríamos fazer nas gravações, mas cada dia íamos lapidando a história, de uma maneira artesanal. O mais interessante é que trabalhamos com profissionais de circo e a nossa espera era muito lúdica. Enquanto não estávamos filmando, eu treinava malabares, perna de pau, arame¨, sinaliza.
Mesmo com a dificuldade de se produzir no Brasil e permanecer com os filmes em cartaz nas salas de exibição, Diaz tem realizado filmes de destaque (que, infelizmente, são pouco vistos).
Com relação a essa triste realidade, evidencia que o nicho da internet supre um pouco esse problema e, além disso, salienta que realiza trabalhos que não têm como premissa o lucro, e sim o fazer artístico artesanal.
Sobre projetos e estreias: encenará em Portugal poemas do Drummond, homenagem ao modernismo brasileiro, que estreia em 13 de setembro; Montanha Russa, de Vinícius Reis, será gravado em outubro; ainda está adaptando As Brasas para o teatro (estreia para março do ano que vem no Circuito CCBB) e Eder, A Casa do Girassol Vermelho, em Belo Horizonte.
SILVIA BUARQUE é Creusa e está em cena ao lado do marido, Chico Diaz. Irene, filha do casal, faz uma participação especial.
Na sua carreira, o teatro e a TV estiveram mais presentes, mas a atriz participou também de vários longas, entre eles: 1987 - Por Dúvida das Vias; 1988 - Mistério do Colégio Brasil; 1994 - Veja Esta Canção;1996 - Buena Sorte; 1998- Como Ser Solteiro; 1999 - Outras Estórias; São Jerônimo; 2001-O Casamento de Louise; 2012 - Gonzaga - de Pai pra Filho; Vendo ou Alugo; 2016 - Reza a Lenda.
No teatro, destacam-se os espetáculos que fez com a sua mãe, Marieta Severo, Cenas de outono, com direção de Naum Alves de Souza e Quem tem Medo de Virgínia Woolf, direção de João Falcão; Epifanias, direção Moacyr ¬Goes, Ventania, direção Gabriel Villela; Shopping e Fucking, direção Marco Ricca, Um Dia, no Verão, direção de Monique Gardenberg; Um Dia Como Os Outros e Cozinha e Dependências, direção Bianca Byington; Estranho Caso do Cachorro Morto, também com direção de Moacyr Góes. Ideia Fixa, direção de Henrique Tavares e Céus, direção de Aderbal Freire-Filho, o mais recente.
Em Os Pobres Diabos, a atriz vive Creusa, a atriz do circo que está infeliz com a sua vida, tem uma filha, mas quem cuida dela é o seu atual marido, Zeferino (interpretado por Gero Camilo). Uma relação complicada, já que a moça mantém um relacionamento extraconjugal com o palhaço Lazarino, interpretado por Diaz. Com inspiração nas lembranças dos circos itinerantes e na literatura de cordel, o filme faz uma bela homenagem ao universo circense.
Apesar de não ter tido um contato muito grande com o circo, Silvia conta que no Rio, na sua infância, chegou a ter um circo mambembe, bem pobre, instalado na zona sul do Rio! Ela também lembra de ir ao circo com o seu pai, Chico Buarque.
Em cena, a atriz canta, dança e interpreta. Além de dar vida à Creusa, integrante do circo, vive também a personagem Maria Bonita na montagem do circo-teatro que a trupe apresenta em temporada para a população do local onde está instalado.
Silvia, assim como o seu marido Diaz, ressalta a importância da participação dos artistas de circo no longa e conta que o trabalho foi intenso devido aos poucos dias para as gravações. ¨Foi uma carga horária pesadíssima. Nós gravávamos muito e nos encontrávamos depois para ensaiar a peça que acontece dentro do circo¨.
Destaca também que a convivência no set foi apaixonada e que a sua preparação para a Creusa teve foco no canto e contou com o apoio de uma coreógrafa, a qual criou as cenas de dança para a personagem.
O elenco acordava geralmente umas 5h00 da manhã para a gravação e segundo a atriz, à noite ela ainda ensaiava as cenas da Creusa com os preparadores. ¨Foi muito trabalhoso e também prazeroso¨, ¨Foi um set alegre, coeso e muito bem dirigido por Rosemberg , que conseguiu tudo com a sua doçura e sabedoria¨. elogia.
Para Silvia, participar do filme foi um desafio porque a sua personagem tem características diferentes da sua: ¨Não foi nada fácil fazer essa personagem. A Creusa é bem distante de mim, na vulgaridade, no mau humor, na ¨falta de noção¨. Ela quer viver num castelo, é grosseira, sedutora, não cuida da filha. Ela é muito egoísta. O Rosemberg se arriscou muito ao me convidar para fazer a Creusa e estou muito feliz com o resultado¨, salienta.
Neste sentido, Creusa é uma personagem que reflete a trajetória de uma atriz que na sua carreira viveu personagens diversificados, o que nunca foi uma busca, mas as oportunidades foram surgindo. ¨Tenho a sorte de não ter um estigma. Talvez pelo meu rosto que se encaixa em muitas personagens, em 30 anos de carreira eu não fiquei carimbada por nada e isso é muito bom¨, avalia, sinalizando que nunca tinha feito uma nordestina.
A atriz destaca também que o lançamento do filme acabou acontecendo no momento certo e que mesmo com o desmonte social e cultural que estamos vivendo, o cinema é uma atividade que, por ter crescido muito nos últimos anos, consegue uma boa receptividade.
Por outro lado, Silvia faz questão de colocar em evidência a crise, sobretudo na área teatral, em que a sua experiência é maior (sempre deixou muito clara as suas opiniões sobre a nossa política): ¨As dificuldades nessa área estão muito grandes: ¨Os teatros estão fechando. Está muito difícil se fazer teatro. É um ato heróico. Viver de Teatro no Rio de Janeiro está impossível e a classe não é muito unida, apesar de uma resistência forte¨.
Fiquem ligados, após Os Pobres Diabos, Silvia e seu marido, Chico Diaz, farão o filme Montanha Russa. Diaz comentou sobre esse novo trabalho, mas não contou que eles farão um casal em fase de separação.
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