Autoria de Henrik Ibsen
Adaptação, Direção, Cenografia e figurino de Gabriel Villela
Com Chico Carvalho, Dagoberto Feliz, Daniel Maia, Daniel Mazzarollo, Leonardo Ventura, Leticia Medella, Luciana Carnieli, Marco França, Marco Furlan, Maria do Carmo Soares, Mariana Elisabetsky, Mel Lisboa, Nábia Vilela, Rogerio Romera e Romis Ferreira.
Sinopse: Ao sair de sua vila na Noruega para ganhar o mundo, Peer Gynt age de acordo com os seus próprios desejos. O anti-herói encontra pelo caminho duendes, trolls e ninfas, passa por diferentes paisagens, ganha dinheiro ilegalmente, mas logo perde tudo e acaba sendo coroado “Imperador de Si Mesmo” em um manicômio na cidade do Cairo, Egito. Ao retornar à sua terra natal, ele percebe que tudo o que precisava estava ali e agora precisa lidar com as consequências de suas ações.
A vida nos dias de hoje não está fácil e, como sempre digo, só a arte, especialmente o teatro, para nos salvar desse caos.
Em nosso mundo reina o desrespeito, num momento em que as ideias ultraconservadoras têm voz na sociedade, mesmo diante de tanto acesso à informação. A cada dia, a poesia tem menos espaço.
Um teatro que prima pela reflexão e fala da condição humana é essencial para nos dar uma luz sobre como deixar a vida aqui na terra suportável, pelo menos.
Peer Gynt é uma obra de épica, de simbologias, que propõe um mergulho na trajetória de um personagem cheio de nuances e camadas. Peer Gynt é aventureiro, sonhador, mentiroso, interesseiro, louco, mas também tem ações que mostram que ele pode amar e se resignar após uma vida de percalços e muitas ações condenáveis.
Peer Gynt traz para a cena a essência humana, com suas qualidades, seus defeitos, a ânsia da juventude e o aprendizado na velhice.
Saiu da sua terra para desbravar o mundo, mas a sua sina é voltar até as suas raízes para compreender que não precisava ter saído de sua aldeia para se libertar das amarras da sociedade.
Como o diretor Gabriel Villela ressalta: O teatro dividia-se entre Quixote e Hamlet antes de Peer Gynt. “Ibsen ousou ao dar uma terceira possibilidade. Diferente do altruísmo entusiasmado do personagem de Cervantes e da funesta e dramática criação de Shakespeare, Peer Gynt surge como a figura do herói anti-romântico, egocêntrico, conquistador contumaz, um verdadeiro Napoleão do drama contemporâneo, algo inovador na época”, explica.
Realidade, sonho, vida e morte estão lado a lado, numa aventura cheia de simbolismos e que possibilita que o diretor Gabriel Villela imprima na montagem toda a sua criatividade e sensibilidade para trabalhar com a elaboração de cenas oníricas, poéticas, cheias de cor.
O capricho nos cenários e figurinos contribui para realçar o espírito sonhador do protagonista.
Uma história que acontece em diversos ambientes e tempos, com uma linguagem que não é simples, diante de simbologias e alegorias, que, nas mãos de Gabriel Villela, ganham uma leveza e que aguçam a imaginação, porque para que as cenas ocorram nos diferentes cenários em que a trama ocorre, o diretor lança mão de muita imaginação.
Objetos corriqueiros, como uma barraca (que nos remete a uma vida nômade) e camas de hospital, ganham diversas funções na trama, com portas e janelas, para possibilitar entradas e saídas, idas e vindas no decorrer dos anos (além de aguçar a capacidade de imaginação do espectador). Villela sempre lança mão desse artifício nas suas montagens e por isso delas emana poesia, valorizando a nossa sensibilidade e o nosso poder de reflexão sobre a vida e a existência humana.
O diretor também traz referências de trabalhos anteriores na presença de elementos como a lua, as portas, sombrinhas. Em cada montagem, vale reforçar, esses elementos ganham diferentes funções e contribuem para evidenciar a capacidade de Villela de estar sempre em busca do aprimoramento do seu ¨teatro poesia¨, com originalidade, mas também num eterno reinventar-se, com uma maturidade artística que garante trabalhos de imensa criatividade e que despertam nossa emoção.
Se até um certo momento o humor prevalece, com a passagem do tempo a trajetória de Peer Gynt ganha densidade e o texto flui com desenvoltura porque a mão precisa e criativa de Gabriel faz com que a magia cênica não deixe que o espetáculo perca o dinamismo.
O talento dos atores, que conduzem os seus personagens com competência, também garante a qualidade da encenação. É importante citar todo o elenco: Chico Carvalho, Dagoberto Feliz, Daniel Maia, Daniel Mazzarollo, Leonardo Ventura, Leticia Medella, Luciana Carnieli,
Marco França, Marco Furlan, Maria do Carmo Soares, Mariana Elisabetsky, Mel Lisboa, Nábia Vilela, Rogerio Romera e Romis Ferreira.
A interpretação de Chico Carvalho merece ser destacada, pois é o ator que tem a tarefa de dar vida ao Peer Gynt, que além de ser o ponto central da trama, passa por diversas fases. Uma interpretação segura desde o jovem sonhador, até mesmo ingênuo, até o velho que tenta se desvencilhar da morte.
Gabriel traz em seus trabalhos a valorização da cultura popular, as suas raízes mineiras estão presentes e nessa encenação traz figurinos, adereços e máscaras com referências da cultura europeia, peruana, árabe e indígena brasileira.
Uma ¨mistura¨ harmônica que dá sentido à saga de Peer Gynt.
Peer Gynt, com seu espírito libertário e inescrupuloso, ganha uma trilha que tem o rock como base. As músicas costuram as cenas e também ajudam a contar a saga do protagonista.
O trabalho primoroso de direção musical é assinado por Marco França e Babaya Morais, também responsável pela preparação vocal e direção do texto. Eles contam com a ajuda de Daniel Maia e Dagoberto Feliz.
Os números musicais são encantadores, tanto os solos como os de coro. Vale um elogio especial: numa era em que o microfone é usado muitas vezes sem a real necessidade (só para que o ator não tenha nenhum ¨esforço vocal¨), os atores não usam microfone e o resultado é belíssimo. Dá para ouvir com precisão a voz afinada dos artistas, as letras das músicas e os sons dos instrumentos.
Entre as canções do repertório (16 ao todo), que conta com Beatles, Queen e também com preciosidades da nossa MPB: Help! (John Lennon / Paul McCartney), Bohemian Rhapsody (Queen - Freddie Mercury), Yellow Submarine (John Lennon / Paul McCartney), Lucy in the Sky With Diamonds (John Lennon / Paul McCartney), Hallelujah (Leonard Cohen), Lapinha (Baden Powell / Paulo César Pinheiro), Pierrot Apaixonado (Noel Rosa), The End (Jim Morrison) e All You Need Is Love (John Lennon / Paul McCartney).
Gabriel coloca nos palcos toda a sua inquietação com relação às ações humanas e o papel dos artistas nos dias de hoje, propondo um teatro com muita cor, beleza magia, poesia e delicadeza.
O teatro pulsa de uma maneira vigorosa e é através do sonho que o espectador ganha subsídios para refletir sobre o mundo em que vive.
¨Sonhar ainda é um ato de coragem, ¨diz Gabriel Villela, no programa do espetáculo.
Como a produção de Claudio Fontana foi realizada em parceria com o Sesi e a temporada está acontecendo no Teatro que fica no prédio da Fiesp, da Avenida Paulista, a entrada é gratuita. Não existe desculpa para não prestigiar essa pérola cênica.
Além disso, de quarta a sexta as sessões são voltadas às escolas, e isso tem o mérito de levar o jovem ao teatro.
As reservas para alunos de escolas públicas e particulares, grupos de trabalhadores das indústrias e instituições sociais podem ser feitas de segunda a sexta, das 10h às 18h30, pelo telefone: (11) 3146-7439.
As reservas antecipadas para o público em geral são realizadas on-line pelo sistema Meu Sesi (http://www.sesisp.org.br/meu-sesi)
a partir das 8h00 (acontecem nos dias 10 e 25 de cada mês)
Os ingressos remanescentes são distribuídos nos dias do espetáculo, conforme horário de funcionamento da bilheteria.
Ficha Técnica
Direção, adaptação, cenografia e figurinos: Gabriel Villela | Tradução: Leo Gilson Ribeiro | Assistente Figurinos: José Rosa | Assistente Cenografia: Nour Koeder | Cenotécnico: Wanderley Wagner | Direção musical: Babaya e Marco França | Iluminação: Wagner Freire | Assistente de iluminação: Alessandra Marques | Diretores Assistentes: Ivan Andrade e Cacá Toledo | Diretor de Produção: Claudio Fontana | Produção Executiva: Clissia Morais | Costureira: Cleide Mezacappa. Fotos de João Caldas.
Informações:
Teatro do Sesi-SP | 456 lugares
Centro Cultural Fiesp-Ruth Cardoso
Avenida Paulista, 1313 (em frente à estação Trianon-Masp do Metrô)
Até16 de dezembro
quartas a sextas, 15h (agendamento escolar)*
sábados e domingos, 15h30
http://www.sesisp.org.br/cultura/teatro/peer-gynt.html |