O Abajur Lilás completa cinco décadas e integra o Projeto de em homenagem ao dramaturgo Plínio Marcos. No elenco, dirigido por Marco Antônio Braz, estão Natalia Lorda, Antoniela Canto, Camila Pinetti, Eduardo Silva e Tim Ernani.
Como foi escrita em 1969, censurada e liberada em 1980, a obra tornou-se símbolo da resistência da classe teatral com a censura.
Braz privilegia o caráter popular do texto. “É a linguagem das ruas e poesia dramática sofisticada que encanta e força olhar sem medo para o espelho da nossa dura realidade humana. E, conforme previu o dramaturgo, seus textos se tornaram de uma atualidade gritante uma vez que o país não progrediu na compreensão das questões humanas e sociais”, diz o diretor.
Na trama, ambientada no prostíbulo de Giro, um homossexual conta com Osvaldo, um segurança violento, para fazer valer sua autoridade ali. A prostituta Dilma se apega aos valores e ao filho que precisa criar; enquanto a rebelde e inconsequente Célia só deseja tomar o prostíbulo e o poder para si. Leninha é novata e alheia a tudo porque só pensa nela mesma.
A tensão começa nesse lugar degradado quando um abajur aparece quebrado e nenhuma das três assume a culpa.
“A obra teatral de Plínio por si só justifica e consagra esta necessidade. A escolha dos dois textos para a abertura da companhia se dá pelo diálogo que ambos os textos possuem entre si, convidando o espectador a mergulhar na obra do maior dramaturgo paulista e um dos maiores do mundo no século XX”, diz Braz.
“No diálogo entre as obras, além naturalmente do estilo e das situações dramáticas, também se estabelecerá uma continuidade: Em Abajur a única esperança que temos é no personagem do bebê de Dilma, que no futuro irá redimir os sofrimentos e sacrifícios maternos. “Este filho se tornará exatamente o jovem Tonho de Dois Perdidos, daí a escolha e mudança de eixo da idade dos personagens nessa peça, 18 anos. O jovem que deveria representar e ser a esperança de melhores dias e de um futuro mais humano e digno torna-se símbolo de nossa falta de solidariedade, intransigência e violência”, acrescenta Braz.
Um texto de Braz que vale a leitura:
POR QUE PLÍNIO MARCOS HOJE?
Conheci Plínio Marcos pessoalmente em 1998. Organizei um projeto de ocupação do Teatro de Arena Eugênio Kusnet que se chamava: Quem tem medo de Plínio Marcos e Nelson Rodrigues? Ocupamos o teatro em 99 e 2000. Nos encontros Plínio sempre afirmava de forma debochada: Como a merda do país não muda minhas peças não envelhecem! O dramaturgo faleceu em 99. Em 2006 retomei a pesquisa em torno do teatro de Plínio no TUSP onde montamos O Abajur Lilás, Navalha na Carne e Quando as máquinas param. Esta última adaptei para a TV Cultura no mesmo ano. O eco da frase debochada ficando cada vez mais alto e soando profética. Diante da realidade de 2018, encenar os textos do Plínio me parece de uma gritante necessidade para compreender a nós mesmos e o país em que vivemos. Ao propor a realização de Noites Sujas nesse ano pretendo mostrar que o deboche é do brasileiro e do Brasil que insiste em não enxergar no espelho a trágica imagem do seu destino. Os textos de Plínio nasceram clássicos e populares. Encenar Plínio Marcos em 2018 é permitir ao grande público uma profunda reflexão de nossa miséria. Plínio Marcos vive!
Marco Antônio Braz
SOBRE O PROJETO DE OCUPAÇÃO NO TEATRO ARENA EUGÊNIO KUSNET
Noites Sujas é a primeira realização da CIA Plin de Repertório e o projeto conta com duas montagens inéditas, três peças, exposição, HQ, música, leituras e debates formam o panorama em homenagem ao dramaturgo coordenado por Marco Antônio Braz
A exposição ‘Onde Vamos?’ sobre Abajur Lilás e a obra do Plínio, com curadoria de Kiko Barros, filho do dramaturgo, ficará em cartaz permanentemente até o fim da Ocupação. É aberta ao público e grátis.
Na noite de abertura Mário Bortolotto dirigiu a leitura cênica de ‘Barrela’, no espaço Augusto Boal, peça que também ganhará versão em HQ pelo desenhista João Pinheiro. A parte musical foi da “Arena do Samba canta Plínio Marcos” com o samba de raiz de Geraldo Filme, Zeca da Casa Verde, Toniquinho Batuqueiro e outros bambas do samba paulista. Participação e Apoio do Programa O Samba Pede Passagem, no foyer Zé Renato.
Dois Perdidos Numa Noite Suja foi a primeira peça apresentada.
‘O BOTE DA LOBA’ também integra a programação. Foi escrita em 1997 pelo dramaturgo pouco antes de sua morte e fala obre o falso moralismo burguês, numa fase mística do autor e de de ironia crítica à sexualidade da classe média.
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Serviço:
O Abajur Lilás
De 5 a 28 de julho
Teatro de Arena Eugênio Kusnet - Rua Dr. Teodoro Baima, 98 - República
(11) 3259-6409
Quintas, sextas e sábados, às 20h e domingos, às 19h.
Sala Augusto Boal - 99 pessoas
Classificação etária - 16 anos
Duração – 60 minutos
Pagamento somente em dinheiro, cartão de débito e crédito.
Preços – R$ 20, e 10,
O Projeto Noites Sujas foi contemplado com o Prêmio Cleyde Yáconis.
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