Durante a minha estadia em Curitiba, para prestigiar a estreia de GAG, direção de Gabriel Villela, eu, Nanda Rovere, fiz questão de entrevistar a Cia G2 de Dança, do Teatro Guaíra, que pela primeira vez trabalhou com esse grande diretor de teatro.
Villela já dirigiu dois espetáculos para o Teatro Guaíra, A Aurora da Minha Vida, de Naum Alves de Souza, e Hoje é dia de Rock. GAG é, portanto, o terceiro encontro com Curitiba e seus artistas, além, claro, das inúmeras participações de seus espetáculos no Festival de Curitiba.
O encontro entre Villela e a G2 teve como resultado um espetáculo belíssimo, que, como em todas as realizações desse artista mineiro, prima pela magia, delicadeza e poesia.
A obra de Kleist intitulada O Teatro de Marionetes foi o ponto de partida para um trabalho que traz muito colorido, música, teatro, dança, a magia do circo-teatro, títeres e cordões, elásticos, lindos figurinos e a lua iluminando o palco com um desenho de luz que reforça o universo de sonho da apresentação.
GAG aborda a existência humana e as manipulações a que estamos sujeitos no cotidiano; coloca em evidência a magnitude da arte e o papel do artista na sociedade. Mostra o teatro e a dança cumprindo a função de provocar diversão e reflexão através da poesia e da beleza cênica.
Nas palavras de Villela: o teatro abraçou a dança (e abraçou realmente, com maestria).
"Trabalhar com a G2 Cia de Dança do Teatro Guaíra é antes de tudo, uma felicidade cotidiana", no dizer do diretor Gabriel Villela. Os bailarinos da G2 Cia de dança também tecem muitos elogios a Gabriel Villela. Foi um encontro de sucesso, muito aplaudido pelo público que lotou o Guairinha, que riu e chorou de emoção.
A G2 foi criada em 1999. Integram a Companhia bailarinos que já fizeram parte do corpo de baile do renomado Balé Guaíra e provam que para brilhar não existe idade. É a primeira companhia master de dança criada no mundo.
São artistas apaixonados pelo ofício e que possuem domínio absoluto do palco. Vivem para a arte, para a dança. São profissionais que encantam pelos exímios movimentos da dança e também possuem talento para a interpretação - o teatro dando à coreografia uma dramaticidade primorosa.
Nessa entrevista, realizada nos bastidores do Teatro Guaíra, os bailarinos falam de GAG e o encontro com Gabriel Villela e também comentam sobre a história da G2 Cia de Dança, com raízes na capital paranaense e que já se apresentou no Brasil e exterior.
Agradeço a Gabriel Villela e à Cia G2. Áldice Lopes, diretor artístico do Centro Cultural Teatro Guaíra, foi quem idealizou o encontro, e com a contribuição de Claudio Fontana, conseguiu viabilizar a ida de Villela a Curitiba. Obrigada por receber a todos com muita atenção no templo da arte que é o Teatro Guaíra.
Que venham muitas temporadas de GAG em Curitiba e muitas viagens!
O grupo é formado por Ana Silva, Clionise de Barros (Tota), Deisi Wor, Grazianni Canalli, Inês Drumond, Júlio Mota, Leandro Nascimento, Ricardo Garanhani e Rogério Halila.
Dinamismo, talento, carisma e simpatia! A G2 Cia de Dança assina as coreografias e a produção fica por conta do Centro Cultural Teatro Guaíra, um templo da arte em Curitiba. Os bailarinos vivem para a dança. Inês Drumond, por exemplo, está no balé há 41 anos, 21 anos no Balé do Teatro Guaíra e há 20 anos integra a Cia G2, que foi criada em 1999.
A ENTREVISTA ACONTECEU NO CAMARIM, DURANTE A PREPARAÇÃO PARA A SESSÃO DE DOMINGO, DIA 9 DE JULHO DE 2023, UM DIA APÓS A ESTREIA. NA PREPARAÇÃO PARA MAIS UMA SESSÃO LOTADA E MUITO APLAUDIDA, CONVERSARAM COM O BLOG DE OLHO NA CENA:
Clionise de Barros (Tota), Grazianni Canalli, Inês Drumond
NANDA ROVERE /DE OLHO NA CENA - Todos os bailarinos que integram o elenco de GAG estão na companhia desde o início?
G2 CIA DE DANÇA - Ela formou-se aos poucos. Éramos todos jovens no balé do Teatro Guaíra e lá trabalhamos juntos. Depois, quando a G2 foi criada, alguns já vieram para o G2 e outros ainda continuaram na companhia jovem. Não existe uma idade certa para permanecer no balé, porque tem gente que dança até mais tarde e outros que se aposentam mais novos. Tem o caso por exemplo da primeira bailarina do balé do Teatro Guaíra, Regina Kotaka, que dançou até quase 60 anos na ponta dos pés, mas não é todo mundo que consegue fazer isso até essa idade.
NR - Como é trabalhar com o Renet, que é convidado para esse espetáculo, jovem e tão experiente na dança, música e interpretação?
G2 CIA DE DANÇA - O Renet trouxe frescor da juventude para a Companhia! Não nos consideramos velhos, mas ele traz um frescor que é impossível a gente ter em cena na nossa idade! É a primeira vez que trabalhamos com ele e só o conhecíamos como ator.
NR - Como é para o bailarino administrar o dia a dia de ensaios, intenso cuidado com o corpo, problemas que surgem de coluna. Como é o dia a dia para estar em forma para pisar no palco?
G2 CIA DE DANÇA - Trabalhamos muito, ainda mais aqui na G2, onde também criamos a coreografia. Diferente de muitas companhias onde o bailarino executa os movimentos criados por outros profissionais, nós criamos as coreografias num processo colaborativo, de criadores e intérpretes, cada um dá o seu palpite e entramos num consenso.
Quando a companhia foi criada, tínhamos professor de balé clássico e hoje fazemos pilates, alongamento, aulas de teatro contemporâneo; as aulas acontecem de acordo com as nossas necessidades. Além disso, exercemos atividades fora da G2 também, como natação, corrida, pilates.
Trabalhamos em horários estipulados, todos juntos fazemos aquecimento e alongamento, temos um tempo definido para ensaiar e para pesquisar sobre o trabalho que estamos realizando; quando não estamos com nenhum espetáculo, não paramos de pesquisar, assistimos a filmes e lemos para mantermos a nossa mente em atividade e termos novas ideias para futuros espetáculos. Sempre tivemos em mente por qual motivo realizávamos os nossos trabalhos.
NR - E como foi a regência do Gabriel e do Ivan, visto que Villela sabe o que ele quer e como ele quer, e lapida a cena nos mínimos detalhes?
G2 CIA DE DANÇA – Integrantes da G@2 realizaram alguns trabalhos online durante a pandemia, começaram a dançar o La Cena, viajaram com o espetáculo e o encontro com Gabriel Villela começou a ser gestado no ano passado, com vivências no início de 2023 e os ensaios começaram em abril.
No caso de GAG, com o Gabriel e Ivan, nós mostrávamos a coreografia e ele lapidavam os movimentos, tirando ou acrescentando os passos, ou mesmo designando quem deveria ou não realizar os movimentos da coreografia.
Trabalhar com o Gabriel foi uma ótima experiência. Decidíamos juntamente com Gabriel e Ivan os detalhes e Gabriel sempre perguntava a nossa opinião. Foi um casamento perfeito, ele escutava muito a nossa opinião.
NR - Gabriel trouxe várias opções de obras para serem trabalhadas e vocês escolheram Kleist. Por que a escolha?
G2 CIA DE DANÇA – A escolha ocorreu por ser a obra desafiadora. Fazer algo com a direção do Gabriel já foi um grande desafio.
NR - E as viagens...como é se apresentar em diversas paragens? Vocês se apresentam também em espaços não convencionais?
G2 CIA DE DANÇA – Com La Cena, viajamos bastante e quando íamos para são Paulo e Rio veio a pandemia...muitos lugares são carentes de espetáculos e em cada lugar a experiência é diferenciada. Em muitos lugares a nossa presença é um evento para as pessoas e dependendo do lugar e da a cidade para nos receber nos apresentamos em espaços variados. É impressionante como os técnicos adaptam os nossos espetáculos para diferentes espaços. Com o balé de teatro Guaíra, por exemplo, nos apresentamos em frente às cataratas do Iguaçu. Houve uma apresentação numa cidade pequena em que os técnicos puxaram a luz do poste da rua para iluminar o palco, e isso foi muito legal. As pessoas ficaram maravilhadas. Isso acontece porque somos muito unidos com os técnicos aqui do Guaíra e eles são ótimos. Eles fazem milagres e trabalham para que tudo dê certo.
NR - Como é a relação entre balé clássico e moderno/contemporâneo com o teatro no trabalho da G2?
G2 CIA DE DANÇA – O antigo Balé Guaíra já era uma companhia eclética, com a mistura do clássico com o moderno, e o nosso corpo já estava preparado para a diversidade de movimentos, mas como a nossa formação foi clássica, foi sim difícil a transição entre o balé clássico e o popular. Nós sempre gostamos de uma movimentação mais livre, no chão, de ter os pés fincados na terra, mas os movimentos clássicos estão muito presentes no nosso modo de dançar, na postura, nos movimentos do braço, nos exercícios da barra.
Os nossos espetáculos mais marcantes são os que já apresentam um mergulho em outros universos além da dança, como o teatro (em especial o La Cena e Blow Elliot Benjamim). Sempre enveredamos pelo teatro, falando textos em cena e buscando o desenvolvimento da interpretação, além dos movimentos.
NR - O que é a dança para vocês e qual o papel da arte, especialmente nesses tempos pós pandemia?
G2 CIA DE DANÇA - Dança é um ato espiritual. Estar em cena é trabalhar a evolução enquanto ser humano. Eu doo o belo para as pessoas. Eu agradeço por ser artista e acredito que viver da arte é uma grande dádiva porque podemos falar com as pessoas (e tocá-las) através das nossas emoções, dos nossos corpos e das nossas sensações. Dançar é um prazer inenarrável. A dança cura, se não fosse a arte durante a pandemia muitas pessoas teriam pirado e tirado as suas vidas. (Inês Drumond).
NR - Teatro, dança, circo, marionetes, beleza, poesia, magia, eis algumas palavras que definem GAG. Quem é o Gabriel Villela para a G2 Cia de Dança?
G2 CIA DE DANÇA – (por Inês Drumond) – Gabriel é um ícone do teatro, um gênio. Ele tem uma sensibilidade incrível. Tudo o que ele põe a mão se transforma em poesia, é mágico. Presenciar o processo de criação do Gabriel é uma universidade. Ele criou junto com a gente e foi uma experiência grandiosa. Ele mexeu no texto para adaptá-lo para o universo da dança e do teatro com metáforas. Onde ele põe a mão parece que acontece uma mágica. Geralmente os diretores ficam nos direcionando de fora, ele não, ele vai lá no meio da gente e nos guia dizendo ¨faz assim, põe isso aqui¨... ele é muito criativo.
Gabriel e GAG nas palavras de Grazianni Canalli:
“Gag é algo divertido, que tem por objetivo surpreender, que pretende trazer ao público uma certa pureza na alegria do acontecido no palco.
Gabriel foi um presente. Foi um casamento perfeito, desafiador: nós, com toda a nossa bagagem em dança, e ele com todo o seu conhecimento do teatro. Ele nos guiava pedindo mais densidade, em outro momento movimentos mais vibrantes, mais alegres. Ele nos apresentava essas qualificações, esses direcionamentos para a nossa criação da coreografia e isso foi ótimo”.
NR - E Gabriel conta com a parceria do Ivan Andrade....
G2 CIA DE DANÇA - O Gabriel cria e o Ivan lapida e ajuda na dramaturgia e na ligação das cenas. (Inês Drumond)
NR - Como você define GAG?
G2 CIA DE DANÇA – O espetáculo toca as pessoas de acordo com a experiência de vida de cada uma delas. GAG fala da ingenuidade humana e de como muitas vezes somos condicionados a agir sem pensar... Os movimentos dos bonecos são manipulados e ao mesmo tempo são genuínos...Fala de manipulação, fala do quanto nós enquanto bailarinos somos manipulados, porque trabalhar numa companhia estatal exige muita disciplina. GAG fala muito da G2 Cia de dança que surgiu com o objetivo de sermos livres para criar e escolhermos trabalhos que falem de coisas que acreditamos.
Gabriel coloca em cena a liberdade de sonhar que tem uma criança, com respeito, dedicação, criatividade. E Gabriel tem a disciplina e ao mesmo tempo a liberdade de criar. Tudo é lírico e muito profundo.
NR - E como é o público para o balé aqui em Curitiba? Por que as pessoas devem assistir a GAG?
G2 CIA DE DANÇA – por Inês Drumond - O público gosta muito de balé clássico e Curitiba cresceu muito culturalmente, mas antigamente o balé era mais respeitado. Íamos a lugares onde só faltava estenderem o tapete vermelho pra gente, sabiam os nossos nomes. Como eu também trabalho com teatro, sou bem conhecida em Curitiba.
As pessoas precisam assistir ao espetáculo GAG porque vivemos um momento massacrante e esse espetáculo é lírico, é poético. É um espetáculo necessário, é para todas as idades e é dirigido pelo Gabriel, que é sensível e sensato nos direcionamentos artísticos dele. Gabriel encanta as pessoas com tudo o que ele já fez até hoje. É o teatro da delicadeza.
Ficha Técnica completa no programa.
Fotos Maringas Maciel e Vitor Dias e da matéria
Nanda Rovere
Trilha sonora, masterização s mixagem Daniel Maia
La Cena no Youtube
https://www.youtube.com/watch?v=IdrnGrYG2Ic
Direção de Cleide Piasecki.
Um grupo de empregados contratados para trabalhar na mansão do Sr. Stahlbaum durante a preparação da festa de fim de ano. Após alguns incidentes no local de trabalho, todos mergulham em um sono profundo, o que desperta os desejos mais secretos e inconfessáveis pesadelos. Baseado em alguns balés de repertório clássico, principalmente o " Quebra Nozes".
Sobre Blow Elliot Benjamin - G2 Cia. de Dança - https://www.teatroguaira.pr.gov.br/G2/
Espetáculo criado em 2011, com texto e coreografia da diretora teatral Cleide Piasecki. Entre os personagens da história há um aviador que cai do céu, uma serial killer - Jack o estripador - e uma cantora de ópera que morre dentro de um teatro. A história real de um britânico - Elliot, diagnosticado erroneamente com uma doença terminal - foi o ponto de partida para a montagem. Na versão do espetáculo idealizado por Piasecki, Elliot abandona o trabalho, deixa de pagar as contas, gasta com festas e extravagâncias e meses depois descobre o falso diagnóstico. Certo dia, em um acidente banal, morre engasgado e seu corpo é enterrado na mesma sepultura do cão, Blow, fiel amigo do coveiro, Benjamin.
GAG por Áldice Lopes e Nanda Rovere.
http://www.deolhonacena.com.br/index.php?pg=3a2b&sub=726#linha
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