É impossível não falar
mostra paralela do Festival de Curitiba: Mostre Curitiba.
O holocausto. O terror. Vidas perdidas devido à ganância, maldade e doença de pessoas que não entenderam que o precioso da vida é a diversidade.
Os tempos terríveis da Segunda Guerra deveriam ter servido de lição, mas isso não ocorreu.
O mundo continua doente, o neonazismo ganha representatividade, inclusive no Brasil.
Vivemos agora um tempo de esperança, mas a arte tem o poder de salvar, transformar e suscitar a reflexão.
Através da interpretação, corpo, voz, movimento, olhar; da música, imagens no cenário e a luz, com competência, o esletáculo propõe uma viagem a um universo dos terrores do fascismo, de um modo visceral. Depoimentos do dia a dia desumano.
Como é acordar e não saber se acabará o dia vivo? Sem comida, sem higiene, sem nada. Violência, terror, sombras... um certo dia, a luz. A guerra termina. O terror é tão grande que esquecer dos dias nebulosos é impossível. Quem viveu tudo aquele horror carrega a dor na alma.
Com direção de Carolina Meinerz, o espetáculo é inspirado na obra “É isto um homem?”, de Primo Levi que expôs a sua dor na forma de arte e de conscientização que é preciso lutar sempre pela paz e pelo respeito: o maior testemunho de um sobrevivente judeu ao campo de extermínio de Auschwitz.
O objetivo é sim a crítica a um momento que nunca mais pode se repetir. O mundo nunca mais presenciou algo tão trágico, mas as guerras ainda assolam o mundo. A ascenção fascista na Itália e os quatro anos de um governo autoritário e sociopata, aqui no Brasil, mostra que precisamos de muita atenção para que o ódio não vença e domine o mundo.
O livro apresenta, em primeira pessoa o relato de quem viveu os horrores do campo de concentração. Já a peça faz um paralelo com os nossos dias e as vozes são múltiplas. A necropolítica preciasa ser combatida e a arte pode, e deve, contribuir para que isso ocorra.
A dramaturgia é de Pedro Kosovski. O elenco conta com Kauê Persona, que leu o livro e foi quem carregou o desejo de levá-lo ao teatro; Mauro Zanatta e Arthur Augustus. Atores merecem aplausos, ora com monólogos, ora interagindo, mas a dinâmica é cada ator narrar um conteúdo específico sobre o cotidiano no campo de concentração. Kauê Persona, que acompanho a trajetória, sempre tem uma ótima presença de palco, ator visceral, entregue a uma interpretação que transmite o quanto o terror de Auschwitz é impactante e inaceitável.
A triste simbologia dos sapatos em cena merece menção. Os sapatos que os judeus eram obrigados a calcar, mas não podiam pegar um par e sim um só...coisas absurdas praticadas pelos nazistas doentes.
Os sapatos que caem no palco...cada sapato perdido, é um ser humano que acaba de morrer na câmara de gás...
Até 9 de abril.
O projeto oferece, nos dias 6 e 7 de abril, a oficina “Contra a adaptação: literatura, dramaturgia e uma difícil negociação” – ministrada pelo dramaturgo e diretor Pedro Kosovski e, nos dias 13, 14, 15, 20, 21 e 22 de abril, a oficina “A Cena e a Filosofia”, ministrada pela diretora e filósofa Carolina Meinerz. A participação é gratuita e as inscrições podem ser realizadas em: https://linktr.ee/rumodecultura
SERVIÇO
é-impossível-não-falar
Mostre Curitiba – Festival de Teatro
05 a 09 de abril – qua. a dom. às 19h
Temporada
13 a 23 de abril – qui. a sab 20h – dom. 19h
GRATUITO
Ingressos a partir de 1 hora antes na bilheteria
CAIXA Cultural Curitiba
Rua Conselheiro Laurindo, 280
www.caixacultural.gov.br
Informações: 41 4501822220 |