Espetáculo CÁRCERE ou Porque as Mulheres Viram Búfalos no @festivaldecuritiba dias 3 e 4 de abril no Teatro da Reitoria.
Musical potente que celebra a força das mulheres diante das adversidades.
Um espetáculo que traz um olhar poético e dolorido sobre como é ser pobre, preto e periférico num país onde o racismo ainda emana.
O grito de socorro de uma família que tem o seu maior tesouro, ainda muito jovem, preso injustamente.
A mãe do jovem estudante Gabriel queria uma vida digna para o seu filho e ele era dedicado para garantir o seu futuro, procurava ser uma pessoa honesta.
Preto e periférico, ele foi preso por um policial preto periférico. Se ele fosse branco dificilmente teria sido preso e mais, preso com tanta violência. Ele não é culpado, mas como provar isso diante de um branco religioso que jura que o menino o assaltou?
A sua mãe e a sua tia são dignas trabalhadoras, mas pobres e sem condições de pagar fiança, muito menos um advogado particular.
Uma sina da família: homens presos por gerações.
Viver em comunidade, cuidar da família é tarefa muitas vezes árdua, ainda mais quando as mulheres estão só.
Cárcere fala de mulheres lutadoras, marcadas pelo encarceramento dos homens da família.
Além de toda a agonia por causa do ente querido, tem o preconceito. Não importa se essas mulheres são dignas e carregam um estigma de dor, elas são tratadas como se tivessem também cometido um crime.
São várias as histórias. Momentos do cotidiano de quem sofre misoginia, sofre com o racismo e ser pobre também é um fardo.
Há luz no fim do túnel, mas raramente alguém consegue sair da prisão e reconstruir a vida sem carregar as marcas de um lugar onde o crime oferece o sonho de uma vida melhor.
O garoto desenhista sonhador precisa lidar com um sistema carcerário violento.
Voz, corpo, texto e música delimitam um emaranhado de situações em que o cárcere dificulta a sobrevivência não só de quem está preso, mas de toda a família. Poucos elementos de cena estão presentes, como mesas, cadeiras e gaiolas, porque o foco está no talento dos atores, no texto, nas músicas e nas danças que expressam sabores e dissabores da vida, evocando os nossos ancestrais, a religiosidade, os orixás. Vestimentas vermelhas e brancas remetem à paz, à força ao amor e ã ancestralidade negra, visto que boa parte de quem está nas prisões é preto. Os encarcerados usam roupas neutras, presos que ocupam cadeias cheias, celas sem higiene. Um mundo sem cor.
A dança, a música e a força dos orixás regem momentos poéticos e outros dramáticos.
O cenário é uma grande parede que ganha diferentes significados de acordo com o desenho de luz e a abertura de pequenos espaços que se transformam na casa da comunidade e na prisão.
A arte pulsa para falar da força para enfrentar as adversidades e para sinalizar o quanto inferiorizar as pessoas pela cor e raça é mesquinho. O limite entre vida e morte no ambiente carcerário é tênue.
Encenação: Miguel Rocha. Assistência de Direção: Davi Guimarães. Texto: Dione Carlos. Elenco: Antônio Valdevino, Dalma Régia, Danyel Freitas, Davi Guimarães, Isabelle Rocha, Jefferson Matias, Jucimara Canteiro, Priscila Modesto e Walmir Bess. Direção Musical: Renato Navarro. Assistência de Direção Musical: César Martini. Musicistas: Alisson Amador (percussão), Amanda Abá (violoncelo), Denise Oliveira (violino) e Jennifer Cardoso (viola). Cenografia: Eliseu Weide. Iluminação: Miguel Rocha e Toninho Rodrigues. Figurino: Samara Costa. Assistência de Figurino: Clara Njambela. Costureira: Yaisa Bispo. Operação de Som: Lucas Bressanin. Operação de Luz: Nicholas Matheus. Cenotecnia: Wanderley Silva. Provocação vocal, arranjos e composição da música do ‘manifesto das mulheres’: Bel Borges. Provocação vocal, orientação em atuação-musicalidade e arranjos - percussão ‘chamado de Iansã’: Luciano Mendes de Jesus. Estudo da prática corporal e direção de movimento: Érika Moura. Provocação Cênica: Bernadeth Alves, Carminda Mendes André, Maria Fernanda Vomero. Comentadores: Bruno Paes Manso e Salloma Salomão. Mesas de Debates: Juliana Borges, Preta Ferreira, Roberto da Silva e Salloma Salomão, com mediação de Maria Fernanda Vomero. Orientação de Dança Afro: Janete Santiago. Direção de Produção: Dalma Régia. Produção Executiva: Davi Guimarães e Miguel Rocha. Fotos: Rick Barneschi, Tiggaz e Weslei Barba. Idealização e Produção: Companhia de Teatro Heliópolis. |