Nós inventamos as nossas identidades. Tudo o que não é da natureza é invenção humana"
Vera Holtz
Ficções foi escrito a partir do livro "Sapiens" – uma breve história da humanidade, do professor e filósofo Yuval Noah Harari.
Um espetáculo que deixa os nossos neurônios fervilhando e que tem arrebatado plateias no Rio, São Paulo e agora no Festival de Curitiba.
Ora com humor, ora com mais densidade, a peça provoca reflexões sobre o homem e a sua essência.
A Terra, os animais, nós e o próximo estão em foco. Temos que escutar o clamor da natureza e prestar mais atenção nos bichos que têm muito a nos ensinar...
Pensamos, com esse lindo espetáculo, no papel do teatro, no que é real, no que é ficção. Vivemos em um mundo onde o ter é mais valorozo do que o ser e a empatia não está presente como deveria no nosso dia a dia. Ficções nos dá a dimensão do quanto é importante olhar para o próximo.
Bom, esmiuçar o que essa peça expõe não é fácil porque é reflexão do início ao fim. Importante frisar, no entanto: em nenhum momento ela é tediosa, pelo contrário! Ficções é um espetáculo dinâmico, inteligente. Fala da capacidade humana de criar e acreditar em ficções, coloca em questão as nossas crenças, o papel da arte, o papel do teatro (que vive da mentira, mas que sempre tem um fundo de verdade porque retrata o homem e a sua complexidade).
Em pleno 2023, tanta informação e tecnologia e mesmo assim a evolução humana não atingiu um patamar satisfatório.
As guerras, a misoginia, o racismo, a homofofia (e transfobia), entre outras fobias ocasionam violências verbais e físicas.
Todos esses conteúdos, um emaranhado de ideias e narrações, ganham voz através de uma grande atriz.
Vera é uma atriz também na peça, é casada com um professor de História. E uma trama se desenrola juntamente com narrativas, reflexões e participação da plateia.
Vera é a natureza e os animais pulsando, é a narradora dos pensamentos de Hanari e também é ela própria, Vera, atriz, mulher, brasileira e que ainda tem esperança. Hanari não é esperançoso, mas Vera Holtz e Rodrigo Portella, o diretor, acreditam que a humanidade tem jeito sim!
Para costurar as cenas, reforçar pensamentos, dar mais drama a alguns momentos e em outros suavizar o texto extremamente impactante, a trilha foi concebida no ensaio, cenas e músicas criadas em conjunto.
Federico Puppi executa a trilha primorosa em cena e interage com Vera.
E como é a atuação de Vera Holtz? Precisa, intensa, densa e também descontraída, tocante, arrepiante. Linda, plena, presença forte no palco. O palco está pleno com a sua energia.
O espetáculo alimenta a nossa alma - nossos pensamentos ganham asas através de um trabalho que merece aplausos ininterruptos e longos!
Os silêncios também falam, causam impacto.
Uma pedra gigante, um meteoro criado pela cenógrafa Bia Junqueira, ocupa um espaço importante no palco.
O mundo prestes a explodir... a direita ganhando força no mundo, a Covid mais controlada, mas ainda persistente e deixando marcas de profunda tristeza, gritos pela liberdade, gritos contra preconceitos, a urgência da paz entre os povos que não se cansam de brigar por poder e terras... difícil acreditar que dias melhores virão, mas temos que crer para que a vida tenha sentido. O teatro nos salva, nos encanta e aprimora o nosso senso crítico. Quando o projeto teve início, o texto era atual, hoje ele é atualíssimo... yanomamis massacrados, mulheres continuam a sofrer com o menosprezo e a violência; o trabalho análogo à escravidão ecoa de uma maneira aviltante, desprezível...
Ficções é daqueles espetáculos que a gente nunca esquece. Ficções é um espetáculo necessário.
Peppa Pig, Marilyn Monroe, cu é cool...qual o significado disso tudo na teia de reflexões e pulsões do espetáculo?
Corram para o Teatro Faap e lá vocês entenderam...ou, sairão com mais perguntas do que respostas...afinal, viver e conviver é um eterno aprendizado!
Vera Holtz é uma aula de interpretação, uma atriz sempre atenta aos acontecimentos e sempre em busca do seu aprimoramento enquanto artista e cidadã.
No Festival de Curitiba
30 e 31 de março às 20h30
Onde: Guairão
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