Natália Gonsales em cena é de tirar o fôlego. No espetáculo A Última Dança, a atriz encena monólogo inspirado em diário da escritora e filósofa francesa Simone Weil, que era operária e registrou o difícil cotidiano dentro das fábricas.
As pesquisas publicadas por Eclea Bosi (“Simone Weil - A condição operária e outros estudos sobre a opressão”) também foram usadas para a criação do espetáculo, que foi adaptado para o teatro pelo dramaturgo, diretor, coordenador do Núcleo de Dramaturgia do SESI, César Baptista.
Natália participou de todo o processo de adaptação, já que o projeto é seu e muitos questionamentos na peça também são seus e de César Baptista, claro.
Simone Weil tinha uma vida confortável, mas deixou tudo de lado e foi viver um cotidiano de privações ao lado de operários. Um trabalho escravizante, extenuante, sob a fome e a loucura de ter que produzir e produzir. Estar doente? Expor sentimentos? Lutar contra a opressão? Nada disso é permitido devido a um único alvo: produzir e produzir para uma elite que tem o único objetivo: o enriquecimento.
Os direitos trabalhistas vieram depois, com muito custo, e essa peça é necessária, um grito contra a exploração e escravidão, que ainda continuam existindo em pleno 2016. Aliás, existe um movimento com o objetivo de tirar cada vez mais os direitos conquistados... O futuro é incerto e amedronta.
Num primeiro momento, a atriz conversa com a plateia e logo em seguida dá voz a Simone, às suas angústias, dores e inquietações. Um cotidiano onde o ser humano perde a sua identidade em nome de uma rotina marcada pela fome, calor no ambiente de trabalho, doenças, acidentes. Um ambiente sub-humano.
Natália mostra todo esse cotidiano através de um trabalho intenso, que emociona. A voz e o corpo são essenciais para a representação desse esforço absurdo do trabalhador para cumprir as metas absurdas do trabalho.
Um ritmo de trabalho tão intenso que coloca o ser humano à beira da loucura e o esgotamento físico e mental é inevitável.
Máquinas de linha de produção ocupam o palco ( cenografia criada por Flavio Tolezani a partir de objetos de trabalho que eram da fábrica do avô de Natália) e as movimentações dos equipamentos são feitas pela atriz de forma ensandecida porque para conseguir atingir as metas de alta produção as máquinas não podem parar nenhum segundo.
Natália é bailarina e o seu condicionamento físico é incrível. Além disso, os movimentos coreografados transmitem emoções que a fala não tem a capacidade de transmitir,porque o corpo desse trabalhador está tão debilitado que não há forças para a comunicação verbal e o semblante traz a fisionomia de uma mulher envelhecida devido à rotina extenuante.
A luz e a trilha sonora ( e efeitos sonoros) contribuem para que a ambientação transmita a insalubridade das fábricas, o desespero do trabalhador. O barulho contínuo e irritante das máquinas, o vermelho do calor, a penumbra do local de trabalho, o azul de uma mulher que tenta manter a sanidade, a vestimenta bege e a cor bege traduzindo em cena a inércia perante uma vida exposta ao desrespeito e à miséria financeira e intelectual.
Como escrever sobre essa triste realidade sem vivenciá-la? Simone Weil teve a coragem de largar uma vida confortável para se dedicar a conhecer esse cotidiano de privações. Morreu nova, doente, aos 34 anos, e deixou os escritos que serviram de base para esse espetáculo impactante e que tem que ser visto!
Ficha Técnica
Concepção e Atuação: Natalia Gonsales. Encenação: Natalia Gonsales, César Baptista, Fernanda Bueno e Janaína Suaudeau. Provocadores: César Baptista e Janaína Suaudeau. Criação Dramatúrgica: César Baptista. Direção de Movimento e Coreografia: Fernanda Bueno. Composição Sonora: Daniel Maia. Iluminação: Igor Sane. Cenário: Flávio Tolezani. Figurino: Natália Gonsales. Designer Gráfico: Murilo Thaveira. Fotografia: Flávio Tolezani. Produção Executiva: Anna Zêpa. Direção de Produção: Natalia Gonsales
Serviço:
Reestreia 19 de setembro.
Duração: 60 minutos.
Classificação: 12 anos
Local: Viga Espaço Cênico – Sala Viga.
Rua Capote Valente, 1323. São Paulo / SP
Capacidade: 80 lugares.
Informações: (11) 3801-1843
Temporada: 19 de setembro a 28 de novembro.
Segundas-feiras, às 21h
Ingresso: R$ 30
Horário de funcionamento da bilheteria: duas horas antes do espetáculo, com possibilidade de reserva por telefone a partir das 14h, para chegada até 15 min. antes do início da sessão. Gênero: drama. Até 28 de novembro.
Natália e Flávio Tolezani estão em cartaz com Fala Comigo Antes da Bomba Cair
Direção de Carla Candiotto.
Da junção dos textos Fala Comigo Como a Chuva e me Deixa Ouvir, que faz parte do conjunto de peças curtas em um ato do autor americano Tennessee Williams, e Vamos Sair da Chuva Quando a Bomba Cair, do paranaense Mário Bortolotto, o público acompanha um jogo intenso entre um casal que desejam muito construir uma vida em comum, mas que são muitos diferentes e a convivência é tumultuada.
Teatro Eva Herz – Avenida Paulista, 2073 (Conjunto Nacional)
166 lugares
(11) 3170-4059
Terças, às 21h.
R$ 50
Até 25 de outubro.
http://www.deolhonacena.com.br/index.php?pg=3a2b&sub=117#linha
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