José Roberto Jardim dirige e assina a adaptação. Com a companhia Academia de Palhaços, fundada por atores oriundos do curso de artes cênicas da Unicamp
O texto aborda diversas questões universais, atuais e que revelam a busca do autor Matei Visniec na abordagem das mazelas humanas, que ele conhece muito bem, já que começou a escrever quando a sua terra natal, a Romênia, era governada pelo ditador Nicolae Ceausescu. Vive na França há mais de 30 anos, quando fugiu de seu país por causa da censura imposta pela ditadura.
O seu teatro é político, mas não panfletário. Político porque acredita no teatro como forma de reflexão sobre o homem e suas ações.
Fala do amor e da dor em obras que trabalham com o onírico e o fantástico, característica que amplia a capacidade que as suas criações possuem de suscitar no espectador indagações sobre o mundo em que vive.
O autor é chamado de ¨o novo Ionesco¨, mas a sua admiração e inspiração em outros autores, entre eles, Beckett, é notória . Ele faz menções do dramaturgo alemão em suas peças, como em O último Godot, ou mesmo em Um Trabalhinho Para Velhos Palhaços (quando Beckett é citado por um dos palhaços).
Nessa obra, Visniec aborda o fazer artístico a partir do reencontro de três grandes artistas circenses do passado em uma agência de empregos. Depois de tanto trabalho e luta pelo reconhecimento, eles estão disputando uma vaga de trabalho.
Além de falar da arte, com humor corrosivo, o espetáculo mostra o quanto vivemos num mundo imediatista e individualista. Também toca na questão da velhice e a dificuldade para se conseguir emprego após uma certa idade.
Os palhaços precisam da vaga e o clima não é muito amistoso. Os diálogos nos levam a crer que eles já dividiram o picadeiro, já se ajudaram, mas também já tiveram atitudes condenáveis para conseguirem destaque na profissão, já que a competitividade é acirrada no meio artístico.
Os personagens estão numa espécie de limbo, entre a vida (que são os holofotes do palco e picadeiro) e a morte (a incerteza profissional). Relembram um passado de glórias, mas com altos e baixos (como em qualquer carreira). Estão numa caixa, presos entre quatro paredes e perderam a noção do tempo e mesmo a memória está falha.
O tom das cenas é a de comédia do absurdo, com gestos, movimentos e expressões minimalistas e precisas.
A ideia é aguçar a sensibilidade do público através de uma encenação que prima pela palavra, mas que também está focada no sensorial. O silêncio, num mundo onde o avanço tecnológico contribui para que as pessoas fiquem conectadas 24h por dia, é essencial para buscarmos a nossa verdadeira essência.
Essa premissa é colocada em prática de maneira criativa. O tom escuro das roupas e a maquiagem, bem como projeções durante toda a apresentação, colocam os personagens diante de imagens gráficas que parecem estar perdidas num espaço desconhecido, num futuro desconexo e onde a repetição das ações ressalta o quanto a vida dessas pessoas perdeu totalmente o sentido. Como declara José Roberto Jardim no texto de divulgação da peça: ¨“Cada cena é um recorte num espaço-tempo descontínuo e fragmentado, são fotogramas vagando nas memórias individuais e coletivas daquela trupe circense, são vozes do passado ecoando em busca de algum sentido”.
Parabéns aos atores, sobretudo pelo domínio do corpo, do movimento, e dos diálogos. O espetáculo tem uma dinâmica (se eu contar aqui, perde a graça) que não é simples, mas eles conseguem manter o ritmo e não erram o texto. Diálogos, movimentos, luz, trilha e projeções têm que estar em perfeita sintonia para a encenação acontecer. Impressionante o efeito das projeções no palco.
José Roberto Jardim é um ator de talento reconhecido, e como diretor tem traçado um caminho de inquietação, pois está sempre em busca de desafios. Assina um trabalho criativo, que não visa a mera diversão. A intenção é fazer com que o espectador saia do teatro com a cabeça fervilhando.
Para conhecer a trajetória da Academia de Palhaços:
https://www.facebook.com/AcademiadePalhacos/?fref=ts
http://www.academiadepalhacos.com/
Ficha Técnica:
Texto Original: Matei Vişniec. Direção e Adaptação: José Roberto Jardim. Elenco: Laíza Dantas, Paula Hemsi e Rodrigo Pocidônio. Direção Musical: Tiago de Mello. Cenografia e Vídeo-Instalação: BijaRi. Figurino: Lino Villaventura. Visagismo: Leopoldo Pacheco. Iluminação: Paula Hemsi e José Roberto Jardim. Direção de produção: Carol Vidotti. Fotografia: Lígia Jardim e Victor Iemini. Suporte Institucional: Cooperativa Paulista de Teatro. Patrocínio: Programa Municipal de Fomento ao Teatro para a Cidade de São Paulo. Realização: Academia de Palhaços
Serviço:
De 10 de agosto a 22 de setembro
Nos dias 31/08 e 01/09 não haverá apresentações.
Duração: 70 minutos
Classificação Etária: 12 anos
Onde: TUSP - R. Maria Antônia, 294 - Vila Buarque.
Quartas e quintas, às 21h.
Entrada gratuita.
Duração: 70 minutos
Classificação Etária: 12 anos
Gênero: Drama
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