O diretor Gabriel Villela carrega o desejo de montar A Tempestade, última peça escrita por William Shakespeare, há um bom tempo, e as condições surgiram no tempo exato porque ele demonstra muita maturidade como profissional.
A maestria desse trabalho se deve a um conjunto de profissionais: o talento ímpar e a sensibilidade de Gabriel é indiscutível, mas também é preciso citar a competência da produção, dirigida pelo Claudio Fontana, do elenco e de toda a equipe.
Villela coloca a história num picadeiro, cheio de poesia. A trama mistura amor, vingança, manipulação, magia, conspirações e perdão. No elenco, estão Celso Frateschi, Hélio Cicero, Chico Carvalho, Letícia Medella, Romis Ferreira, Dagoberto Feliz, Marco Furlan, Rogerio Romera, Leonardo Ventura, Felipe Brum e Rodrigo Audi. Reunião de excelentes atores, que se encaixam perfeitamente na estética de Villela.
A ação acontece numa ilha desconhecida. Lá, Próspero (Celso Frateschi) planeja o retorno ao poder através de um plano de vingança. Ele e sua filha Miranda foram levados para o lugar à força devido a traições políticas.
Próspero tem a seu serviço Caliban, monstro e escravo, e Ariel, espírito servil e assexuado, que pode se metamorfosear em ar ou fogo.
Próspero tem poderes extranaturais, pois se dedica ao estudo da magia. Através de manipulações, idealiza o seguinte plano: invoca, com a ajuda de Caliban e Ariel, uma forte tempestade, para que ela leve para a ilha o seu irmão Antonio, que lhe roubou a posição de duque e para isso contou com a ajuda do seu parceiro, Alonso, rei de Nápoles. O seu plano dá certo e chegam na ilha Antonio, Alonso e o seu filho Ferdinando, que acaba se apaixonando por Miranda.
Cenário, adereços, objetos de cena, luz, trilha e figurinos contribuem para que a arena se transforme num picadeiro, de onde emana pura magia, com uma trilha sonora que merece atenção especial porque ajuda a transportar a história para uma ilha que pode estar localizada em qualquer lugar do mundo, inclusive no Brasil, Minas Gerais, ou mesmo na nossa imaginação.
Em cena, vemos o encontro entre o céu e o mar, provocando uma tempestade de sensações. A terra e o barro nos fazem mergulhar num mundo em que tudo é possível.
Nas montagens de Villela, e também no caso desse trabalho, a voz dos atores é instrumento de extrema importância. A trilha é tocada e cantada ao vivo pelo excelente elenco.
Para a criação dos personagens e execução das cenas, os atores contaram com a ajuda da italiana, antropóloga e pesquisadora da voz, Francesca Della Monica, parceira de Villela em diversos trabalhos.
Para a preparação vocal e a direção dos textos, o diretor contou com a também parceira de longa data, Babaya, que também cuidou dos arranjos vocais, e com Marco França, do grupo Clowns de Shakespeare, responsável pelos arranjos instrumentais, junto com Babaya. A dupla assina também assina a direção musical, num trabalho de muita qualidade.
Potes de cerâmica achados em antiquários servem para reproduzir a voz humana na acústica grega. A fala dos atores nesses objetos contribui para ressaltar o caráter mítico da montagem.
A presença desses profissionais faz muita diferença na qualidade dos diálogos e na hora das canções. É possível entender perfeitamente o que o ator fala e a entonação da voz expressa com perfeição a emoção que a cena exige. Além disso, o canto é belo e faz com que a poesia da encenação ganhe mais força.
No repertório da peça, estão canções populares brasileiras de domínio público, que falam dos nossos mares e rios. Além disso, algumas músicas foram escolhidas através de uma pesquisa musical feita por Babaya no CD Velho Chico.
Nas encenações de Villela, os cenários e os figurinos sempre chamam a atenção pela beleza. Além disso, são adequados porque ajudam a criar um clima onírico.
Os figurinos, em tons de terra, nos remetem ao barro, às nossas origens, e trazem como destaque os bordados assinados por Giovanna Vilela, os quais contribuem para que as roupas encantem pelo deslumbramento.
Já a cenografia traz vários objetos míticos e de magia utilizados por Próspero, além de objetos que remetem a um navio naufragado.
Gabriel é mineiro de Carmo do Rio Claro, sul de Minas, cidade famosa pelos teares e com belas paisagens, e sempre tem como inspiração as belezas e a arte de sua terra natal. Galhos de árvores, que se transformam em cajado mágico e numa cobra, por exemplo, vieram do fundo das águas da represa de Carmo.
O diretor dá, portanto, asas à sua imaginação e criatividade, assinando um espetáculo que encanta pela plasticidade e pela qualidade do elenco, que dá vida aos personagens de modo desenvolto e interpreta as canções com maestria.
Villela desperta no círculo/ilha/picadeiro/lugar encantado o nosso olhar para o belo e os nossos sentidos para a emoção e sensibilidade, numa história essencial na atualidade, porque a vingança se transforma em perdão, mostrando que respeitar e amar o próximo são as únicas maneiras de se garantir um mundo melhor.
O mundo está caótico, mas esses momentos mágicos, do teatro e de confraternização com pessoas queridas, mostram que ainda existe muita poesia no cotidiano.
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Ficha Técnica e Serviço:
Tradução: Marcos Daud. Direção: Gabriel Villela. Figurino: Gabriel Villela e José Rosa. Cenografia: Gabriel Villela e Márcio Vinicius. Direção Musical: Babaya e Marco França. Direção de texto e preparação vocal: Babaya. Antropologia da Voz: Francesca Della Monica. Iluminação: Wagner Freire. Direção de Produção: Claudio Fontana. Produção Executiva: Francisco Marques. Realização: BF Produções. Patrocínio: AB Concessões, Sul America Seguros e 2S Inovações Tecnológicas.
Teatro Tucarena: Rua Monte Alegre, 1024 – Perdizes – telefone:(11) 3670-8453. Temporada: Sextas às 21h30, sábados às 21h00 e domingos às 19h00. Ingresso: R$ 50 (sex), R$ 50 e 70 (sáb e dom). Recomendado: 12 anos. Até 22 de novembro. Duração: 90min.
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