O que nos mantém vivos?
A peça une artisticamente o Teatro PromÃscuo e o diretor Rogério Tarifa.
Elenco Renato Borghi, Débora Duboc, Elcio Nogueira Seixas, Nath Calan e Cristiano Meirelles.
Falar em Renato Borghi é reverenciar um dos nossos grandes atores que vive para o teatro.
São 65 anos de uma carreira brilhante com muitos trabalhos memoráveis, com destaque para O Rei da Vela, de Oswald de Andrade, que estreou em 1967 no Oficina e que 50 anos depois fez temporada com Renato e Zé Celso novamente em cena. Borghi pleno, magnÃfico!
Borghi retorna ao Teatro Oficina cinco décadas depois com o espetáculo “O QUE NOS MANTÉM VIVOS?â€.
Borghi e Zé Celso fundaram o Teatro Oficina e essa temporada nesse templo da arte homenageia o Zé com muita emoção.
Zé e Renato, um amor eterno, amizade eterna. Nasceram no mesmo ano e no mesmo dia. Se conheceram na Universidade São Francisco da USP cursando Direito. Um encontro de almas e o presente quem recebeu? Os amantes do teatro que possuem o privilégio de acompanhar a carreira de dois monstros sagrados do palco.
Zé partiu para o outro plano, mas a sua luz emana lindamente na arte.
O que nos mantém vivos? é a celebração do teatro e da vida, especialmente a vida de Borghi, sem deixar de lado a reflexão sobre o mundo atual pós pandemia e pós um governo de tendência fascista. Um manifesto em pról da vida, clamando por um maior respeito pela arte e gritando por um mundo mais justo.
O QUE NOS MANTÉM VIVOS? é o teatro do PromÃscuo, fundado em 1993 por Borghi e Elcio Nogueira Seixas, pulsante e vibrante , produzindo uma peça definida como Ato-Espetáculo-Musical.
Com direção de Rogério Tarifa e dramaturgia de Elcio Nogueira Seixas, esse trabalho é a continuação de um estudo pertinente sobre Brecht, crÃtico e extremamente atual, realizado por Borghi em O QUE MANTÉM UM HOMEM VIVO? criado em 1973 por Renato Borghi e Esther Góes, e que foi remontado anos depois por Borghi, Elias Andreato e Marcio Aurélio, e finalmente em 2019, pré pandemia estreou no Sesc Consolação a sua última versão.
Esse trabalho mostra a magnitude de um artista que vê no teatro um meio de transformação.
A estreia nos anos setenta de O que mantém um homem vivo? ocorreu, é importante dizer, num momento muito tenso devido à ditadura militar e à censura por ela imposta. Foi um ato de coragem de dois atores magnÃficos, na época casados, que além do talento, têm em comum a vontade de fazer um teatro questionador.
Se este espetáculo já merece todos os aplausos possÃveis, O que nos mantém vivos? têm um frescor crÃtico fascinante, colocando em xeque o desespero da fome, a pobreza que gera ações muitas vezes condenáveis, mas necessárias para a sobrevivência, a ganância que promove a injustiça e a ignorância que mata e desrespeita o próximo em nome de ideias doentes e deturpadas defendidas por hipócritas nojentos e falsos moralistas. ImpossÃvel não ficar impactada.
SaÃmos dos 4 anos de terror bolsonarista, mas a ascenção da extrema direita é algo preocupante que mostra o quanto a mesquinhez impera no coração de pessoas sem empatia alguma.
O teatro pode, e deve, contribuir para aprimorar o senso crÃtico do espectador e para que ele perceba o quanto governos totalitários são violentos.
“O QUE MANTÉM NOS MANTÉM VIVOS?†é a arte que promove a reflexão sobre a própria arte e sobre as mazelas humanas. Entre cenas de peças de Brecht, que aborda com maestria questões sociais, Borghi relembra a sua trajetória.
As obras Santa Joana dos Matadouros, Galileu Galilei (encenada no Oficina em 1968), Arturo Ui e O Rei da Vela nos colocam diante da contradição humana, as mazelas da vida em sociedade e as injustiças realizadas em nome da religião e do desenvolvimento capitalista.
A indagação que dá o titulo à montagem foi feita por Renato Borghi quando ele foi submetido a uma cirurgia no coração pouco antes do começo dos ensaios, em 2020, ainda num momento sério da pandemia e com um negacionismo absurdo atrasando a aplicação da vacina contra a Covid 19. Segundo Borghi: “Aquela experiência radical de ter meu coração arrancado e colocado sobre uma mesa fria me deu vontade de colocar meu coração toda noite sobre o tablado para fazer essa pergunta ao públicoâ€.
Essa fala está presente no palco e nos faz pensar sobre o quanto ver em cena um ator de 86 anos em plena atividade, com operações na coluna e uma ponte de safena, é um presente. Claro que a mobilidade não é a mesma de outrora, mas a cabeça fervilha e a sua presença no palco é emocionante, plena. Renato rejuvenesce quando está atuando!
O que nos mantém vivos? é muito crÃtico, mas como já foi dito, é também uma celebração da existência de Borghi, além de uma celebração do Teatro PromÃscuo e da arte como propulsora de encantamento e reflexão.
Os atores pisam num picadeiro de circo que faz alusão ao Rei da Vela e bonecos especialmente confeccionados para esse trabalho dão um tom lúdico e ao mesmo tempo dá a ideia de multidão, de união por dias melhores apesar das dificuldades. Eles ocupam o espaço de circulação dos atores. Uma carroça também está presente e celebra o teatro popular e mambembe, além de um camarim iluminado que é usado por Borghi.
São mais de 3 horas de espetáculo, mas ele é dinâmico e com o grande talento dos atores e a execução da trilha ao vivo, o tempo passa rápido. O teatro e a sua magia.
Os 65 anos de carreira de Borghi também serão comemorados com uma palestra-espetáculo “Borghi em Revistaâ€, versão encenada pelo Renato ao lado de seu filho Ariel Borghi, sob direção de Elcio Nogueira Seixas. Também seremos agraciados com novas temporadas de “Molière†e “Romeu e Julieta 80â€, além das próximas montagens do Teatro PromÃscuo: “A Alegria é a Prova dos Noveâ€, com textos de Oswald de Andrade e “Minha Estrela Dalvaâ€, musical inspirado na grande musa de Borghi – Dalva de Oliveira.
Renato Borghi queria ser cantor. Seria um cantor muito bacana, mas é como ator que ele nos encanta, e como ator ele pode cantar também.
Ver Renato interpretando e cantando é um presente.
Entre tantas músicas, Ave Maria do Morro é uma música imortalizada na voz da Dalva de Oliveira, grande paixão de Renato. E ele cantou na estreia, dia 29.
Para quem não sabe, Renato assina o texto do musical A Estrela Dalva, homenagem à cantora Dalva de Oliveira, protagonizado por MarÃlia Pêra em 1987.
E ver o musical Minha Estrela Dalva nos palcos com certeza será mais uma realização marcante de Borghi.
@renatoborghioficial é a história viva do teatro. Renato honra a nossa arte. O teatro o mantém vivo e ele mantém o teatro pulsante.
Ator estupendo. Exemplo de vitalidade e dedicação ao ofÃcio iluminado que exerce.
Ver Renato atuando é aula de teatro e certeza que vale a pena viver intensamente.
86 anos de idade, 65 anos de profissão.
Que benção! Não para!
Ficha Técnica
Idealização e adaptação: Renato Borghi e Elcio Nogueira Seixas
Dramaturgia: Elcio Nogueira Seixas
Direção: Rogério Tarifa
Elenco: Renato Borghi, Débora Duboc e Elcio Nogueira Seixas, Cristiano Meirelles e Nath Calan
Musicista Substituto: Herà Brandino
Direção de Atores: Rogério Tarifa e Luiz André Cherubini
Direção Musical: William Guedes
Composição Musical Original: Jonathan Silva
Colaboração dramatúrgica: Cristiano Meirelles, Débora Duboc, Diego Fortes, Georgette Fadel, Luiz André Cherubini, Nath Calan e Rogério Tarifa
Figurinos: Juliana Bertolini
Cenografia: Andreas Guimarães, Luiz André Cherubini e Rogério Tarifa
Iluminação: Marisa Bentivegna
Teatro de Bonecos e Objetos: Luiz André Cherubini
Direção de movimento e Preparação Corporal: Marilda Alface
Visagismo: Tiça Camargo
Camareira: Graça
Assistência e Operação de Luz: Rodrigo Damas
Operação de Som: Dugg Mont
Microfonista: Felipe Grillo
Contrarregragem: Andreas Guimarães, Diego Dac, Roberto Tomasim
Cinema ao Vivo: Çiça Lucchesi – vÃdeo arte, Igor Marotti – cinegrafia
Cenotécnica: Andreas Guimarães, Roberto Tomasim e Cássio Omae
Estagiária em cenário e figurino: Poeta Martinez
Assistente de Figurinos: Vi Silva
Confecção de Figurinos: Juliana Bertolini, Vi Silva, Francisca Lima (costura), Aldenice Lima (tricôs) e Laura Bobik (intervenções gráficas)
Confecção dos bonecos: Mandy e Agnaldo Souza
Confecção de Flores: Coletivo Flores Pela Democracia
Eletricista: Marcelo Amaral
Assessoria de Imprensa: Adriana Monteiro – OfÃcio das Letras
Marketing Digital: Platea Comunicação e Arte
Criação de conteúdo e mÃdias sociais: Fernanda Fernandes e Lukas Cordeiro
Fotografia: Bob Sousa e Priscila Prade
Estagiária em produção: Rommani Carvalho
Produtora Colaboradora: Camila Bevilacqua
Produção Executiva: Carolina Henriques
Direção de Produção: Jessica Rodrigues
Coordenação Geral: Teatro PromÃscuo / Renato Borghi Produções ArtÃsticas LTDA.
Teatro | O que nos mantém vivos?
Quando: 29 de setembro a 29 de outubro
Horários: sexta e sábado, às 20h. Domingo, às 19h
Duração: 200 minutos [com 15 minutos de intervalo]
Classificação indicativa: 16 anos
Capacidade de público por sessão: 350 lugares
Local: Teatro Oficina
Endereço: Rua Jaceguai, 520 – Bela Vista, São Paulo – SP, 01315-010
Ingressos pelo Sympla
https://bileto.sympla.com.br
Precos: R$80,00 e R$ 40,00
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