O espetáculo Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna é a mais nova montagem dirigida por Gabriel Villela e faz a sua estreia nacional na décima nona edição da Feira Nacional do Livro de Ribeirão Preto. A encenação tem o apoio do SESC da cidade.
É a primeira parceria entre o diretor e o grupo Maria Cutia de teatro. A montagem foi concebida para a rua e em Ribeirão é que será apresentada dentro do teatro histórico da cidade. Formam o Grupo Maria Cutia: Leonardo Rocha, Mariana Arruda, Hugo da Silva. Atores convidados: Lucas De Jota Torres, Malu Grossi, Marcelo Veronez e Polyana Horta.
Uma obra popular nordestina, brasileira, que como Villela disse em entrevistas, contém a paródia em vários momentos, com estruturas brechtianas, permitindo uma leitura que preserva as características originais do texto e, ao mesmo tempo, apresente uma visão sempre própria e oportuna do diretor.
Uma montagem que busca levar para a cena uma fala de caráter universal, mas sem deixar de lado referências ao universo mineiro, do diretor e do grupo, e à cultura nordestina, do autor.
A trama traz as aventuras picarescas de Chicó e João Grilo, que começam com o enterro e o testamento do cachorro do Padeiro e de sua Mulher, e acabam em uma epopeia milagrosa no sertão envolvendo o clero, o cangaço, Jesus, Maria e o Diabo.
Chicó e João vivem de golpes para sobreviver, acabam se metendo numa enrascada e são perseguidos pelo temido cangaceiro Severino de Aracaju. Só a Nossa Senhora poderá salvá-los... ou não!
Os sete atores em cena alternam papeis masculinos e femininos, com um humor sarcástico, que promove diversão, mas também traz um tom critico com relação a quem tenta resolver os obstáculos a todo custo, mesmo que para isso seja preciso violar normas e convenções sociais, o famoso ¨jeitinho brasileiro¨.
Momentos da nossa política atual ganham citações e, apesar do sotaque mineiro estar presente, a ideia é levar para o palco uma fala sem características regionais marcantes para valorizar a atemporalidade da obra de um dos grandes mestres da nossa literatura e teatro ( e também mostrar o quanto ela continua atual e vibrante)..
Como em todos os seus trabalhos, o diretor prima pela poesia na criação das cenas, com um belo visual, que tem entre os destaques os figurinos (que além de belos, contribuem para dar sentido à trama encenada).
O cenário e figurino, ambos assinados por Villela, ressaltam o sincretismo do nosso povo e trazem referências orientais, mineiras ( a cor do barro das tragédias de Mariana e Brumadinho são visíveis) e nordestinas. “De Mariana e Brumadinho vieram o barro trágico de nossos dias e Pernambuco nos emprestou a forma e o brilho de seus carnavais mitológicos”, comenta o diretor e figurinista.
A música sempre tem papel importante nas suas montagens, para conduzir a trama e ressaltam o tom poético de suas criações. Um diferencial é a potência vocal dos atores trabalhada pela preparadora vocal Babaya Morais (parceira desde Romeu e Julieta, com o grupo Galpão – 1992).
Um diferencial que proporciona ao elenco um preparo vocal de excelência para que o canto e os diálogos sejam realizados sem a ajuda de microfones, mesmo em grandes espaços.
A música também é uma característica do Maria Cutia, que as executam ao vivo, e possuem um talento enorme para a interpretação e o canto. Grupo fundado em 2006, em Belo Horizonte, que já ganhou reconhecimento Brasil afora e já passou pela África de Língua Portuguesa: Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Guiné-Bissau, Angola e Moçambique.
A equipe técnica é formada por profissionais que já têm com Gabriel parcerias de alta qualidade, o que já promove em quem acompanha os trabalhos do diretor uma excelente expectativa com relação ao primor dos seus novos espetáculos: Além de Babaya; que também assina a direção musical com Fernando Muzzi, a assistente de direção é Lydia Del Picchia, atriz do Grupo Galpão e o assistente de figurino é o José Rosa.
As sessões acontecem no dia 9 de junho, domingo, às 19h30 e no dia 10 de junho, segunda, às 21h. São 1000 lugares gratuitos disponíveis no Theatro Pedro II. A Retirada de ingressos deve ser feita com 1h de antecedência.
É o início de uma agenda de apresentações que já tem presença confirmada no 3º Festival Nacional de Teatro de Passos e região – sul de minas.
É o teatro de Gabriel Villela emanando luz nesses tempos sombrios e levando para a cena Ariano Suassuna. O teatro que nos salva do caos através da poesia. Minas Gerais e seus artistas de grande talento.
Sobre o Maria Cutia
O Maria Cutia busca espalhar teatro por praças e palcos, capitais e sertões, movido pela cumplicidade com o público e por uma poética popular, lúdica e musical. Criado em 2006, em Belo Horizonte, já se apresentou em mais de 160 cidades espalhadas por 19 estados brasileiros, além de 5 países da África de Língua Portuguesa: Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Guiné-Bissau, Angola e Moçambique.
Auto da Compadecida é o oitavo espetáculo da Companhia, que nos últimos tempos se dedicou a produzir os trabalhos solos de dois dos integrantes: os shows-cênicos Para Chicos (2017) e Francisco (2015), e o espetáculo de palco Engenho de Dentro (2018). Além desses trabalhos, o Maria Cutia tem em repertório as montagens Ópera de Sabão (2015), Como a Gente Gosta (2011) e Na Roda (2006) e guarda com carinho o espetáculo Concerto em Ré (2010) em sua trajetória.
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