Eu estava em minha casa e esperava que a chuva chegasse do francês Jean-Luc LAGARCE, com direção de Antunes Filho, traz um enredo aparentemente simples, mas que apresenta um nó de relações que promove reflexões sobre as relações humanas e as diversas versões e visões de um mesmo fato.
Na trama, o cotidiano de cinco mulheres que esperam a volta do caçula da família. Essas mulheres formulam diversas hipóteses sobre a volta do personagem que saiu de casa após um desentendimento com o seu pai. ´
O tempo, a música, a espera da mãe e de toda a família, depois a tentativa de compreender o motivo da ausência.
Diversos caminhos apresentados pelo autor fazem com que não exista uma resposta pronta. O espectador deve criar também a sua versão sobre o que é apresentado.
O elenco é composto pelas atrizes Fernanda Gonçalves, Daniela Fernandes, Viviane Monteiro, Susan Damasceno e Rafaela Cassol.
Antunes filho comenta sobre a montagem e o texto: “Isto é apenas uma peça. Um espetáculo cujos vazios precisei preencher. Preencher com ator, preocupando-me sempre em colocar a palavra no seu devido lugar, pois é a palavra, aqui, o grande protagonista. O jogo de Lagarce com a palavra é paradoxal, pois ele se mostra escondendo. É um trabalho detetivesco. Lagarce troca, experimenta, reconstrói, lapida e rearranja incansavelmente as palavras. Diante disso, tive também que reinventar, experimentar, trocar, adaptar e criar. Caso contrário, eu sucumbia. Foi com esse jogo que travei uma luta árdua.”
“O ator, para enfrentar este labor, para conseguir habitar e preencher o palco com seu corpo e sua voz, precisa sempre “estar”. Ele não pode simplesmente “ser”. Ele não “é”, ele “está”. Ele não deve se considerar acabado, pronto, pois assim ele ficará imóvel e preso. Ao invés disso, ele necessita sempre “estar”, estar em algum lugar, sempre aberto a mudanças e à instabilidade. Somente neste estado de mudança permanente, é que o ator encontrará caminhos. Só aí ele se tornará infinito, disposto a sempre se reinventar, finaliza o diretor.”
Uma história que está integrada ao universo criativo de Lagarce, que apresenta em suas obras o uso sistemático e aleatório dos fluxos de pensamento, memória e imaginação que são complexos e personagens que estão presos a entendimentos muito particulares sobre a realidade exposta em cena.
Por esse motivo, diversas sinopses são possíveis, eis dois exemplos:
Uma vez o filho voltaria e dessa vez elas estariam ali, como sempre estiveram, para vê-lo chegar. Uma vez uma disse à irmã mais velha que desejaria dançar, quando o irmão voltasse e que dançaria com um vestido vermelho. Outra vez, enraivecida, outra esbravejou pela vida que poderia ter tido e que não teve. Ainda outra vez, a mãe, apesar da desilusão, pediu paciência para as outras. A mais nova de todas, uma vez, gritou. Gritava pela vida que era preciso, incansavelmente, levar.
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Ele virá ou ele veio? Ela estava feliz pela chegada dele ou receosa em preservar sua ausência? Ele brigou com o pai? O pai odiava-o? Elas realmente o aguardavam? O que teria acontecido com ele? Estariam prontas para falar com ele? Quanto tempo seria preciso até que ele acordasse? O que teria passado com ele todos esses anos? Foram anos ou dias? Estariam apenas imaginando? Ele existira?
Apesar das brigas, apesar do tempo, apesar dos conflitos, apesar da espera, apesar dos desejos, apesar das conversas, apesar da esperança, apesar do cuidado, apesar da paciência, apesar da dor, apesar da tristeza, apesar da chuva, elas esperam.
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