Como a própria definição do teatro de Gabriel sugere, e por mais que ele tenha na cabeça a ideia clara da arte e da criação própria que deseja transmitir, o emanar do IMAGINAI de Gabriel fornece ao espectador as asas da liberdade para que todos viagem num universo lúdico.
Além da diversão, que também é o papel do teatro, o espetáculo oferece aos espectadores instrumentos cênicos para que eles estabeleçam reflexões e análises que têm como premissa o diálogo dos textos encenados com o nosso tempo presente.
Escrever aqui palavras que apresentam o conteúdo da peça de Pirandello e as suas conexões com o mundo atual não é essencial, porque publicarei todas as críticas na página GABRIEL VILLELA, O TEATRO DA DELICADEZA, mas preciso explicitar algumas sensações, reflexões e emoções sobre essa montagem, que traz a luz da energia do encontro (presencial) entre ator/espectador, diretor/elenco/equipe, espectadores e artistas na plateia e os encontros e conversas no saguão do teatro.
A trama : Um nobre cai do cavalo e perde a consciência. Ele estava vestido de Henrique IV para um baile de carnaval, mas como perdeu a consciência, acredita ser o rei alemão por anos a fio. Uma encenação de corte é criada e um mundo de mentiras ganha ares de realidade. Ele, num dia qualquer, recupera a memória e quer se vingar porque acredita que fôra vítima de uma tentativa de assassinato.
Outros personagens são Matilde, que fôra sua paixão, a sua filha, Frida, um suposto amigo, Belcredi, que se torna amante da marquesa Matilde, e mais um médico armam uma farsa para tentar descobrir se o nobre recuperou a memória ou continua louco.
Num emaranhado de situações, a certeza não aparece jamais. Algumas falas e atitudes desse homem podem sim indicar que a sanidade voltou a emanar, mas também existem indicações de que a loucura permanece e a sanidade é apenas fingimento.
A mente e os seus mistérios, o que é verdade, o que é mentira, o que é ser louco e ser "normal"?
Complicado obter uma definição precisa num mundo em que muitas pessoas estão presas a mascaras, seja por imposições da sociedade ou para conseguir louros com farsas...
Pirandello cria um novelo cheio de emaranhados que são desfeitos a partir de monólogos do protagonista sobre as máscaras que carregamos e como viver num mundo encenado muitas vezes é mais prático e lucrativo do que enfrentar o cotidiano nu e cru.
Tudo leva a crer que a memória voltou, mas um incidente grave faz com que o protagonista tenha que viver eternamente no mundo da corte fantasiosa e assim a ficção toma conta definitivamente do seu cotidiano.
Viver num mundo ilusório e sem prejudicar o próximo pode ser muito interessante, mas o doce sabor da vida é também conseguir transpassar as barreiras que o dia a dia nos oferece.
Henrique IV é uma obra que cai como uma luva no universo criativo de Villela, que explora com genialidade as dualidades presentes no texto, e que ganha uma tradução excelente de Claudio Fontana.
Com a tradução e a direção, a compreensão da narrativa é facilitada.
Quem conta a trama criada por Pirandello é uma trupe de teatro mambembe, de circo-teatro, e no picadeiro criado por JC Serroni a magia se faz presente.
Lindo, criativo, atual. Um presente para todos nós que amamos o teatro.
Uma ode ao teatro de qualidade, com beleza e poesia. Humor, reflexão e a oportunidade de estar na sala de espetáculos depois da necessidade de reclusão.
Ainda é tempo de precaução. Levem álcool gel, máscaras e quando entrarem no teatro o encantamento emanará.
#imaginai
Ainda estou impactada com a estreia e preparando o coração para rever um espetáculo que dialoga muito com os nossos dias.
A vida de Henrique IV é encenada por uma trupe mambembe. O metateatro. Fantasmas permeiam a cena e nos fazem lembrar a peça Os Gigantes da Montanha, de Pirandello, que Gabriel Villela dirigiu e tinha o Grupo Galpão em cena.
Picadeiro, música que ajuda a tecer a história, beleza e muita criatividade.
Gabriel dirige com a alma de um artista que valoriza, e muito, o talento dos seus atores e equipe; tem uma imaginação sem limites, um conhecimento muito amplo da arte e um respeito absoluto à palavra.
Corram pra ver. É o teatro na sua essência. O teatro que nos faz rir, chorar, um colírio para os olhos, figurino belíssimo, cenário de uma singeleza ímpar e uma trilha sonora interpretada de forma brilhante pelo elenco. As cenas musicais ajudam a contar a saga de Henrique e são momentos de puro encanto.
A montagem é um remédio para o coração. A arte provando a sua importância como diversão, aprimoramento do conhecimento e do senso crítico, o teatro = esperança de dias melhores.
A luz de Caetano Vilela ressalta a dualidade realidade/imaginação e a cena final, com exu e a luz vermelha emoldurando todo o palco, é das criações mais especiais do imaginai de Gabriel Villela.
É muito gratificante ver novamente o teatro lotado e os aplausos calorosos.
Os atores e seus personagens:
Chico Carvalho é HENRIQUE IV, o protagonista que luta pelo amor da marquesa Matilde da Toscana (Rosana Stavis), que o trai com o barão Tito Belcredi (André Hendges). Ao lado de Henrique (ou Enrico), para auxiliá-lo, estão os camareiros Oração (Artur Volpi) e Sonho (Breno Manfredini) e, na tentativa de curar sua loucura, o doutor Genani (Hélio Cícero). Completam a lista de personagens Frida (Regina França), filha da marquesa, e Carlo Di Nolli (Rogerio Romera).
Todo o espetáculo que Villela dirige é preciso rever. Cada cena com um primor! Uma vez é pouco porque é muita criatividade da direção, competência de toda a equipe e interpretações de atores de muito talento também.
O Imaginai do Gabriel Villela é assim: são tantas as possibilidades de reflexões e encantamento! Quanto mais assistimos, mais descobrimos detalhes mínimos, com muitos significados, para deleite.
Pensando sobre tudo isso, já no início da peça fica a questão: até que ponto Henrique IV é manipulado e até que ponto ele manipula os outros?! Para entender essa questão, assistam ao espetáculo!
Genial!
“É conveniente a alguns que considerem certas pessoas como loucas para terem a desculpa de mantê-las presas. Sabe por quê? Porque é difícil escutar o que os loucos dizem.”
Trecho de “Henrique IV”
“Confiar nas pessoas, isso sim é loucura! Estas roupas são para mim uma representação clara e voluntária desta encenação diária, da vida! E a vida nada mais é que uma mascarada contínua, de cada minuto, de que somos os palhaços involuntários e quando, sem saber, nos fantasiamos daquilo que pensamos ser.” Trecho de Henrique IV
“Pobre daquele que não sabe usar a sua máscara”
Sinopse curta: HENRIQUE IV é uma obra-prima do dramaturgo Luigi Pirandello. Aqui, Pirandello explora os limites entre a loucura e a lucidez a partir da estória de um homem que, após uma queda do cavalo e uma pancada na cabeça, vive (ou finge viver) o personagem que representava em uma festa de carnaval.
Ficha Técnica
“Henrique IV“
Autor: Luigi Pirandello
Tradução: Claudio Fontana
Direção, adaptação e figurinos: Gabriel Villela
Elenco: Chico Carvalho, Rosana Stavis, Hélio Cícero, André Hendges, Regina França, Rogerio Romera, Jonatan Harold, Breno Manfredini e Artur Volpi.
Cenografia: J C Serroni
Iluminação: Caetano Vilela
Diretores Assistente: Ivan Andrade e Douglas Novais
Direção Musical, canto e arranjos vocais e instrumentais: Babaya Morais e Jonatan Harold
Assistente de Figurinos: José Rosa
Adereços de arte: Jair Soares Jr
Costureira: Zilda Peres
Maquiagem: Claudinei Hidalgo
Fotografia: João Caldas Fº
Assistência de Fotografia: Andréia Machado
Diretor de Palco: Tinho Viana
Operador de lua: PH Moreira
Camareiras: Ana Lucia Laurino e Maria Helena Arruda
Produção Executiva: Augusto Vieira
Direção de Produção: Claudio Fontana
Apoio: Só Dança
Serviço
Henrique IV
Texto de Luigi Pirandello e direção de Gabriel Villela. Com Chico Carvalho, Hélio Cícero, Rosana Stavis e elenco
Estreia dia 28 de abril de 2022, quinta-feira, às 21h
*Sessão de 1/6, às 15h
Temporada até dia 5 de junho
Quinta a Sábado, às 21h
Domingos e feriados, às 18h
*Sessão de 1/6, às 15h
Teatro Antunes Filho – Sesc Vila Mariana
Classificação: 14 anos
Ingressos: disponíveis online ou em qualquer unidade do Sesc no Estado de São Paulo.
*Obs.: Desde 8 de fevereiro de 2022, os responsáveis pelas crianças de 5 a 11 anos devem apresentar o comprovante de vacinação dos menores com ao menos a primeira dose do imunizante contra a Covid-19. Já para maiores de 12 anos é necessário apresentar o comprovante de vacinação com no mínimo duas doses ou a dose única da vacina. O comprovante pode ser físico ou digital e deve ser mostrado juntamente com o documento com foto. É recomendável o uso de máscara, cobrindo nariz e boca, durante toda a permanência na unidade.
Sesc Vila Mariana | Informações
Endereço: Rua Pelotas, 141, Vila Mariana - São Paulo
Central de Atendimento (Piso Superior – Torre A): terça a sexta, das 9h às 20h30; sábados, domingos e feriados, das 10h às 18h (obs.: atendimento mediante agendamento).
Bilheteria: terça a sexta, das 9h às 20h30; sábado, das 10h às 18h e das 20h às 21h; domingos e feriados, das 10h às 18h.
Estacionamento: R$ 5,50 a primeira hora + R$ 2,00 a hora adicional (Credencial Plena: trabalhador no comércio de bens, serviços e turismo matriculado no Sesc e dependentes). R$ 12,00 a primeira hora + R$ 3,00 a hora adicional (outros). 125 vagas.
Paraciclo: gratuito (obs.: é necessário a utilização travas de seguranças). 16 vagas
Informações: 5080-3000
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