Morte e vida Severina é um clássico da nossa dramaturgia e que mantém a sua luz no teatro.
Retirantes em busca de melhores condições de vida ou fugindo da guerra... se pensarmos que em pleno 2022 isso ainda acontece, é impossível não sentir um nó na garganta.
Como todos sabem, João Cabral falava do retirante pobre nordestino fugindo da seca e a inexorável dificuldade em alcançar os seus sonhos. A triste sina da fome, da submissão, da morte iminente e da necessidade de ser feliz com muito pouco se transforma na obra em um poema dolorido, intenso e necessário, que musicado por Chico Buarque ganhou os palcos nos anos 60 e ainda é, e sempre será, uma obra-prima.
A montagem dos anos 60 eu obviamente só conheço por registros e relatos.
Em 2017, Gabriel Villela montou essa obra no Teatro Glória, do Rio, com toda a sua visão de um teatro do encantamento (mesmo diante de mazelas o que nos salva é a poesia) e tal premissa era cumprida com louvor nessa montagem que não veio para São Paulo. É uma obra-prima do teatro de Villela.
Tivemos a feliz oportunidade de ver uma obra-prima com a direção de Elias Andreato.
No palco, um sol gigante e vibrante como no sertão - a cenografia é de Elifas Andreato, que foi para um céu de estrelas e deixou esse presente na forma de arte para o seu irmão, Elias; as roupas são em tom pastel, terra, sem cor para um universo terroso, poucos objetos utilizados no decorrer da encenação; a luz reforça o calor sufocante, e o sol na mais pura abundância, que é essencial para a vida, também ofusca o olhar com tanta claridade e faz a alma doer junto com o corpo, que queima e arde; a falta de água do sertão se reflete na força de um povo sofrido que não pode desistir nunca porque a sobrevivência depende de sua labuta.
O cenário é de vidas sem perspectivas de futuro promissor, que faz com que a esperança não acabe, apesar das mazelas, com o nascimento de uma criança.
A dor de um cotidiano sem glamour algum persiste, mas a glória de uma nova vida é comemorada.
A palavra é a dádiva do poeta Melo Neto para colocar em foco um Brasil profundo que ainda sofre com a falta de oportunidades e clama por respeito.
A música é o bem maior para declarar a dor e a força pulsante de um povo que tem muito valor e merece toda a atenção de governantes que deveriam cumprir com o seu papel de servidores públicos, mas devido à ganância do poder e do dinheiro só ampliam a força de poderosos que submetem boa parte da população a condições absurdas de trabalho e salários irrisórios.
A música é cantada pelos atores com precisão e beleza e executada ao vivo por instrumentistas.
Andreato, cria, em conjunto com a sua equipe, a saga de um retirante que só tem uma pretensão: chegar até Recife, ter um trabalho digno, comida quentinha, uma cama para descansar e um cotidiano para trilhar com dignidade. O que ele encontra? A força de um povo sofrido que, apesar de tudo, não desiste jamais, não pode desistir. Ele, Severino, que, num certo momento, é como seus companheiros de sofrimento, quase desiste de continuar a lutar, mas é o nascimento da criança e a compaixão de seus irmãos da jornada dura da vida que garantem a persistência da sua fé na vida.
O canto, as falas, as movimentações de cena são trunfos cênicos trabalhados com rigor e sensibilidade pela direção de Andreato, que conta com um elenco de grandes talentos para que Morte e Vida Severina chegue ao palco com alta qualidade.
Ficha Técnica
Da obra de JOÃO CABRAL DE MELO NETO
Músicas de CHICO BUARQUE
Direção Geral ELIAS ANDREATO
Direção Musical, Arranjos, Aboios e Lamentos (original) MARCO FRANÇA
Voz MARIA BETÂNIA
Poema Seca de DJAVAN
ELENCO
DUDU GALVÃO – Severino - ator potiguar lidera com maestria um excelente elenco
ANDRÉA BASSITT – Cigana 2
BADU MORAIS – Mulher da Janela
BEATRIZ AMADO – Retirante e flauta
FERNANDO RUBRO – Retirante
GABRIELLA BRITTO – Retirante
IVAN VELLAME – Retirante
JANA FIGARELLA – Funeral
JOÃO PEDRO ATTUY – Coveiro 1
JONATHAN FARIA – Mestre Carpina
PABLO ÁSCOLI – Retirante
PATRICIA GASPPAR – Cigana 1
RAPHAEL MOTA – Coveiro 2
MÚSICOS
BEATRIZ FRANÇA – Contrabaixo acústico e baixo elétrico
BRUNO MENEGATTI – Rabeca e violão
DICINHO AREIAS – Sanfona
RAPHAEL COELHO – Percussão
RICARDO DUTRA – Viola e violão
Cenário ELIFAS ANDREATO
Figurino FABIO NAMATAME
Desenho de Luz ELIAS ANDREATO e JÚNIOR DOCINI
Desenho de Som MARCELO CLARET
Direção de Movimento ROBERTO ALENCAR
Assistente de Direção Geral JÚNIOR DOCINI
Assistente Direção Musical, Preparação Vocal, Pianista Ensaiador MARCELO FARIAS
Assistente de Cenário LAURA ANDREATO
Cenotécnico – FABIN CENOGRAFIA e EDÉSIO BISPO
Assistente de figurino – ANDRÉ VON SCHIMONSKY
Modelista – JULIANO LOPES
Costura – FERNANDO REINERT e MARIA JOSÉ DE CASTRO
Operador de Som THIAGO H. SCHAFFER
Microfonista GABRIEL VILAS
Operador de Luz JUNIOR DOCINI e RAFA INÁCIO
Contrarregragem/Camareiros FÁBIO OLLYVER e TONINHO PITA
Coordenação de Comunicação BETH GALLO
Assessoria de Imprensa – MORENTE FORTE – THAIS PERES
Programação Visual LAERTE KÉSSIMOS
Fotografia JOÃO CALDAS F°
Assistente de fotografia: ANDRÉIA MACHADO
Filmagem JADY FORTE
Redes Sociais e Textos ANA PAULA BARBULHO
Coordenação Administrativa DANI ANGELOTTI
Assistência Administrativa ALCENÍ BRAZ
Assistente de Produção NANA GENOVEZZI
Administradora da temporada MAGALI MORENTE LOPES
Produção Executiva MARTHA LOZANO
Produtoras SELMA MORENTE e CÉLIA FORTE
Serviço
Morte e Vida Severina
TUCA (670 lugares)
Rua Monte Alegre 1024, Perdizes, São Paulo
Sexta e sábado: 21h
Domingo: 19h
Ingressos:
Sexta-feira – R$ 80
Sábado e domingo – R$ 100
VENDAS: https://bileto.sympla.com.br/event/71954/d/129792/s/809556
Ou nas bilheterias do TUCA.
TEMPORADA ATÉ 26 DE JUNHO
Todas as últimas sextas-feiras haverá sessão de Libras.
TÍTULO:
Morte e Vida Severina
ESTRÉIA:
11 de setembro de 1965
EQUIPE:
Direção de Silnei Siqueira e Roberto Freire; Música por Chico Buarque de Holanda; Cenografia e Indumentária de Armando Ferrara; Maestro Zuinglio Faustini
ELENCO:
Evandro Pimentel, Inês Porto, Sandra Di Grazia, Ana Lucia Rodrigues (Ana Lucia Torres?) e outros.
Morte e Vida Severina é um auto de natal pernambucano, publicado em 1954/55, e que teve sua estreia nos palcos na inauguração do Tuca, em 1965. Na época, Roberto Freire era o diretor do teatro e partiu dele o convite para Chico Buarque musicar a obra de João Cabral de Melo Neto, o que acabou se transformando em um sucesso que atravessou fronteiras.
|