TEATRO
Acompanhe o melhor do teatro adulto e infantil! As principais estreias nos palcos estão aqui.
Não deixe de ler as matérias e críticas.

Entrevistas e dicas de espetáculos

Relatos e Experiências, projeto de extensão da Escola de Teatro da UFBA. A Cadeia Produtiva do Espetáculo Teatral Contada e Cantada Por Quem o Faz - Jorge Vermelho
Publicado em 10/12/2020, 17:00
47
Facebook Share Button
Relatos e Experiências, projeto de extensão da Escola de Teatro da UFBA. A Cadeia Produtiva do Espetáculo Teatral Contada e Cantada Por Quem o Faz
Jorge Vermelho - ator, diretor, gestor público e coordenador do Festival Internacional de Teatro de São José do Rio Preto – FIT-Rio Preto

Coordenadores: Prof.ª Drª. Deolinda Vilhena, idealizadora / Prof. Dr. Gil Vicente Tavares / Prof. Dr. Sérgio Sobreira

O décimo quarto encontro do Seminário teve como tema os festivais, em especial o Festival Internacional de Teatro de São José do Rio Preto – FIT- Rio Preto, que no ano passado comemorou os seus 50 anos de existência.
Para a idealizadora, a Prof.ª. Deolinda de Vilhena, que é produtora (para quem não sabe, entre tantas experiências, trabalhou com a diva Bibi Ferreira), a circulação de um espetáculo é essencial, mas pouco valorizada.
Muitos espetáculos estreiam, permanecem pouco tempo em cartaz e terminam uma história que poderia ser regada a viagens pelos palcos regionais, nacionais e mesmo internacionais.
Os Festivais facilitam a circulação das montagens, são vitrines das produções teatrais, além de se constituírem num precioso espaço para encontros e trocas de informações.
A escolha de Jorge Vermelho, que é ator, diretor, gestor público e coordena o FIT-Rio Preto, teve como objetivo proporcionar aos estudantes da UFBA e demais interessados por teatro um encontro para a discussão sobre a importância e o papel de um festival na cena teatral.

Essa aula/entrevista contou com os seguintes mediadores:
Prof. Sérgio Sobreira, que é ator e trabalhou com produção, e Débora Albuquerque, estudante da Licenciatura em Teatro da UFBA.

O prof. Sergio Sobreira iniciou a rodada de questões e pediu para o entrevistado falar um pouco da sua trajetória e como começou a trabalhar na produção do Festival.
Jorge Vermelho fez questão de começar a sua fala elogiando o cenógrafo JC Serroni, que estava presente na aula/entrevista para prestigiar o seu conterrâneo.
Vermelho declarou que aprendeu muito com JC Serroni. Segundo o ator e diretor, Serroni é um registro histórico na cidade e o teatro rio-pretense deve muito à sua atuação na área da arquitetura cênica.
O teatro está na vida de Jorge Vermelho desde cedo. Ainda criança, realizava espetáculos no quintal de seu sítio em Rio Preto.
Varal e lençóis eram usados para delimitar o espaço do teatro e os ingressos para a entrada eram fósforos. Desde essa época já realizava as funções de gestor, sem entender ainda o significado dessa atividade.
A vizinhança toda se reunia para ver as criações do talentoso artista e sua trupe. ¨Era tudo muito genuíno, com teatro e circo de variedades. Tinha o desejo de ser outra pessoa e fazer disso uma ágora de encantamento. Aquilo era fé cênica¨, relembra.
Além das apresentações no quintal de casa, outro local que despertou a sua atenção para o teatro foi a escola.
Na escola pública em que estudava havia gincanas culturais. Nesse evento, existiam apresentações teatrais de grupos formados na escola e eram as professoras de educação artística que escolhiam os vencedores.
Foi estudar teatro em São Paulo e encontrou uma cidade pulsante e fascinante, num período em que a ditadura havia acabado.
Após algumas experiências com coletivos teatrais na capital paulista, decidiu voltar a viver em Rio Preto e em 89, com Cássio Ibrahim, criou a Companhia Azul Celeste com o objetivo de investigar linguagens.
O seu grupo de teatro foi selecionado para uma apresentação no Festival Sesc de Teatro Experimental, no Sesc Anchieta, e o espetáculo apresentado foi escolhido como o melhor do evento. A partir desse momento, começou a colaborar para a realização do Festival de Teatro em Rio Preto.

Débora Albuquerque pediu para Vermelho falar sobre o festival ontem e hoje. Também o questionou sobre como será o futuro dos festivais pós pandemias.
Quando começou a colaborar com o FIT, em 1990, o maior trunfo era o lançamento de grandes talentos – um grande artista lançado durante o período em que o FIT Rio Preto ainda era Festival Nacional de Teatro Amador foi o diretor, cenógrafo e figurinista Gabriel Villela.
Era um período de trocas, de encontro. Os artistas permaneciam na cidade durante todo o período de programação. Os grandes mestres estavam presentes e falavam com a moçada. Infelizmente, isso raramente acontece nos dias de hoje, por causa das agendas lotadas de quem se apresenta.
Com Villela presente na ¨plateia¨ do Seminário, a memória do coordenador do Festival aflorou, e ele citou detalhes muito marcantes da participação de Villela no evento, quando este fez muito sucesso com o espetáculo A Falecida, de Nelson Rodrigues. ¨Gabriel Villela é um eterno artesão¨, elogiou.
Em cena, estavam os atores do Núcleo de teatro (amador) do Clube Pinheiros, com a presença de um grande ator que hoje tem o talento reconhecido pelos trabalhos no teatro, TV e cinema: Claudio Fontana.
Num momento em que a internet não existia, os elogios eram passados de pessoa para pessoa; o boca-a-boca foi intenso e, segundo Vermelho, A Falecida foi um acontecimento! Ganhou o troféu de melhor espetáculo devido à qualidade da direção e dos atores. A cenografia, criada por Villela, foi muito elogiada: tacos de bilhar, os quais atravessavam os corpos dos personagens nas cenas de morte.
Dois anos depois, Villela levou Você Vai Ver o que Você vai ver, com o grupo Circo Grafitti, para o FIT (já como artista profissional).
O festival é que impulsionava os grupos e os prêmios é que davam vigor. ¨Um festival não pode ser só administrativo, tem que ter alma: tem que ter erro, porque tem que ser território de perigo¨, afirmou, evidenciando o quanto são preciosos os encontros.

Sobreira perguntou ao entrevistado como é, na sua visão, a escuta do tempo e do silêncio no teatro num tempo em que as lives (experimentos cênicos) são a única opção viável para os artistas criarem. Como é escutarmos o nosso tempo, num momento em que o teatro está silenciado?!
Na opinião de Jorge Vermelho, as experiências acontecem como uma busca de alternativa para os artistas não ficarem parados.
Nesses tempos, o artista é obrigado a silenciar (o ser humano é obrigado a silenciar) porque somos obrigados a desacelerar.
O fato é que o modo de vida antes da pandemia estava sustentável e agora temos a oportunidade de ficar em silêncio e aproveitar o tempo para estudar. O silêncio deve ser produtivo e construtivo.
Opinou que o teatro estava sendo realizado como uma obrigação ¨pret-a-porter¨ e que quando o teatro voltar, ele precisa ser pleno e realizado com entrega.
Ainda não tem uma opinião formada sobre o que está sendo criado on-line, mas não quer fazer espetáculos dessa forma (digital) porque o que o move é o encontro. ¨O teatro é a arte do encontro e do irrecuperável¨, define Vermelho.

Questionado por Débora Albuquerque e por Sergio Sobreira sobre a produção de um festival e o papel da curadoria, Jorge Vermelho assinalou que o Festival não precisa ter, necessariamente, um conceito estético ou ideológico que delimite a escolha das peças, mas tem que ser um projeto com assinatura, tem que ter provocação e linha de raciocínio.
É preciso ter em mente também que um festival não é feito para cumprir agenda cultural, ele deve estar em diálogo com a sua comunidade, buscando, inclusive, obras teatrais que dialogam com a cidade, que façam com que os moradores se identifiquem com os espetáculos apresentados.
Também defende que é essencial buscar a reeducação do olhar do público para um entendimento do valor do teatro e a sua relação com a dança, com as artes visuais, com a gastronomia...isto é, um festival precisa movimentar a vida e a economia de uma cidade.
Em Rio Preto, a programação do Festival é distribuída a todos os cidadãos, taxistas recebem adesivos e até o comércio faz concursos de vitrine usando o festival de teatro como tema.
Produzir um festival é complexo e o FIT sempre trabalha com profissionais da área teatral porque só eles entendem a necessidade de um artista. É preciso entender que as exigências para a realização de um espetáculo não são frescuras. O processo de criação é requintado e precisa ser bem cuidado.
Medo não existe no vocabulário de Vermelho, pois realizar o Festival é sempre aventurar-se por um mundo de descobertas e aprendizados.
Para a realização de um Festival, é necessário um cotidiano incessante de doação ao trabalho porque, para que tudo dê o mais certo possível, os esforços não podem ter limites; é um trabalho de preparação e execução, que dura dias e noites.
Citou algumas histórias muito interessantes para exemplificar que é preciso muito jogo de cintura e dedicação. Deu um recado aos estudantes da UFBA e demais presentes: ¨Nada é impossível. Não diga não. Veja o que é possível ser feito¨.
Um grupo russo exigiu 32 singles no hotel…Depois de tudo acertado, eles chegarem ao Brasil e não puderam se apresentar porque o cenário ficou retido no porto de Santos!
Uma certa produção exigiu grilos machos que só são encontrados em determinada região do Brasil. Na hora da apresentação, os grilos ficaram nas coxias, isto é, num primeiro impulso esse fato pode ocasionar até raiva. Ora, uma gravação não resolveria o problema? Mas o diretor queria um som específico e por isso o pedido “inusitado¨!
Outro fato que certamente coloca qualquer realizador em polvorosa: um grupo de teatro pediu leitões porque na sua performance com público restrito, os presentes deveriam segurar os animais pela orelha. O senhor que iria fornecer os porcos não entendeu que os animais precisavam estar vivos e avisou a produção do FIT que eles estavam devidamente cotados no refrigerador!
Num outro momento, quando receberam o Grupo Vertigem, o público já estava na fila para conferir o livro de Jó e a produção estava num hospital para conseguir um lustre para fazer parte do cenário da peça...
Mas todo esse trabalho é recompensador para o coordenador do evento, ainda mais quando é possível relembrar a presença de artistas marcantes como Marcélia Cartaxo e Luiz Carlos Vasconcelos que levaram para a cidade o tocante Vau da Sarapalha (Grupo Piollin, de João Pessoa/PB). Chegaram em Rio Preto com um ônibus caindo aos pedaços e conseguiram arrebatar o público com o seu trabalho.
Com essas lembranças, Vermelho destaca novamente a importância do encontro e que é imprescindível manter a artesania como forma principal de conceber a arte: ¨O Festival de Rio Preto tem a alma do encontro¨.

O espetáculo Les Éphémères, do Théâtre du Soleil, sob direção de Ariane Mnouchkine, foi marcante na vida de Jorge Vermelho. Sobreira pediu para que o artista falasse sobre o impacto de entrar em contato com o trabalho da trupe francesa.
Na visão de Vermelho, o que o Soleil faz não é só teatro, é opção de vida. Por esse motivo, é um teatro que emociona.
¨É uma opção consciente de fazer com que o fazer teatral seja uma experiência vivenciada e compartilhada com o público. Mexeu com a minha vida”, disse o ator e diretor.

Para finalizar a tarde, Gabriel Villela e JC Serroni realizaram observações e questões:
Villela disse que foi um acerto parar para ouvir Jorge Vermelho e o elogiou dizendo que possui um incêndio no corpo, pois adianta a resolução de um problema e apaga os incêndios com muita competência.
¨Jorge Vermelho é o rosto do FIT¨, definiu o diretor.
Deixou a seguinte questão: como o FIT compõe a curadoria? Na visão de Villela, os festivais contam com muitos curadores que são críticos teatrais e a análise dos espetáculos acaba ficando no âmbito muito teórico. Ele sente a falta da presença de artistas, que vivenciam o teatro na sua plenitude.
Segundo Jorge vermelho, existe no FIT a preocupação em colocar na curadoria representantes da parte estruturante do pensamento sobre as artes cênicas e também integrantes de coletivos teatrais. A ideia é ter pensadores, críticos e criadores.
Outra preocupação do Festival, escolher profissionais que tenham representação regional para integrarem a programação. Tentar fugir um pouco do eixo Rio-SP e levar ao festival (que vale lembrar, acontece no interior do estado de São Paulo) talentos de outras localidades do Brasil.

Serroni, tão elogiado no início da conversa, e que criou um dos cartazes do FIT, deixou a sua questão, finalizando assim a décima quarta edição do projeto de extensão da Escola de Teatro da UFBA:
Como está a situação dos teatros em São José do Rio Preto?
O Teatro de Bolso e o Teatro Municipal Nelson Castro, segundo Jorge Vermelho, estão em reforma, enquanto o Teatro Municipal Paulo Moura e o Complexo Swift estão sendo revitalizados. Além disso, está em execução um programa para a aquisição de equipamentos que contempla todos os teatros da cidade.




DE OLHO NA CENA ® 2015 - Todos os Direitos Reservados
. . . . . . . . . . . .

DE OLHO NA CENA BY NANDA ROVERE - TUDO SOBRE TEATRO, CINEMA, SHOWS E EVENTOS Sou historiadora e jornalista, apaixonada por nossa cultura, especialmente pelo teatro.Na minha opinião, a arte pode melhorar, e muito, o mundo em que vivemos e muitos artistas trabalham com esse objetivo. de olho na cena, nanda rovere, chananda rovere, estreias de teatro são Paulo, estreias de teatro sp, criticas sobre teatro, criticas sobre teatro adulto, criticas sobre teatro infantil, estreias de teatro infantil sp, teatro em sp, teatros em sp, cultura sp, o que fazer em são Paulo, conhecendo o teatro, matérias sobre teatro, teatro adulto, teatro infantil, shows em sp, eventos em sp, teatros em cartaz em sp, teatros em cartaz na capital, teatros em cartaz, teatros em são Paulo, teatro zona sul sp, teatro zona leste sp, teatro zona oeste sp, nanda roveri,

CRISOFT - Criação de Sites ® 2005
HOME PAGE | QUEM SOU | TEATRO ADULTO | TEATRO INFANTIL | MULTICULTURAL | CONTATO
CRÍTICAS OPINIÕES CINEMA
MATÉRIAS MATÉRIAS SHOWS
ESTREIAS ESTREIAS EVENTOS