Relatos e Experiências, projeto de extensão da Escola de Teatro da UFBA. A Cadeia Produtiva do Espetáculo Teatral Contada e Cantada Por Quem o Faz
A Entrevista foi conduzida por e TITA VIRGÍLIO, natalense, graduada em Teatro pela Universidade do Estado do Amazonas, produtora e doutoranda em Artes Cênicas pela Universidade Federal da Bahia -UFBA.
O décimo-primeiro encontro teve como tema a produção teatral, a gestão de espetáculos teatrais entendida como uma atividade fundamental para garantir a qualidade do trabalho de todos os profissionais responsáveis pela criação artística.
DEOLINDA DE VILHENA informou que a produção foi a responsável por levá-la à Universidade e o seu maior orgulho é já ter formado mestres em produção, entre eles, Pedro de Freitas.
Encontrou na UFBA um lugar propício para o pensamento de produção no teatro, produção enquanto gestação de um espetáculo, vale dizer.
Fez mestrado e doutorado (tem pós doc) com o objetivo de ministrar aula na USP e lá criou a disciplina de produção teatral.
O seminário foi concebido como um espaço para debater a produção teatral e tem o mérito de contar com a presença de alunos e ex-alunos da Profª. Deolinda na plateia, no rol de entrevistados e na equipe de entrevistadores.
Para falar sobre produção:
PEDRO DE FREITAS
Responsável pela concepção técnica do Seminário e orientou em relação à plataforma que possibilita os encontros: o Zoom!
Idealizador do FarOFFa, mostra paralela de artes, que teve sua segunda edição de forma virtual, com espetáculos e palestras.
Produziu O Que Mantém Um Homem Vivo?, da Cia Promíscuo, com Renato Borghi, Elcio Nogueira Seixas e Georgette Fadel.
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CYNTHIA MARGARETH
Atua com foco na produção como eixo criativo, que impulsiona ações colaborativas, criação de redes, formação e coordenação de equipes de trabalho.
Além de produtora, é atriz e esteve no solo “4, 5, 4, 3... Um passo por vez”, espetáculo-marco de sua volta aos palcos e do encerramento de um ciclo: 14 anos de coordenação da produção do LUME Teatro e do Feverestival - Festival Internacional de Teatro de Campinas.
Em seu solo, Cynthia desmonta sua trajetória, passando por sua experiência como mulher, mãe e, em destaque, seu lado profissional, onde revela como o seu percurso a fez compreender o ofício da produção cultural.
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DEOLINDA DE VILHENA perguntou se a produção foi uma escolha ou foi a vida que os levou para essa área.
CYNTHIA sempre teve afinidade com produção. Disse que o teatro entrou na sua vida aos 9 anos de idade. Residia em Limeira e na cidade participou de grupos amadores de teatro.
Sem perceber a vocação para a produção, já era a responsável por buscar a estrutura necessária para a manutenção dos grupos, especialmente nas viagens. Era ela quem ia atrás da descoberta dos festivais porque sempre quis se conectar com tudo o que existia na área do teatro.
Cursou a Faculdade de Artes Cênicas em Londrina e, por sua vocação para a área de produção, as pessoas começaram a perceber a sua competência. Foi convidada para ser produtora do Lume em Campinas, ao lado de Pedro de Freitas.
Sente-se realizada como produtora, pois essa função a faz sentir potente. A sua paixão por buscar festivais contribuiu muito para que o Lume tivesse uma agenda recheada de viagens pelo Brasil e exterior.
PEDRO DE FREITAS, por sua vez, assim como Cynthia, apaixonou-se pelo teatro ainda criança. Na sua escola havia aula de teatro a partir da quinta série e ele não via a hora de estar apto a participar do grupo. A sua primeira função no teatro foi como contrarregra.
Cursou Artes Cênicas na Unicamp e o que lhe deu segurança foi o encontro com pessoas que o ajudaram a se sentir seguro no teatro.
Assim como a amiga Cynthia, vê a produção como potência e tem muita energia para trabalhar e realizar projetos. E, também como a amiga, era ele quem sempre realizava as funções de um produtor durante a sua graduação.
Não foi à toa que Freitas e Cynthia foram produtores do Lume, e atualmente, mesmo com produtoras independentes, continuam amigos e parceiros profissionais. Dois excelentes profissionais.
Além da Faculdade de Artes Cênicas na Unicamp, Pedro de Freitas disse que a sua formação no teatro ocorreu como espectador. Citou o Mambembe, com direção de Gabriel Villela, como uma montagem muito marcante na sua vida. Lembra que enfrentava as filas do Sesi e conferiu a montagem umas 20 vezes! Nas palavras de Freitas: ¨O espetáculo mais lindo da minha vida! ”
Estar no mesmo lugar de entrevistado, como esteve Villela (na abertura do evento) é uma honra para o produtor.
Fez questão de elogiar Deolinda de Vilhena. Foi aluno da professora na UFBA e ficou encantado com as suas aulas, especialmente as que versavam sobre o Theatre du Soleil. Foi através de Deolinda que decidiu estudar na França. ¨Deolinda conduz a minha mão com muita ternura¨, elogiou.
E Deolinda também o elogiou, contando que, recém-chegada à UFBA, recebeu desse seu aluno tão especial uma maçã no dia dos professores. O único presente que recebeu na época. Um momento que tem um espaço especial na sua memória afetiva.
Freitas terminou a sua fala dando uma sugestão de leitura – essencial para quem deseja se dedicar à produção: O Avesso da Cena - Notas Sobre Produção e Gestão Cultural de Romulo Avelar.
TITA VIRGÍLIO perguntou como é realizar os projetos nas suas respectivas empresas de produção
PEDRO DE FREITAS disse que com o Lume aprendeu a produzir. Tem muito carinho pelo grupo, mas chegou uma hora em que teve a necessidade de respirar novos ares.
No Lume conheceu Tadashi Endo e aprendeu inglês por causas das viagens e contatos. Com Deolinda aprendeu francês.
O que o move é a vontade de comunicação com o mundo e, por esse motivo, criou a Périplo Produções com o objetivo de dedicar-se a projetos estrangeiros.
CYNTHIA declarou que o seu modo de produzir é através do afeto, da escuta e do respeito, e tudo isso ela aprendeu com o Lume.
Percebeu a carência das cidades em que o Lume se apresentava e elaboraram cursos de produção que eram ministrados durante as passagens pelas localidades.
Quando resolveu criar a Aflorar, a ideia principal foi de formar equipes para dar suportes sobre a teoria e prática das produções, oferecendo assim ferramentas para outros artistas produzirem.
A Aflorar tem como meta realizar vivências na área de teatro e fortalecer os modos de produção.
DEOLINDA os questionou sobre como estão agindo na pandemia para que, mesmo com as adversidades, e cancelamentos, atividades sejam mantidas.
FREITAS teve vários projetos internacionais cancelados e teve que rever com atenção conceitos de produção.
Com o desmonte da cultura, já estava tendo que repensar projetos com artistas de outros países devido à dificuldade de viabilizar as suas vindas ao Brasil. Com a pandemia, esse problema agravou-se.
Deseja continuar o trabalho com artistas estrangeiros, mas quer também exportar o nosso teatro.
O Projeto Faroffa, que conta com a parceria do grupo Rastreado, nasceu com essa premissa. Nesse evento, que aconteceu paralelamente à Mostra Internacional de Teatro de São Paulo ( e depois teve uma versão on-line), colocou na programação espetáculos para que programadores nacionais, e especialmente internacionais, vissem as apresentações e assim poderia nascer a possibilidade de convites para viagens.
CYNTHIA declarou que tem um temperamento que nunca se deixa abalar. E sempre procurou lidar com a situação de uma maneira positiva: pensando em projetos!
Estava prestes a viajar com o projeto Dramaturgias do Sesc pelo Brasil, para falar sobre Produção Cultural e teve que parar com tudo (no momento o evento está ocorrendo on-line).
A maior lição que obteve com a pandemia foi perceber que estava certíssima ao defender que o artista precisa fortalecer os seus modos de produção e a parceria é essencial.
Apesar do momento difícil, já nos primeiros dias em que os cancelamentos foram inevitáveis, idealizou o Papos de Produção on-line, uma rede pulsante de conversas e atualização sobre a área de produção. Também ficou atenta à lei Aldir Blanc e à sua aplicação.
Idealizou, com Érika Cunha, do Grupo Matula Teatro e com o artista independente Ademir Apparício, a Mostra virtual ‘Solo, mas não só’, que contou com espetáculos solos, sarau, curso e debate. Foi nessa mostra que a atriz apresentou o seu monólogo 4, 5, 4, 3… Um Passo por Vez (orientação e roteiro das atrizes Ana Cristina Colla e Raquel Scotti Hirson, do Lume Teatro).
DEOLINDA os questionou sobre a preocupação com o público.
Usou como exemplo o Théâtre du Soleil, o qual tem como objetivo tornar as suas obras artísticas acessíveis a todos na França, diferente do Brasil, país onde esse compromisso não é aplicado como deveria ser.
E deixou a seguinte questão: como os entrevistados encaram o público e para quem eles produzem.
CYNTHIA Afirmou que sempre buscou o encontro com o público na sua trajetória e sempre desejou que todos conhecessem o valor do teatro.
Na sua visão, o poder público e as instituições em geral têm que promover a formação de público, mas é necessário otimizar uma verba para que a arte se aproxime do público.
Defendeu que no caso de um grupo de teatro, de acordo com a sua experiência com o Lume, é preciso que os artistas estejam sempre em comunicação com o seu público para que o seu trabalho seja valorizado e prestigiado.
Afirmou que o produtor tem que saber como falar das suas propostas e saber com quem está falando (para que o projeto seja bem recebido).
Durante as viagens do Lume, Cynthia entrou em contato com muitas pessoas que nunca tinham visto teatro e o que elas pediam é para que o teatro nunca as abandonasse.
Neste sentido, é necessário entender as necessidades do público de um determinado lugar e pensar em como fazer com que as pessoas saibam que determinado espetáculo terá sessões na sua cidade.
PEDRO salientou que é preciso que as pessoas conheçam o que é o teatro para começar a frequentá-lo e também acredita que o contato com o público para conhecer as suas necessidades também é necessário.
O teatro tem que ser encarado, sim, como um mercado e com a presença de todos os gêneros teatrais, pois somente dessa maneira é que o público poderá adquirir o hábito de frequentar as salas de espetáculos, escolhendo a peça que mais lhe desperte interesse.
TITA VIRGÍLIO solicitou que os entrevistados abordassem a importância da produção teatral constar na grade curricular da universidade.
CYNTHIA acredita que desde 2000, quando fez a sua graduação, houve um ganho com o crescimento da produção como matéria importante para estudo. Crê que o olhar para a produção está cada vez maior.
Destacou que fazer produção envolve multidisciplinaridade e que nenhuma grade curricular, por melhor que seja, consegue o conhecimento obtido através da prática. O ensino é muito importante e a prática é essencial!
Por incrível que pareça, Cinthia disse, abismada, que formados em produção já a procuraram e disseram que não assistiram espetáculos durante a graduação!
Ir a espetáculos, obviamente, é essencial para que um produtor tenha uma formação de qualidade.
Para PEDRO DE FREITAS, produção é artesania. Só se aprende no teatro e observando pessoas mais velhas, e por isso, sempre admirou e procurou estar perto de pessoas mais velhas e experientes.
Defende que é importante existir a matéria sobre produção na faculdade de artes cênicas para que o artista conheça o mercado (onde pretende levar o seu trabalho).
Deve ser oferecido ao estudante multidisciplinaridade, pois um produtor trabalha com comunicação, excel, rede social e economia. A produção é um lugar de diplomacia de transposição de linguagem (porque é preciso saber falar com o patrocinador de uma maneira que ele entenda o projeto).
Na sua opinião, Seminários como A Cadeia Produtiva do Espetáculo Teatral Contada e Cantada Por Quem o Faz deveriam ocorrer todo semestre.
TITA VIRGÍLIO pediu para Cynthia dizer algumas palavras para quem acredita que o ofício de um produtor não exige criatividade.
Segundo a produtora, a produção é um eixo criativo impulsionador. É uma criação permanente de conexões e possibilidades; é a dramaturgia do encontro e a narrativa do que perdura de uma obra.
A produção promove conexões com o público, com os editais e com os lugares nos quais os projetos são apresentados. É um meio de encontros preciosos e o produtor tem que ser muito criativo para elaborar ações que chamem a atenção das pessoas pela qualidade
Cynthia afirmou que carrega uma bandeira: ¨desmecanizar¨ a atividade do produtor e provar que para a sua realização é preciso muita criatividade.
¨Produzir é sonhar um futuro. É sonhar possibilidades, e para isso é necessário que exista um impulso criativo¨. Cynthia Margareth.
Entre as inúmeras QUESTÕES ELABORADAS PELO PÚBLICO, como revalorizar o ingresso e viabilizar os preços de ingressos mais acessíveis?
Cynthia concorda que os ingressos precisam ser revalorizados. O público precisa ser educado para prestigiar teatro e sensibilizado para entender do quanto é valoroso o pagamento do ingresso.
Acredita que com a pandemia as pessoas estão percebendo que pagar um ingresso é garantir a subsistência de um artista.
Apesar de ser complicada a matemática realizada com a bilheteria, ações podem deixar o acesso mais acessível para a população.
PEDRO DE FREITAS defende que é preciso colocar para o público que ele é o responsável pela existência do espetáculo e para que ele fique em cartaz é essencial pagar o ingresso.
Para finalizar a conversa, os entrevistados salientaram o quanto é essencial a união para que uma produção tenha sucesso.
É preciso sempre sonhar junto com outras pessoas. Caminhar junto e estar sempre aberto ao aprendizado, sempre aberto a aprender com quem possui mais experiência. Com o Lume aprenderam que compartilhar sonhos e ideias é o que garante o sucesso profissional.
Fizeram questão de deixar os respectivos contatos no Instagram para que todos os interessados possam acompanhar as realizações das suas empresas de produção:
@aflorarcultura da Cynthia Margareth
@ periplo.prod do Pedro de Freitas
Como é apaixonada por produção, tem muita experiência na área e tem orgulho de ter sido mestra de Pedro de Freitas, DEOLINDA saudou o amigo e aluno, a Cynthia Menezes e Julia Carrera, que estava presente como público.
E deixou a seguinte frase:
¨Não pense nunca que você está criando a roda. Pense que muita gente a criou antes de você! (Peça sempre para estar perto de alguém para aprender) ”.
Babaya Morais será a entrevistada, na próxima terça, do Seminário A Cadeia Produtiva do Espetáculo Teatral Contada e Cantada Por Quem o Faz. Idealização Deolinda França de Vilhena.
Ela é parceira preciosa de Gabriel Villela e Claudio Fontana, que participaram lindamente, vale lembrar, do Seminário.
Babaya é natural de Cássia, cidade próxima a Carmo do Rio Claro, terra natal de Villela. A magia de Minas!
Parcerias também com Milton Nascimento, Ponto de Partida, entre muitos outros artistas...cantora, preparadora vocal, diretora musical e amiga encantadora.
Na sua escola de canto, já formou artistas talentosos em BH!
Inscrições até sábado às 23h59:
https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLSeTFX9aeUP-g5YOpPvniOz_bdqFLfw0h8CXba9IVERiFIsi2Q/viewform?fbclid=IwAR39gbGNQOxB-2Y2nUbtnBV42c8wnYnR-2PE24xq-KyDtXDfpFy7VxN4mjU
Deolinda tem o apoio de Sergio Sobreira e Gil Vicente Tavares
Participação de uma excelente equipe da UFBA.
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