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Entrevistas e dicas de espetáculos

Projeto de Extensão “A cadeia criativa do espetáculo teatral contada e cantada por quem o faz” – como foi o encontro realizado com Gil Vicente Tavares e Marcelo Praddo
Publicado em 16/10/2020, 17:00
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Seminário A Cadeia Produtiva do espetáculo teatral contada e cantada por quem o faz
Mediadores
Prof.ª. Deolinda de Vilhena e Prof. Sergio Sobreira

Falar do encontro/entrevista que acontece todas as terças, via plataforma zoom, é colocar no texto o amor pelo teatro e reverenciar os grandes artistas que fazem com que a arte brasileira seja incrível mesmo com a falta de apoio.
Com GIL VICENTE TAVARES (diretor, dramaturgo e compositor) e o ator MARCELO PRADDO foi possível conhecer as ideias de artistas baianos, como sempre de uma maneira descontraída e produtiva.
Artistas de talento e que felizmente conquistaram o apreço do público baiano, levando para o teatro, inclusive, muitas pessoas que não atuam na área artística.
A Bahia é berço de grandes nomes das artes e tanto Tavares quanto Praddo obtiveram o reconhecimento merecido pelo trabalho que realizam, em especial no grupo de teatro Nú, o qual nasceu com o objetivo de valorizar o ator e a palavra (o texto). Na época foi criado um blog para divulgar o grupo e difundir as ideias sobre o fazer teatral - teatronu.wordpress.com

Como em todos os encontros, para que o público tenha um panorama da carreira dos convidados, e assim seja possível a realização de perguntas específicas sobre a carreira e o fazer teatral, foi solicitado que os convidados expusessem como descobriram o gosto pelo teatro e destacassem momentos marcantes das suas trajetórias.
Enquanto Gil Vicente Tavares enveredou pela carreira acadêmica
- é professor doutor da UFBA - Marcelo Praddo chegou a trabalhar como professor substituto e disse que cada vez mais tem a vontade de lecionar. Ambos evidenciam um grande amor pelo ofício.

GIL VICENTE TAVARES é graduado pela Escola de Teatro da Universidade Federal da Bahia (1999) e é doutor em Artes Cênicas pela mesma Universidade. Já encenou textos de sua autoria, entre eles, Os Javalis, Sade, Os Amantes II, Os Pássaros de Copacabana e Vixe Maria! Deus e o Diabo na Bahia, e também textos de grandes nomes do Brasil e exterior, como Sargento Getúlio, a partir da obra de João Ubaldo Ribeiro, Quartett, de Heiner Muller (sua peça de formatura na escola de teatro e que remontou em 2014 para comemorar 15 anos de profissão), O Despertar da Primavera, de Wedekind, e Um Vânia, adaptação da obra original Tio Vânia, do dramaturgo russo Antón Tchekhov.
Sade foi um espetáculo criado para sua dissertação de mestrado intitulada A Herança do Absurdo, publicada na forma de livro pela Edufba em 2016.
Os Javalis já teve leituras em Portugal e, em julho de 2006, Gil Vicente Tavares foi à Itália onde Os Javalis e os Amantes II foram lidos e discutidos por artistas.
Tavares contou que o maior trunfo de toda a sua trajetória é a oportunidade de aprender com grandes artistas: Harildo Déda (que o convidou para a assistência de direção em Baal, de Bertolt Brecht), a atriz Yumara Rodrigues, o diretor Ewald Hackler, a atriz Jussilene Santana (que participou da fundação do Teatro Nú com a encenação de Os Amantes II), entre tantos outros nomes.

MARCELO PRADDO
Assim como Tavares, Praddo é baiano.
Começou a se interessar pelas artes sob influência dos seus pais e traz na memória as declamações de sua mãe.
O teatro entrou na sua vida durante a graduação de Arquitetura, quando participou de um coral chamado Corana, o qual utilizava a performance nas apresentações.
A vontade de fazer teatro foi crescendo e o seu início na área foi como integrante do grupo Via Magia, que tinha como meta a realização de trabalhos pautados pelo afeto, e logo em seguida prestou o vestibular para a Escola de Teatro da UFBA, iniciando o curso em 1990.
Segundo Praddo, era um momento áureo do teatro baiano. Ele, em parceria com artistas e professores da UFBA, revolucionou a Escola com a realização de mostras de espetáculos, impulsionando a criação e valorizando a iluminação e a concepção cenográfica. Era uma época em que a acomodação dominava as práticas de ensino e de criação da Escola, e eles conseguiram dar vida à instituição.
Entre os grandes nomes do teatro baiano, com os quais teve o privilégio de trabalhar e conviver, cita Carmen Paternostro, coreógrafa e professora da Escola de Dança da Universidade Federal da Bahia (Ufba) e Fernando Guerreiro, com quem trabalhou (destaque para Boca de Ouro, de Nelson Rodrigues).
Também realizou cerimônias e teatro empresa, os quais lhe renderam um bom sustento.

Sergio Sobreira pediu para Gil Vicente falar sobre a seleção da dramaturgia e a relação com o público.
Segundo o artista, o Teatro Nú tem como objetivo principal montar textos de sua autoria e uma característica de sua trajetória é a existência de um hiato entre a criação do texto e a oportunidade de levá-lo ao palco. Isso acontece pela dificuldade de produção, especialmente em virtude da demora de aprovação nos editais.
De qualquer maneira, sempre que escreve as peças pensa no palco, na cena e na reação do público. São obras de caráter político, não panfletário (importante frisar) e que trazem humor sempre com o objetivo de provocar o espectador.
Citou como exemplos O Javali, que além de trazer o humor é um texto ágil, e Sade, que além de um forte teor político, traz também um forte teor sexual.
Tavares salientou que sempre escreve pensando nas possíveis pautas e apresentações que a encenação do seu texto poderá gerar. Mesmo quando assina adaptações, como no caso de Sargento Getúlio, leva para o público reflexões que povoam a sua cabeça.

A prof(a) Deolinda já conferiu diversos trabalhos do Teatro Nú, grupo que conheceu assim que chegou na Bahia e começou a lecionar na UFBA.
Sem desmerecer nenhuma realização, disse que Um Vânia, projeto da Companhia de Teatro da UFBA, em parceria com o Teatro Nú, sob a direção de Gil Vicente Tavares, foi um espetáculo que a marcou bastante, e elogiou a interpretação de Marcelo Praddo como o protagonista Tio Vânia.
Perguntou ao ator se é diferente quando Gil dirige os seus textos e quando ele dirige os textos de outros autores.
Praddo disse que Gil Vicente é sempre muito prático e os seus textos são de fácil compreensão e leitura. Neste sentido, seja encenando textos de sua autoria ou de outros dramaturgos, sempre se debruça deixando as marcas da sua personalidade e pensando sempre na forma em que deseja contar as histórias.
Sobre interpretar Tio Vânia, Praddo declarou que é uma ¨massagem no coração¨ e que é muito gratificante atuar com um elenco tão competente, em especial Gideon Rosa, que na sua opinião é o ator mais elegante da Bahia.
Disse que Os Pássaros e Um Vânia foram encenados no mesmo ano. No primeiro, ele interpretava um travesti e no segundo, mergulhou no universo russo, que trazia muitas similaridades com o Brasil também.
Como Um Vânia apresenta uma estrutura complexa, o espetáculo não tem sido apresentado com frequência, diferente do que acontece com Os Pássaros.
Para quem desconhece a trama de Os Pássaros: trata-se de um solo musical do ator Marcelo Praddo, com texto e direção de Gil Vicente Tavares. Conta a história de uma travesti que ensaia um musical em homenagem ao compositor Ary Barroso e traz como pano de fundo o Golpe Militar de 1964.

Deolinda também declarou que quando chegou na Bahia o que mais lhe chamou a atenção foi a realização de um teatro focado na força do texto e na interpretação do ator.
Assim que conheceu Gil Vicente Tavares, percebeu que o seu trabalho seguia por essa linha de encenação e notou a sua paixão pelos clássicos, bem como a sua devoção pelos grandes mestres.
Neste sentido, ela o questionou sobre como é fazer teatro valorizando a dramaturgia num país que não possui o hábito da leitura.
Gil contou que o seu pai, Ildásio Tavares, que foi um grande poeta e compositor baiano, sempre o incentivou a ler e a andar com pessoas mais velhas e experientes. Por esse motivo, sempre foi ávido pela aprendizagem e pela transmissão dos saberes.
Começou a compor músicas muito cedo e teve como suas grandes inspirações os artistas que trabalharam sempre com a palavra, como Chico Buarque, Caetano Veloso e Gilberto Gil. Neste sentido, a sua relação com o texto também foi primordial no seu trabalho como artista de teatro.

Apesar de ser muito difícil encenar clássicos aqui no Brasil (devido à necessidade de um grande elenco e uma grande produção), disse que tem um carinho especial pela sua montagem de Tio Vânia.
Não executa mais projetos porque só coloca uma peça em cartaz quando existe a possibilidade de retorno financeiro e a previsão de uma boa quantidade de público. Faz um teatro que prima, portanto, pelo profissionalismo e com o objetivo de dialogar com o espectador.
¨Faço teatro porque quero certas coisas e para dialogar com o público¨. Gil Vicente Tavares

Sergio Sobreira solicitou que Gil Vicente explorasse como é o seu processo de criação, focando a sua fala na experiência em transitar por diversos estilos e assinar espetáculos que vão desde monólogos a produções com elenco numeroso.
Também direcionou uma pergunta com essa mesma linha de raciocínio para Marcelo Praddo, pedindo para o ator falar sobre a sua experiência de atuar em espetáculos de vários estilos.
Gil disse que gosta de navegar por diversas linguagens para aprender com cada trabalho que realiza. É um artista sempre em busca do aprimoramento e que tem como meta provocar sempre, na escrita, na direção e no discurso que propõe.
Vê cada peça como um cofre que precisa de uma chave certa para abri-lo. Para descobrir qual é a chave, é preciso sair da zona de conforto e estar sempre aberto a desafios.
Sempre duvida do seu potencial enquanto criador e por isso demorou para dirigir os seus próprios textos e inserir a música nos espetáculos.
Não tem nenhum pudor em dizer que é inseguro com relação a novos projetos e tem medo de permanecer numa zona de conforto. Isso mostra o quanto Gil Vicente Tavares traz consigo a humildade de ouvir o outro durante o seu processo de criação, especialmente os atores com quem trabalha.
Marcelo Praddo informou que cada personagem que interpreta é um mergulho no escuro e cada espetáculo é um presente.
Cada trabalho traz peculiaridades no modo do entendimento do texto e do personagem e isso faz com que o ator cresça cada vez mais.
Não tem um método de criação. Se prepara fisicamente de acordo com as necessidades dos personagens.
Para os Pássaros de Copacabana, por exemplo, teve que se preparar para cantar e contou com o apoio precioso da preparação corporal de Bárbara Barbará, que assinou a direção de movimento do espetáculo.
Disse que a qualidade essencial para um ator é não trazer na sua interpretação cacoetes, características de sua personalidade, pois ser ator é se anular para dar vida aos personagens.
¨O que me encanta no teatro é a possibilidade que eu tenho de ser outro¨. Marcelo Praddo


Deolinda perguntou a Gil como o seu trabalho de diretor e dramaturgo interfere na área acadêmica.
Disse que, assim como no teatro, encara a sua tarefa como professor como um desafio e aprendizado. Sempre reformula a maneira através da qual ministra as suas disciplinas na faculdade.
Tem como objetivo, tanto como artista como docente, estar em contato com pessoas que possam lhe ensinar, que possam contribuir pra o aprimoramento do seu conhecimento.
Nunca está confortável, sempre acredita que pode melhorar, além disso defende que o professor também aprende com o aluno. Muitas vezes as suas criações como diretor foram alimentadas por soluções cênicas que observou no ambiente acadêmico.
Neste sentido, a faculdade mostra caminhos que podem ser seguidos no teatro e jamais um professor pode deixar que um aluno fique preso a teorias e modismos.
Não existe uma fórmula para ensinar e criar; na sua visão, é preciso sempre repensar, modificar e estudar os grandes mestres (que precisam ser respeitados mesmo que discordemos de suas teses).

¨A Universidade é o lugar onde os mestres estão concentrados¨. Gil Vicente Tavares

Com relação à pandemia, não existem, pelo menos ainda, projetos em processo de criação e/ou produção, mas Gil Vicente Tavares contou sobre as perspectivas para o futuro e o que em feito na quarentena.
Disse que está fazendo um programa para a TV e que está lendo muito. Tem pensado no Brasil enquanto um artista que cria os seus textos traçando sempre paralelos com a nossa realidade. É um dramaturgo que procura dissecar os momentos cruciais da história, realizando um teatro político.
Está debruçado na leitura do livro A Construção da Ordem / Teatro de Sombras, de José Murilo de Carvalho, que analisa o Brasil no Século XIX. O autor faz uma análise crítica das elites políticas brasileiras e mostra que a sociedade comum, formada por trabalhadores e escravos, não tinha nenhuma legitimidade. Quem dominava o país eram os donos da terra, uma elite que mamava nas tetas do governo.
Através dessa obra, Gil tem refletido sobre o surgimento do fascismo, que é uma ideologia que tem como força propulsora o domínio das elites e o autoritarismo. Uma ideologia que se contrapõe ao comunismo e que, por estar em evidência no Brasil atual o interessa bastante. Pode ser que o seu próximo texto trabalhe com essas questões, mas a ideia é não falar do Brasil atual para evitar um tom panfletário.

Questionado sobre como é manter um grupo de teatro e o que ele pode dizer a quem pretende se dedicar ao teatro, Tavares disse que o Teatro Nú, apesar do sucesso, da boa receptividade que obtém do público, não apresenta um trabalho contínuo devido às dificuldades de se produzir no Brasil.
De qualquer maneira, salienta que o reconhecimento é sempre fruto de muita dedicação e que o artista tem que pensar sempre na sua verdade e no teatro que deseja fazer.
O artista tem que desconfiar de si mesmo para nunca se acomodar. Tem que estar em eterno processo de aprendizado, através do contato com o outro, através do contato com pessoas mais experientes. E, além disso, precisa pensar sempre no público.

Gil Vicente Tavares é diretor, dramaturgo, compositor e professor da Escola de Teatro da UFBA. Doutor em artes cênicas, teve sua tese publicada pela EDUFBA com o título a Herança do Absurdo. Em 2006, criou o grupo Teatro NU. Com mais de dez espetáculos realizados, o grupo vem acumulando prêmios. Destacam-se, em sua produção, Sargento Getúlio (2011); Quarteto (2014); SADE (2015), Os Pássaros de Copacabana; e Um Vânia, de Tchekhov.

Marcelo Praddo é ator, diretor e produtor cultural. Um dos mais atuantes das artes cênicas baianas, Praddo é Bacharel em Interpretação Teatral, pela UFBA. Em mais de 30 anos de carreira, trabalhou com os mais significativos diretores teatrais de Salvador. Foi indicado ao Prêmio Braskem de Teatro por 4 vezes, tendo sido vencedor pelos espetáculos “Boca de Ouro” (Dir: Fernando Guerreiro) e “Os Pássaros de Copacabana” e “Um Vânia, de Tchekhov” (ambos dirigidos por Gil Vicente Tavares). É integrante do Teatro NU desde 2008.

E na próxima terça-feira, dia 20 de outubro, com muita honra, receberemos Paulo de Moraes, da Armazém Companhia de Teatro, um dos diretores e um dos meus grupos prediletos na cena nacional!
INSCRIÇÕES ABERTAS A PARTIR DA ZERO HORA DE 14 DE OUTUBRO E ATÉ ÀS 23h59 DO SÁBADO 17 DE OUTUBRO!
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DE OLHO NA CENA BY NANDA ROVERE - TUDO SOBRE TEATRO, CINEMA, SHOWS E EVENTOS Sou historiadora e jornalista, apaixonada por nossa cultura, especialmente pelo teatro.Na minha opinião, a arte pode melhorar, e muito, o mundo em que vivemos e muitos artistas trabalham com esse objetivo. de olho na cena, nanda rovere, chananda rovere, estreias de teatro são Paulo, estreias de teatro sp, criticas sobre teatro, criticas sobre teatro adulto, criticas sobre teatro infantil, estreias de teatro infantil sp, teatro em sp, teatros em sp, cultura sp, o que fazer em são Paulo, conhecendo o teatro, matérias sobre teatro, teatro adulto, teatro infantil, shows em sp, eventos em sp, teatros em cartaz em sp, teatros em cartaz na capital, teatros em cartaz, teatros em são Paulo, teatro zona sul sp, teatro zona leste sp, teatro zona oeste sp, nanda roveri,

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