Eduardo Moreira e Inês Peixoto, do Grupo Galpão, entrevistam Gabriel Villela
Para quem acompanha a trajetória do Grupo Galpão, de Gabriel Villela, e ama o teatro.
Histórias da criação de três excelentes espetáculos, Romeu e Julieta, A Rua da Amargura e Os Gigantes da Montanha, entremeadas pela trajetória do Galpão e Villela, que se conheceram pelos Festivais do Brasil e conquistaram o público com trabalhos memoráveis.
¨O Galpão sempre vai dar certo porque cada um é um tipo muito importante absoluto dentro do grupo¨. Gabriel Villela
¨O Galpão é uma potência atômica, uma força revitalizante. Um milagre¨. Gabriel Villela
¨Uma sorte cruzar na minha vida com Gabriel. Um presente que a vida me deu¨. Inês Peixoto
¨União de Gabriel Villela: disseminadora do teatro no Brasil profundo; um mergulho no Brasil profundo com sofisticação¨, Inês Peixoto e Eduardo Moreira, ressaltando que muita gente decidiu fazer teatro após assistir aos espetáculos do grupo.
ROMEU E JULIETA
1992
Gabriel Villela destaca que o seu encontro com o Galpão foi ¨um desabrochar para a cultura popular brasileira, um encontro com a estética popular, com os arquétipos, a mineirice e com a riqueza dos mitos arraigados em Minas Gerais”.
Eduardo Moreira, por sua vez, destacou que foi muito especial a ideia de Villela usar a Veraneio como cenário de Romeu e Julieta, uma decisão que o diretor tomou antes ainda de decidir qual texto encenar.
A Veraneio, as pernas de paus dos atores, que atuam numa trave de 2 metros de altura, o cancioneiro popular, o linguajar próximo ao universo de Guimarães Rosa - e a magia se fez presente: a lua e o céu abrilhantando a história de Romeu e Julieta.
Inês Peixoto ficou encantada pelo teatro de Villela quando assistiu a Vem buscar-me que Ainda sou Teu, (1990), e disse que trabalhar com ele no Galpão foi um imenso presente.
Gabriel queria um encontro com as suas raízes e sair da capital. Foram ensaiar em Morro Vermelho, distrito de Caeté, em frente a uma bela igreja barroca de Nossa Senhora de Nazaré.
Eram hospedados pelo padre e todos os dias os ensaios aconteciam com a presença de moradores, muitos deles vendo teatro pela primeira vez na vida.
O Grupo Galpão sempre faz o registro de todas as suas realizações e toda a conversa é ilustrada por vídeos preciosos.
Gabriel narra com a sua habitual fala com poesia os momentos em Ouro Preto, a estadia em Morro Vermelho, o barro, o chão, a abóboda do céu... e muitas histórias de um espetáculo que encantou o Brasil, encantou Londres por três vezes (duas delas no Globe Theatre, templo de Shakespeare em Londres).
Assistam ao vídeo para desfrutarem dos relatos sobre o sucesso na terra do dramaturgo). A peça foi apresentada em Dresden, na beira de um rio na Venezuela, entre tantos e tantos lugares.
A aplicação do barro, do reboco das paredes, no figurino, as cores de Van Gogh e as cores de Minas; o cenário especial, os instrumentos e o estudo do Galpão e o imaginai de Villela fizeram deste espetáculo um dos grandes acontecimentos da história do teatro.
Romeu e Julieta – goiabada com queijo feito com a alma do interior do Brasil - por isso encantou plateias mundo afora.
Um modo único de encenar a obra tão famosa do bardo através de um teatro litúrgico e festivo com muito apuro (o que também ocorreu em A Rua da Amargura) .
¨Não tínhamos dinheiro, mas tínhamos um tempo imenso para fazer teatro¨. Gabriel Villela
Durante uma viagem a Ouro Preto, houve um acidente e a Julieta Wanda Fernandes faleceu. Um momento de dor que fez com que Villela tivesse pulso firme para guiá-los no próximo trabalho.
A RUA DA AMARGURA
14 passos lacrimosos sobre a vida de Jesus(1994)
O grupo e o diretor tinham várias ideias, mas a decisão pela A Rua da Amargura ocorreu porque é uma história que fala de amor e dor. Um texto rebuscado, difícil, mas que Villela e Galpão transformaram em uma obra-prima.
Gabriel pensa no chão em que o ator vai pisar, e nesse trabalho o piso é de espuma, como se os personagens caminhassem na areia do deserto.
Um mergulho no circo-teatro que Villela ama e conhece profundamente. O belo e o ¨mau gosto¨ típico desse gênero (e maravilhoso) numa união perfeita. A ressurreição no palco e na vida, especialmente para Eduardo (Jesus), que era marido de Wandinha.
Pela primeira vez na vida do grupo conquistou patrocínio (a peça estreou no CCBB – Centro Cultural Banco do Brasil, do Rio de Janeiro).
Para Villela, dois momentos desse espetáculo são sublimes e diz muito do que é uma parceria entre ator e diretor.
Eduardo trouxe da Espanha uma mala que ele encontrou e o diretor fez questão de usá-la em cena.
O artista Mário Márcio criou uma maquete de Jerusalém. Numa das cenas mais lindas do nosso teatro, Jesus chora sobre Jerusalém.
OS GIGANTES DA MONTANHA
Mais um encontro mágico com o Galpão. Um texto inacabado de Luigi Pirandello e a delicadeza de Villela.
Uma história que conversa com o realismo fantástico e coloca atores falidos de uma companhia em contato com uma cidade de fantasmas – e as pessoas ficam fascinadas, especialmente as crianças. ¨Parece que Pirandello tomou ácido para escrever o texto”, disse Eduardo Moreira.
Um dos destaques, pontuados por Moreira foi a pesquisa de música italiana que é o trunfo da trilha sonora, além da ideia de levar a obra para a rua.
Grupo Galpão levando multidões para a rua – 8000 espectadores na Praça do Papa em BH, e também em BH 12000 no Parque Ecológico da Pampulha.
Para Villela foi uma alegria fazer esse espetáculo, o qual significou uma declaração de amor ao Galpão e, na sua opinião, a sua maturidade enquanto diretor (que entrava em cena com a música Fascinação, na voz de Elis Regina).
O diretor ressaltou que esse espetáculo evidencia que teatro se faz com loucura e magia. “É a matéria-prima que eu quero para o meu trabalho e que deve ser também a do Galpão¨.
Inês e Eduardo questionaram Villela sobre a quarentena, como está lidando com o isolamento e a arte.
¨A arte está maltratada porque o artista tem o dom de tornar a ¨mentira verdade¨ e a ¨verdade mentira¨, e os governantes têm sede de pular na jugular dos artistas por não aceitarem esse nosso poder¨, avaliou o diretor.
Villela tem um pensamento otimista. Crê que temos dois vírus para combater, o Corona vírus e a política com características neofacistas, mas enxerga uma luz nas trevas.
Inês e Moreira questionaram o diretor sobre qual seria o futuro trabalho, sinalizando o interesse de que ele ocorra.
Gabriel Villela disse que tem vontade de se debruçar nos clássicos pós pandemia, e que já tinha o projeto de estreia de Henrique IV, de Luigi Pirandello, para agosto, com produção de Claudio Fontana, mas com a pandemia o espetáculo teve que ser adiado.
Para saber o trabalho que gostaria de realizar com o Grupo Galpão, assistam a essa entrevista que faz uma viagem por momentos importantes do nosso teatro.
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