Na última segunda-feira, 31 de agosto, a prof(a). Mona Magalhães guiou um proveitoso encontro entre o diretor de teatro Gabriel Villela e alunos da UNI/Rio e convidados. Participaram também artistas renomados que trabalharam com o diretor, como Lydia del Picchia (atriz do Grupo Galpão e assistente de direção de Auto da Compadecida no espetáculo do Grupo Maria Cutia), Cesar Baptista (assistente de direção por diversos anos), Vivien Buckup (preparadora corporal e assistente de direção em diversas montagens) e Douglas Novais (Os Geraldos).
Ouvir Villela falar de sua trajetória é sempre um mergulho na cultura popular e no circo. Com a ajuda de seus amigos e parceiros, fez uma análise profunda sobre o seu processo de criação e a riqueza da nossa cultura popular que o inspira, especialmente a mineira (e também a nordestina – através de observações pontuadas pelo ator e diretor potiguar Rosinaldo Luna).
Gabriel tem uma forma peculiar de nos trazer a riqueza das Minas Gerais através da alma dos personagens, na cor e textura de todos os elementos presentes no palco.
O barro é um dos elementos usados nos seus figurinos que promovem a conexão da sua arte com a terra de Minas, com a sua origem do interior, numa alusão a sua cidade, que fica à beira da represa de Furnas. A força da terra, a magia da arte mineira que com a tragédia de Mariana ganhou contornos trágicos.
O barro contornando os corpos dos atores de Morte e Vida Severina, que Villela dirigiu em Minas, e levou os atores para Furnas e lá começou o processo de criações do espetáculo, com certeza é um momento especial da sua ligação com a pigmentação vinda da terra, com as dores e alegrias de um povo.
O diretor falou sobre o barro presente no figurino de Romeu e Julieta e, no decorrer da conversa, falou sobre o encontro com o Grupo Galpão, citando que ele aconteceu em uma época em que sentiu a necessidade de voltar para as suas raízes de Minas - de trabalhar com um grupo de teatro.
Gabriel é reconhecido no meio artístico por ter um imaginai que ganha vida através de sua sensibilidade para o belo.
Seja em seu ateliê de criação em São Paulo ou em suas viagens para dirigir diversos grupos de teatro como o natalense Clowns de Shakespeare, os mineiros Galpão e Maria Cutia, Os Geraldos de Campinas, dentre outros, o diretor sempre mostrou que estar com tudo pronto, de forma primorosa, dias antes da estreia, é essencial para a qualidade de um trabalho.
Seu processo de criação é vestir os atores com os figurinos já no primeiro dia de ensaios e a partir daí criar as cenas com os personagens. O figurino é uma segunda pele do ator delimitando o seu deslocamento no palco e os seus gestos. Como os espetáculos dirigidos por Gabriel não possuem um tom naturalista, o corpo do ator sai da sua função cotidiana para ganhar ares de magia.
Além do figurino, vale dizer, a música também é elemento essencial para traduzir o universo da fábula apresentada ao público.
Um exemplo desse princípio de criação é a personagem Lady Macbeth, interpretada por Claudio Fontana. O seu andar começou a ganhar forma a partir de um manto, do seu peso e da sua movimentação no corpo do ator.
Além de detalhar a concepção dos figurinos, Villela expressou o quanto valoriza o uso das máscaras, como no caso de Estado de Sítio, que nos levam para a liturgia do grotesco. Nela, os objetos perdem a sua função habitual e ganham outro significado. O grotesco ganha ares delicados num caminho em que a beleza emana mesmo na sisudez. ¨A arte percorre o caminho da beleza”, defende Villela.
Escrever com exatidão tudo o que foi dito não é possível porque Gabriel foi tecendo o seu pensamento a partir de questionamentos e comentários que o fizeram contar com muita profundidade detalhes de um teatro que cativa pela magia.
O diretor pontuou a sua insatisfação com a nossa atual situação política e a falta de respeito para com a cultura. O privilégio de participar de um encontro com estudantes e profissionais das artes é enorme, pois Villela, ao falar da sua experiência de vida e de sua visão da arte, nos faz acreditar que o teatro tem o poder de transformação.
A ideia foi pontuar algumas falas. O seu jeito de contar os causos da sua carreira é muito terno e cativante! Mesmo anotando tudo o que foi exposto, é impossível mostrar ao leitor a preciosidade que é ouvir esse artista! Gabriel Villela nos dá a esperança de um mundo melhor através da delicadeza.
Ele nunca constituiu um grupo de teatro com nome e firma reconhecida, mas além de já ter dirigido grupos excelentes, construiu ao longo do tempo, em 31 anos de carreira profissional, parcerias primorosas com artistas que são essenciais para a garantia da qualidade dos seus espetáculos.
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