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Entrevistas e dicas de espetáculos

O imaginário de Gabriel Villela na live realizada por Pedro Leão
Publicado em 02/08/2020, 22:00
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“VIRÁ A AURORA DOS DEUSES DO OLIMPO PINGANDO MEL SOBRE NÓS, PARA QUE AS COISAS FIQUEM MELHORES¨
¨É NATUREZA DA ARTE MINEIRA IR ATRÁS DA BELEZA¨

¨A GENTE TEM TUDO PARA FAZER UM GRANDE TEATRO¨

¨O BORDADO TANTO QUANTO AS OUTRAS ARTES ESTÃO PRESENTES DE UMA FORMA FANTASIOSA, MAS COSTUMO DIZER QUE COSTURO CADA ESPETÁCULO COM UMA COLCHA DE FIOS DE OVOS¨ (QUE EXIGE DELICADEZA PARA O PONTO CERTO)
GABRIEL VILLELA

LIVE
GABRIEL VILLELA ENTREVISTADO POR PEDRO LEÃO
@oficialpedroleao em duas partes

Parecia que estávamos numa roda de amigos apaixonados por teatro – e estávamos - saboreando café com pão de queijo e bolo (diet), numa típica mesa mineira da roça; celebrando fim da pandemia e a esperança de um mundo melhor.

Vou postar aqui apenas alguns momentos da live que feita com Gabriel Villela dentre tantos que marcaram o evento, com um grande diretor que faz magias no teatro e cujas falas também são de uma magia que encantam. Uma delícia ouvir tudo isso, em uma conversa guiada com competência por Pedro Leão, ator, jornalista e apresentador.

ANTONIO GABRIEL SANTANA VILLELA, o Gabriel Villela, e suas lembranças de Carmo do Rio Claro

Gabriel Villela começou a live citando a magia em torno do seu nascimento, os possíveis discos-voadores, a cidade, a fazenda Estalagem, o nascimento de Furnas.... Não, não é alucinação (seria realismo fantástico?!). São causos contados pelo povo mineiro, e como disse o artista, ¨o povo mineiro pode florear as histórias, mas não mente¨.
O apresentador Pedro Leão elogiou as criações de Gabriel Villela, colocando-as no patamar de obra de arte, devido à beleza e qualidade, criações essas que nos trazem o imaginário de Minas. Disse que os seus trabalhos são tão belos que podem ser emoldurados como uma fotografia. ¨É grandioso, luxuoso, mas é simples, é confortante e lúdico. ¨
Villela contou fatos relacionados à sua origem, na cidade de Carmo do Rio Claro, sul de Minas Gerais, cidade que para ele é muito especial, o sítio, a poesia em torno da sua vida e da sua família.
Falou da sua mãe bordadeira e a influência maior da sua tia Zilda com o seu ateliê, enquanto ajudava o seu tio Tonho no tacho de doces.
Todos tinham uma relação com o bordado. A família era recheada de arte nas suas diferentes formas, o que fez com que o diretor carregasse até hoje a delicadeza nas suas ações pessoais e profissionais.
Gabriel também citou a avó Carmelita, pianista de muito talento, erudita e popular, e que dá nome ao Teatro Municipal na cidade de Carmo do Rio Claro.
Tantas belas recordações, salientando a religiosidade, a liturgia das refeições, o respeito à música, presente também na casa do seu tio Milton e da tia Lurdes. O pai, que amava a literatura e a poesia; o avô Totonho, que escrevia sonetos.
Disse que não aprendeu a costurar como a sua mãe e irmãos, e que seu bordado não era tão precioso por ele ser canhoto, mas ser ambidestro para algumas outras funções; aprendeu, sim, a bordar olhando a sua família bordando, e também de maneira autodidata numa revista sobre o assunto.
Lembranças que nos remetem às suas criações, as quais carregam as referências de toda a sua vivência nas minas gerais.
Villela carrega todo o imaginário de sua terra, muito famosa pelos doces em compotas com desenhos e dizeres e a bela Serra da Tormenta, emoldurando a paisagem com o lago de Furnas.
Pedro Leão o questionou sobre a cultura popular e regional nas suas criações artesanais.

¨ERA O REFINAMENTO O QUE ME INTERESSAVA, NÃO ERA A COISA EM SI. O QUE ME INTERESSAVA ERA ACHAR O PONTO, SEJA NO BORDADO, SEJA NA MELODIA, NO TOM, NA CANTORIA, SEJA OUVINDO CHOPPIN CLÁSSICO”. GABRIEL VILLELA

Também abordou a sua relação com o patrimônio mineiro, as igrejas, a religiosidade e as descobertas do barroco na época de estudos. A curiosidade mineira e a relação com o Barroco, a reconstituição das cidades históricas pela Fundação Roberto Marinho, e tantas cidades preciosas com as suas riquezas culturais, vizinhas a Carmo do Rio Claro.

GABRIEL VILLELA E MILTON NASCIMENTO

Um dos trabalhos mais belos do diretor é o show Tambores de Minas e ele falou como conheceu o músico, que, como ele, carrega Minas na alma e nas criações.
Milton Nascimento residiu em Três Pontas, que é muito próxima de Carmo do Rio Claro, e o diretor, com uns 12 anos, sem poder entrar nos bailes que Milton fazia, ouvia o seu canto,com a sua banda, de fora dos salões.Citou a música Only You como uma canção marcante. ¨Um timbre de voz superior, divino¨, elogiou. Tambores de Minas foi o seu (re) encontro com o barro milenar.
Questionado sobre se já encontrou o ponto no teatro ou se a sua pesquisa será infinita, disse:

ENCONTREI O PONTO DE PARTIDA PORQUE O PONTO DE CHEGADA SÓ DEPOIS DA MISSA DE SÉTIMO DIA. NA ARTE NÃO EXISTE PONTO DE CHEGADA, O ARTISTA SÓ CONCLUI TRABALHOS PORQUE O TEMPO DA VIDA É PEQUENO PARA O ARTISTA CRIAR”. GABRIEL VILLELA

E toda a live foi recheada de causos... é preciso assisti-la para ver quantas histórias interessantes foram contadas.
Pedro abordou também o mundo lúdico de Villela e diversos espetáculos como Você vai ver o que você vai ver, A Vida é Sonho, salientando o seu currículo diverso e questionando-o sobre os seus projetos pós pandemia e a tão desejada vacina.
Gabriel Villela informou que depois da pandemia quer se dedicar aos clássicos de forma mais radical.

¨É NATUREZA DA ARTE MINEIRA IR ATRÁS DA BELEZA. O MUNDO ESTÁ FEIO E OS ARTISTAS TENDEM A CORRER EM DIREÇÃO DA BELEZA PARA QUE SE CRIEM DIALÉTICAS E ASSIM PODERMOS PENSAR EM UM MUNDO MELHOR, MAIS CARINHOSO E MAIS AFETUOSO”. GABRIEL VILLELA

Gabriel também refletiu dizendo que vivemos nas trevas e que não acredita em mudanças rápidas porque, na sua opinião, é difícil esperar algo dos governantes numa sociedade bipartida entre o respeito e o desamor e a mesquinhez do mundo capitalista. Mas ainda acredita num mundo mais harmônico através da arte, prevendo, entretanto, que isso pode demorar bastante...

¨VIRÁ UMA AURORA DOS DEUSES DO OLIMPO PINGANDO MEL SOBRE NÓS, PARA QUE AS COISAS FIQUEM DOCES”.“O MUNDO VAI PRECISAR PENSAR MAIS NO MUNDO DO OUTRO. AS BELEZAS NO CAMPO DAS ARTES CRIARÃO JORNADAS MELHORES PARA OS QUE VIRÃO DEPOIS DA GENTE”. GABRIEL VILLELA

ESTADO DE SITIO - As trevas e a esperança de um mundo melhor através do lúdico e do amor.

Em 2018, estreou o arrebatador e premonitório espetáculo e Gabriel também falou um pouco sobre isso: as cores escuras para retratar as trevas da obra de Albert Camus e as referências de Goya para a criação artística; como foi trabalhar com cores apagadas para quem tem como referência a arte popular e o seu colorido característico.
Destacou que a sua formação foi traçada por um tripé e depois foi aperfeiçoada na USP e direcionada às artes cênicas: o circo-teatro, o teatro na rua, sobretudo as liturgias relacionadas aos ciclos de Jesus e às procissões (que combinam com o teatro barroco na sua polifonia e policromia), e a erudição barroca com o estudo de caráter acadêmico.
Villela fez questão de agradecer aos seus professores e amigos da época da faculdade que o acompanham até hoje. Salientou que é um diretor que prima pela prática e que recorre à teoriacomo apoio para a concepção dos espetáculos.
No início da conversa, Pedro Leão questionou por qual motivo Gabriel Villela não criou um grupo de teatro. Ele voltou ao assunto e contou a história.
Para quem não sabe, Gabriel Villela criou em Carmo do Rio Claro, antes de ir estudar em São Paulo, o Grupo Raízes de Teatro, com o qual encenou, por exemplo, Gota d’água e Morte e Vida Severina. Ele abordou detalhes dessa experiência e afirmou que sempre teve uma ótima relação com os grupos de teatro, tanto que dirigiu o Boi Voador (O Concilio do Amor), Grupo Galpão (Romeu e Julieta, A Rua da Amargura, Os Gigantes da Montanha), os Clowns de Shakespeare (Sua Incelença, Ricardo III), o Maria Cutia (Auto da Compadecida) e quando a pandemia chegou estava em processo de criação com Os Geraldos do espetáculo Cordel do Amor sem Fim, texto de Claudia Barral.

Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna. “MARIANA ARRUDA (a Compadecida) USA UMA DAS ROUPAS MAIS LINDAS QUE EU JÁ FIZ NA VIDA¨.

A criação foi feita com o barro mineiro (e com a colaboração da Babaya na pigmentação da arte popular no figurino).
No decorrer da conversa, falou sobre Romeu e Julieta e o encontro com o Grupo Galpão, citando que ele aconteceu em uma época em que sentiu a necessidade de voltar para as suas raízes de Minas - de trabalhar com um grupo de teatro - para não perder a sua essência e a humildade diante do sucesso. Falou sobre o encontro com o Grupo, com a grande atriz Teuda Bara, num trabalho de grande repercussão (que encantou o público do Globe Theatre em Londres).
Salientou que nunca criou um grupo de fato, mas que no teatro um artista nunca está sozinho. Declarou que no decorrer da sua trajetória criou laços profissionais com atores e artistas com os quais gostaria de caminhar até o fim.
Muitos artistas estavam conectados na live e geraram comentários sobre o teatro, o imaginai do diretor e o talento dos artistas que o ajudam no seu imaginai. Atores como Claudio Fontana, Elias Andreato, Chico Carvalho, Pedro Inoue, Lavínia Pannunzio, Walderez de Barros, Rosana Stavis e JC Serroni na cenografia foram citados.
O diretor reverenciou o encontro entre tantos artistas experientes com quem está surgindo no cenário teatral - artistas de várias fontes e origens que enriquecem os seus espetáculos.
Reverenciou também a riqueza da arte brasileira e do nosso teatro, a nossa escola popular que vem de artistas como Dercy Gonçalves.

- ¨A GENTE TEM TUDO PARA FAZER UM GRANDE TEATRO¨. GABRIEL VILLELA

Citou Antunes Filho como alguém que‘abriu as portas do nosso teatro para o mundo com Macunaíma¨.

¨A ESTRADA FOI PAVIMENTADA DE DOURADO COM TIJOLINHOS VERDE-AMARELO¨. GABRIEL VILLELA

A atriz Maria Padilha estava na live, fez comentários e isso gerou uma fala sobre a atriz, sobre o excelente espetáculo A Falecida, que ela protagonizou e estreou no Festival de Viena, com a presença de teóricos de Nelson Rodrigues, que concederam à produção teatral brasileira o mesmo respeito ofertado à coreógrafa e bailarina alemã, Pina Bausch. A Falecida, segundo Villela, é um espetáculo que ganhou apoio internacional e que mostra que a arte traz dinheiro e divisas, sim.
Gabriel Villela salientou ainda o poder da mulher na arte e Pedro Leão reverenciou as grandes mulheres que participaram das montagens. Entre tantas atrizes lembradas pelo diretor, Ileana Kwasinski, que participou de A Vida é Sonho, de Calderón de La barca.
O texto está cheio de ricas informações, mas a live tem muitos mais detalhes preciosos,momentos deliciosos dos bastidores, como a amizade entre Claudio Fontana e Elias Andreato (quem os conhece sabe o quanto as histórias desses dois deixam a vida da gente mais alegre).
E a conversa não parou por aí: o sítio, os cachorros, a estadia em Minas durante a pandemia, os doces artesanais deliciosos de Carmo, a tecelagem, a paixão pelos doces e, especialmente, pelas GALINHAS (para quem não sabe, elas são uma grande paixão de Gabriel Villela, o que demonstra a sua relação preciosa com a roça, com a terra-mãe e com a natureza.
O crítico, dramaturgo e jornalista Dib Carneiro Neto perguntou se o diretor tem planos de dirigir mais espetáculos infantis. Gabriel Villela contou que está estudando a literatura de cordel para o espetáculo Cordel do Amor sem Fim e que, através de suas pesquisas, chegou até o cordel Pavão Misterioso. Dib, que adaptou Salmo 91, Crônica da Casa Assassinada e escreveu Um Réquiem para Antonio, foi encarregado por Villela para fazer a adaptação para o teatro. Com certeza, será mais um espetáculo de qualidade reconhecida…vamos esperar!
Foi uma conversa muito interessante e que merece ser vista por quem admira o teatro de Gabriel Villela. Uma costura preciosa do universo mágico, onírico, fascinante e encantador do diretor com parte importante da história do nosso teatro.

¨O BORDADO TANTO QUANTO AS OUTRAS ARTES ESTÃO PRESENTES DE UMA FORMA FANTASIOSA, MAS COSTUMO DIZER QUE COSTUMO COSTURAR CADA ESPETÁCULO COM UMA COLCHA DE FIOS DE OVOS¨ (que exige delicadeza para o ponto certo). GABRIEL VILLELA

E finalmente, eu, Nanda Rovere, agradeço ao Pedro pela menção à minha admiração pelo Gabriel Villela enquanto artista e ser humano.
E agradeço ao diretor sobre as palavras sobre mim (licença para o agradecimento e para reforçar que a COMUNIDADE GABRIEL VILLELA está aberta a todos que quiserem participar através do link

https://www.facebook.com/groups/133795370015657/.

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DE OLHO NA CENA BY NANDA ROVERE - TUDO SOBRE TEATRO, CINEMA, SHOWS E EVENTOS Sou historiadora e jornalista, apaixonada por nossa cultura, especialmente pelo teatro.Na minha opinião, a arte pode melhorar, e muito, o mundo em que vivemos e muitos artistas trabalham com esse objetivo. de olho na cena, nanda rovere, chananda rovere, estreias de teatro são Paulo, estreias de teatro sp, criticas sobre teatro, criticas sobre teatro adulto, criticas sobre teatro infantil, estreias de teatro infantil sp, teatro em sp, teatros em sp, cultura sp, o que fazer em são Paulo, conhecendo o teatro, matérias sobre teatro, teatro adulto, teatro infantil, shows em sp, eventos em sp, teatros em cartaz em sp, teatros em cartaz na capital, teatros em cartaz, teatros em são Paulo, teatro zona sul sp, teatro zona leste sp, teatro zona oeste sp, nanda roveri,

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