A Golondrina leva para o palco Tania Bondezan e Luciano Andrey. Dirigida por Gabriel Fontes Paiva, a peça é do espanhol Guillem Clua.
O espetáculo está em cartaz de sexta a domingo no Teatro Nair Belo, localizado no Shopping Frei Caneca, em São Paulo. A temporada termina em 9 de junho e em julho e agosto a peça ocupa o Auditório do MASP.
Carmen Maura está encenando a peça na Espanha. O texto, que também já foi montado em países como Grécia e Inglaterra, discute a libertação e aceitação.
A peça é inspirada no ataque terrorista homofóbico à boate Pulse, em Orlando, em 2016. Narra o encontro transformador entre uma professora de canto, que perdeu seu filho nesse ataque terrorista, e um sobrevivente do atentado.
Tania ficou encantada com a obra, com o seu conteúdo e a urgência de encená-la nos dias de hoje. Foi como se ela tivesse vivido tudo aquilo. Logo se uniu ao produtor Ronaldo Diaféria (foi quem lhe apresentou o texto) e ao Odilon Wagner, seu amigo e parceiro de longa data no teatro.
Durante sete anos a atriz fez Brasil afora a comédia Como ter sexo a vida toda com a mesma pessoa. Um grande sucesso da sua carreira e a experiência de estar sozinha no palco e encenar uma comédia.
Entre interpretações de destaque no teatro, vale citar o seu trabalho no lindo espetáculo Ciranda, de Célia Forte (2011), direção de José Possi Neto.
Outro trabalho marcante, entre tantos, Mambo Italiano (2011), tradução, adaptação e direção de Clarisse Abujamra e produção de Ronaldo Diaféria, com a presença de Luciano Andrey no elenco.
Em Édipo (também de 2011), com direção de Elias Andreato, Tânia interpretou Jocasta. Ela diz que quer voltar com essa peça e deixo aqui a torcida para que ela volte. Direção sensível de Andreato, que também assinou a adaptação.
Na TV, Tania fez A Idade da Loba, na Band. Na Rede Globo, Chiquinha Gonzaga,Terra Nostra e Chocolate com Pimenta. Fez inúmeras novelas no SBT, entre elas, Os Ossos do Barão, Chiquititas, Esmeralda e Cúmplices de um Resgate.
No cinema, acabou de participar do filme O avental Rosa, de Jaime Montardim, e está também nos longas Beijo 2348/72, Alma Corsária, Durval Discos e Pra que Time Ele Joga?
Nessa entrevista para o DE OLHO NA CENA, a atriz fala da sua trajetória e de sua paixão pela peça A Golondrina.
A conversa aconteceu no Restaurante Pimenta romã, que apóia o De Olho na Cena e o espetáculo.
(Obrigada Val Ribeiro Pires pela atenção)
NANDA ROVERE - Como o texto A Golondrina chegou até você?
TANIA BONDEZAN - Ronaldo Diaféria estava com o texto em mãos há um ano e meio, mas ainda não tinha conseguido montar. Sabe quando uma coisa fica guardada para ser mostrada na hora certa?
Eu já estava fazendo Como ter sexo a vida toda com a mesma pessoa, de Monica Salvador, há sete anos e meio. Nesse meio tempo, eu fiz novela no SBT, um filme com o Jaime Monjardim, mas estava querendo um novo desafio. Um dia, liguei para o Ronaldo e ele me disse que tinha esse texto. Ele me mandou e estava em Espanhol. Eu nunca estudei Espanhol na vida, mas enlouqueci tanto com a peça que acabei traduzindo o texto. Estou muito orgulhosa com esse projeto. Escolhi, com a ajuda dos outros produtores, o ator, o diretor e tudo deu muito certo. Eu já fiz outros espetáculos importantes, mas as pessoas dizem que esse é o meu melhor trabalho É como se fosse uma maioridade para mim, na minha carreira como atriz e produtora. Eu estou plena em cena.
NR- O que mais a encantou na obra?
TB - Não é um texto maniqueísta. Não existe verdade absoluta. Tanto o menino quanto a mãe têm razão. Traz uma mensagem linda para os dias atuais. Somos três produtores: eu, o Ronaldo e o Odilon Wagner. Tudo aconteceu rapidamente.
NR- Você comentou que as pessoas estão se emocionando bastante no teatro com A Golondrina...
TB - O público fica encantado porque estamos vivendo tempos difíceis no Brasil e no mundo, homofobia e racismo (parece que o preconceito e a ignorância estão ganhando cada vez mais espaço), e as pessoas assistindo ao espetáculo se sentem profundamente tocadas. A peça traz uma mensagem. Trata do homossexualismo, mas não fala somente para o público gay. Você pode transportar a história para qualquer tipo de aceitação. Uma mãe que sonha para o filho uma carreira diferente da que ele escolheu . O que acontece com o personagem da ¨Golondrina¨ não acontece somente com os gays. Todos os que são considerados diferentes podem sofrer ações violentas em razão do preconceito. Isso é terrível, mas infelizmente nós somos assim. Defendemos o que pertence ao nosso ¨mundinho¨ e em pleno século XXI o mundo é muito maior do que esse ¨pequeno mundinho¨. As pessoas se emocionam muito e dão uma resposta muito positiva para a gente. As pessoas comentam que a peça é teatro no melhor sentido da palavra, um grande teatro.
NR – Já na primeira leitura, o que mais chamou a atenção na sua personagem?
TB - Amélia, o nome da personagem da peça, coincidentemente é o nome da minha mãe. Eu tive uma relação um pouco difícil com a minha mãe. Ela era uma ótima mãe, mas tinha problemas comportamentais de pessoa que vivia no interior, nasceu em 1927, nunca teve acesso a um tratamento médico e no final ela acabou falecendo de Alzheimer...A personagem ter o mesmo nome da minha mãe já foi algo que me tocou de início. E assim como a Amélia eu sou mãe. Não tenho nenhum tipo de problema com o meu filho. Temos uma relação maravilhosa que foi construída e hoje falamos eu te amo diariamente. E a peça fala muito de pais e filhos que não conseguem dizer eu te amo. A Amélia é uma mãe que tenta acertar, como todas as mães, mas não consegue lidar com algumas coisas. No final ela é perdoada porque nessa história não existe um culpado. A mãe acha uma luz no final da peça e se reencontra com o filho morto através das lembranças e com a relação que estabelece com o outro personagem (vivido pelo Luciano).
NR – E como é contracenar com o Luciano Andrey?
TB - Eu escolhi o Luciano porque eu já havia trabalhado com ele no Mambo Italiano, com produção do Ronaldo Diaféria, e coincidentemente, a peça também tinha uma temática gay. Depois o Luciano seguiu para a área dos musicais nos últimos sete anos, e eu fiquei também nos últimos sete anos apresentando ¨Como ter sexo¨. Tanto eu quanto ele estávamos precisando de um teatrão na veia. É um mergulho muito profundo que realizamos na vida dos personagens. A nossa relação é muito intensa. Estou adorando poder contracenar com o Luciano.
NR – Fale um pouco sobre o sucesso de Como ter sexo a vida toda com a mesma pessoa. Como
TB - Eu fiz a peça no Acre, em Roraima, Recife três vezes, Belo Horizonte três vezes, o sul todo, fiz em lugares incríveis e pretendo voltar ainda este ano com o espetáculo. As pessoas acham que A Golondrina é muito difícil (e é!), mas ¨Como ter sexo¨ foi uma grande experiência para mim. Estar sozinha no palco e dar conta de uma platéia, não deixar a peteca cair, é uma tarefa difícil. O diretor Odilon Wagner me ajudou muito. Hoje eu posso dizer que domino qualquer público, mas conseguir isso foi um grande aprendizado.
NR – Em como ter sexo, Odilon dirige e ele é seu parceiro na produção. Como é essa relação profissional?
TB – Somos sócios e amigos faz muito tempo, sou amiga da mulher dele também. Ele não ia produzir comigo A Golondrina, mas ele leu o texto e ficou muito emocionado. Ele enlouqueceu e sempre diz que é um dos textos mais emocionantes que já leu.
NR – Já vi muitas pessoas chegando até você pra cumprimentá-la por trabalho em novelas.
TB – A novela que mais gostei de fazer na minha vida foi Terra Nostra, que está sendo reprisada no Canal Viva. Eu já tinha trabalhado com o Jaime Monjardim em Chiquinha Gonzaga e A Idade da Loba (na Band), mas Terra Nostra é surpreendente porque eu tinha um bom personagem, um bom texto em minhas mãos e um bom diretor. Uma novela marcante para as pessoas foi Esmeralda, no SBT. Viajando com o ¨Como ter sexo¨ no Nordeste as pessoas me paravam para comentar sobre a novela. Eu fazia uma vilã que atormentava uma menina cega e essa novela já foi reprisada várias vezes pelo SBT, e sempre com sucesso. A novela tem mais de quinze anos e as pessoas ainda lembram do meu trabalho.
NR – Enquanto atriz e produtora, o que você pode dizer com relação às mudanças na Lei Rouanet?
TB – Faço parte da APTI (Associação dos Produtores Teatrais Independentes) que tem trabalho muito importante na questão cultural. Temos que ser militantes. As pessoas ficam demonizando a Lei Rouanet sem entendê-la. Claro que houve abuso, mas foi por parte de meia dúzia de pessoas. A renúncia fiscal, de toda renuncia que vai para as outras áreas, como para a agricultura e para a indústria automobilística, a que está relacionada com a Rouanet é mínima (por volta de 0.40 por cento), mas eles pegam no pé dessa lei porque envolve grandes artistas e isso dá visibilidade. A Lei precisa de acertos, mas ela é o único mecanismo que temos para que o teatro continue existindo. São Paulo é uma cidade cultural e precisamos ter peças em cartaz. Os musicais precisam continuar existindo. Os musicais são importantes porque são os maiores empregadores das artes cênicas, fazem um trabalho de alto nível. O que eu acho é que essa nova instrução normativa da Lei Rouanet diminuiu drasticamente os valores de captação, penalizando principalmente os produtores independentes. Para um setor que emprega 1 milhão de empregos diretos isso é muito pouco.
NR – Algo que queira sinalizar na sua trajetória profissional?
TB – Comecei com dança, depois que fui para o teatro. Larguei a Geografia. Tenho uma grande paixão pelo teatro. Depois que você é mordido por ele, não tem mais como escapar. O teatro tem espaço para todo mundo e é uma forma de cultura de um povo. Por esse motivo, a classe tem que se respeitar. Já fiz todo o tipo de teatro e poder exercitar a profissão de todas as maneiras possíveis é maravilhoso. Faço muita TV, menos cinema do que eu gostaria, tudo é válido.
NR – Para finalizar, algo que queira acrescentar ou reforçar?
TB – Gostaria de reforçar a importância da ¨Golondrina¨ para os dias de hoje. A maior importância da peça é a sua mensagem de aceitação. Tem um momento que eu pergunto para o personagem do Luciano, meu grande parceiro em cena: ¨O que que nos faz humanos. Ele pensa e fala: ¨Não sei, O Amor? (o amor não porque os agressores também amam)... E eu falo: O que nos toca é a dor. É a capacidade de sentir a dor como se fosse nossa¨. A peça fala da capacidade de conseguirmos olhar para o outro como um irmão...O mundo precisa de mais amor e compreensão. E A Golondrina veio para passar essa mensagem. Espero que consigamos apresentar a peça por anos. Não é à toa que Carmen Maura está apaixonada pelo texto na Espanha e ele impacta a todos no mundo inteiro. A temporada vai até o dia 9 de junho no Teatro Nair Belo e depois pretendemos ir para outro teatro, ainda não sabemos qual.
FICHA TÉCNICA
Autor: Guillem Clua
Tradução: Tania Bondezan
Direção: Gabriel Fontes Paiva
Elenco: Tania Bondezan e Luciano Andrey
Cenógrafo e figurinista: Fabio Namatame
Assistente de direção: Ana Paula Lopez
Iluminador e Sonoplasta: André Prado
Trilha Sonora: Luisa Maita
Preparação Vocal: Jonatan Harold
Montagem/Direção de Cena/Contrarregra: Tadeu Tosta
Produção: Ronaldo Diaféria, Odilon Wagner e Tania Bondezan
Assessoria de imprensa: Pombo Correio
SERVIÇO
Teatro Nair Bello – Shopping Frei Caneca - Rua Frei Caneca, 569 - 401A – Consolação
Temporada: de 19 de abril a 09 de junho
Às sextas e sábados, às 21h; e aos domingos, às 19h
Ingressos: R$ 60 (inteira) e R$30 (meia-entrada)
Classificação: 16 anos
Duração: 90 minutos
Capacidade: 200 lugares
Informações: (11) 3472-2414
|