Sempre que a peça Gota d`Água de Chico Buarque e Paulo Pontes é montada existe uma curiosidade sobre como a história de Joana que assassina os seus filhos para se vingar de Jasão será mostrada ao público.
Entre as montagens, a que teve direção de Gabriel Villela, além de toda a qualidade da direção e de todos os detalhes dessa produção, o destaque ficou para a protagonista, Cleide Queiroz, uma atriz negra que viveu Joana de forma brilhante.
Na nova versão do texto Gota D’Água, de 1975, o premiado ator, diretor, dramaturgo e fundador do Coletivo Negro, pretende realçar a realidade negra, suscitar a discussão social e de classes e promover o protagonismo da mulher preta
Gota D’Água é um dos grandes textos da nossa dramaturgia e fala de uma maneira muito crítica sobre o quanto os donos do poder explora os trabalhadores, os mais pobres. Uma peça extremamente atual.
Está em cartaz com grande sucesso, em São Paulo, Gota D’Água {Preta}, no Centro Cultural São Paulo, após temporada no Itaú Cultural. Os ingressos estão esgotados para toda a temporada.
A montagem é o novo projeto do premiado ator, diretor e dramaturgo Jé Oliveira, fundador do Coletivo Negro. Um trabalho que leva para o palco atores protagonistas, e predominantemente, negros e que tem na trilha sonora o Rap e a MPB, com o canto de candomblé, de umbanda e o jongo – dança de roda de origem africana com acompanhamento de tambores.
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A religiosidade afro-brasileira também está no cenário criado pelo Julio Dojczar, do coletivo casadalapa, que conta com painéis simbolizando os Orixás e elementos de cena como a imagem de Ogum / São Jorge.
Vale a pena lembrar a história que é contada: O texto é inspirado na tragédia Medeia, de Eurípedes, e conta a saga de Joana, que foi deixada por Jasão e mata os filhos para se vingar do ex marido. Moradora de um conjunto habitacional, ela pode perder a sua moradia e o detalhe é que agora Jasão é noivo da filha do proprietário desse local.
Jasão é compositor, fez sucesso com a canção que dá nome á peça e se aliou ao Creonte, corrupto e o dono das casas da Vila do Meio-dia.
Joana é interpretada pela cantora e atriz Juçara Marçal (Metá Metá), e Jasão é vivido por Jé Oliveira, que são negros.
“É como se estivéssemos realizando a coerência que a peça sempre pediu e até hoje não foi realizada”, destaca Jé Oliveira.
“A personagem é pobre e é da Umbanda. Tudo leva a crer, pelo contexto histórico, social e racial do país, que essa personagem é preta. Estamos realizando o que a peça insinua. Estamos de fato enegrecendo a obra de Chico Buarque e concretizando o que ele propõe.”
A ideia é colocar os negros como protagonistas, o que ainda não acontece de maneira cotidiano, só em casos isolados.
“Estamos discutindo traição de classe e de raça”, diz Jé citando a metáfora da traição conjugal. “Ele troca Joana por uma mulher mais nova, então discutimos também o feminismo. Jasão também é preto e com ele debatemos a ascensão social e a legitimidade ética disso.”
Para Juçara, Joana representa a mulher oprimida desde a formação do Brasil. O grito oprimido desta camada da sociedade. As relações humanas servem de pretexto para questionar essas posições sociais, como se cada um de representasse um lugar, um grupo. “Ela é a mulher que foi violentada, agredida. A pessoa sem voz que quer se vingar e não sabe como”, explica a atriz.
“Quando o Jé resolveu montar Gota D’Água mais preta a proposta foi trazer o universo da periferia para a cena. Com os acentos, não só os percussivos, mas os da cultura de periferia mesmo”, aponta o músico Fernando Alabê.
Sinopse
Jona é uma mulher madura, sofrida, moradora de um conjunto habitacional, preste a ser despejada junto com os dois filhos.
Jasão é um jovem, vigoroso, sambista e famoso. Por meio da metáfora de uma traição conjugal a obra busca refletir e realçar a discussão racial, social e de classes com base no atual momento político do país e debruça-se, sobretudo, acerca do golpe desferido pro Creonte e Jasão conta a Joana - Povo.
Ficha Técnica
Texto e Dramaturgia | Chico Buarque e Paulo Pontes.
Direção Geral, concepção e idealização | Jé Oliveira
Elenco | Aysha Nascimento, Dani Nega, Ícaro Rodrigues, Jé Oliveira, Juçara Marçal, Marina Esteves, Mateus Sousa, Rodrigo Mercadante e Salloma Salomão
Banda | DJ Tano (pickups e bases ), Fernando Alabê (percussão), Gabriel Longhitano (guitarra, violão, cavaco e voz), Jé Oliveira (cavaco), Salloma Salomão (flauta transversal) e Suka Figueiredo (sax).
Assistência de Direção e Figurino | Éder Lopes
Direção Musical | Jé Oliveira e William Guedes
Preparação Vocal | William Guedes
Concepção Musical e Seleção de Citações | Jé Oliveira
Cenário | Julio Dojcsar
Artista Gráfico | Murilo Thaveira
Light Design e Operação de Luz | Camilo Bonfanti
Técnico de Som e Operação | Marcos Maurício
Assessoria de Imprensa | Elcio Silva
Coordenação de estudos teóricos | Juçara Marçal, Jé Oliveira, Salloma Salomão e Walter Garcia
Produção Executiva | Janaína Grasso
Produção Geral | Jé Oliveira
Fotos | Evandro Macedo
Vídeo e Edição | Marília Lino
Realização | Itaú Cultural
Produção | Gira pro Sol Produções
Serviço
Quando | De 8 a 24 de março, sexta e sábado 20h e domingos 19h
Onde | Centro Cultural São Paulo - Sala Jardel Filho
Rua Vergueiro, 1000 - Paraíso - São Paulo – SP
Capacidade | 321 Lugares.
Classificação | 14 anos
Duração | 190 min
Ingressos | R$ 30 inteira e R$ 15 meia-entrada. Vendas na bilheteria do local e pelo site do ingresso rápido.
Bilheteria | De terça a sábado, das 13H às 21H30. Domingos, das 13H às 20H30
Informações 3397-4002
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