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ENTREVISTA: Léo Lama fala sobre a sua trajetória no teatro e o espetáculo Madalena Bêbada de Blues
Publicado em 02/11/2017, 22:00
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Bate-papo com o artista e observações sobre o espetáculo

Como sempre digo, falar muito das obras do dramaturgo Leo Lama é tirar do espectador a oportunidade de entrar de cabeça nas suas criações.

Leo escreve com a alma e faz um mergulho nas relações humanas, no amor, solidão, desejo, e a arte, especialmente o teatro é colocado em discussão. Qual o papel da arte, numa época em que ela está cada vez mais sucateada e as pessoas procuram entretenimento?

Qual o valor da dramaturgia, da palavra e do ator numa época em que a tecnologia domina e cada vez mais as pessoas deixam de ouvir o outro? Época em que tudo é entregue mastigado, e pensar e imaginar são obsoletos.

Com Madalena Bêbada de Blues, Léo nos faz viajar num mundo interior no bar de um teatro em que três mulheres expõem as suas mágoas. Não sabemos se o que elas falam é realidade ou elas estão imaginando histórias: o amor as une, talvez pelo mesmo homem...uma delas chega nesse bar procurando um grande ator, que é seu grande amor, mas quem realmente são essas pessoas?!

O limite entre a vida e a morte é tênue. A tragédia alheia pouco importa. Elas estão tão preocupadas consigo mesmas, que não dão atenção para as angústias do outro.

A encenação trabalha com o que Leo chama de anti-teatro. Não existe cenário, nem figurino, nem movimentos (o chamado trabalho do Ator em Repouso). As atrizes estão sentadas e o público está lado a lado com essas artistas que interpretam com maestria e como os elementos cênicos são inexistentes, a atenção está focada no texto e nas falas, nas entonações.

A trilha está na musicalidade da voz, em murmúrios também. O Blues é o silêncio. Um silêncio precioso que cada vez mais está perdendo a sua importância. Sem ele é impossível fazer um mergulho no nosso eu.

Somos bombardeados de informações, mas poucas vezes conseguimos aproveitá-las em prol de um cotidiano mais interessante, em prol da nossa evolução.

O teatro de Leo Lama não traz respostas e sim indagações, sugere várias interpretações. Teatro que promove o aprimoramento do nosso pensar, do nosso sentir. Emoção aflora, a sensibilidade emana.

Já falei demais. A ideia é que cada espectador tire as suas conclusões, tenha as suas sensações, de acordo com a sua experiência de vida.

Dramaturgia e direção: Leo Lama. Elenco: Dani Nefussi, Silvia Poggetti e Ana Tardivo.

Madalena Bêbada de Blues, que ficará em cartaz mais um mês, novembro inteiro, no Teatro Sérgio Cardoso, agora aos domingos e segundas, 19:30h. Até 27/11.

ENTREVISTA

Leonardo Martins de Barros, Leo Lama, é músico, poeta, dramaturgo, diretor, escritor, roteirista.
Em 1989, aos 23 anos, estreou como autor teatral com a peça “Dores de Amores”, o que lhe garantiu dois prêmios da área: Mambembe de revelação e Molière. A mesma obra foi transformada em filme.
Léo Lama, filho do dramaturgo Plinio Marcos e da atriz Walderez de Barros. Entre as peças que escreveu: Adeus aos Casais, Pedra no Rim, Flores de Camarim, Videoclip Blues, O Perdido Coração de Cristo, Coração Abandonado pelo Budha e Grande Espírito da Intimidade.
Dirigiu a primeira montagem de “A Mancha Roxa”, do seu pai. Como ator, atuou na sua peça “Perdidos na Praia”, com direção de Fauzi Arap, e em “Bang - Bang - Quando os revólveres não matam” ao lado da sua mãe.


Nanda Rovere - Gostaria que você falasse um pouco de Madalena Bêbada de Blues.
Léo Lama - Madalena Bêbada de Blues é um texto que escrevi em 1999, quando meu pai estava em coma no hospital, ano em que ele morreu. Durante esse período refleti muitas coisas, como é comum nessas horas. Uma dessas reflexões tinha a ver com o teatro. Os caminhos da minha arte. Eu estava cansado (e ainda estou) da espetacularização vigente em nossos meios de comunicação. Políticos roubando o lugar dos atores, não só no que diz respeito a políticas culturais, mas também com suas atuações grotescas na vida pública. Então surgiu a ideia do que tenho chamado de o anti-espetáculo. Guy Debord, no famigerado “A Sociedade do Espetáculo”, diagnosticou esses tempos: a questão moderna não seria mais algo entre “ser” e “ter”, mas seria uma época na qual se exige o “aparecer”. Viramos assim espectadores do mundo e este, um grande show. Tudo passou a ser mercadoria e mercadoria passou a ser deleite, entretenimento, roubando inclusive o lugar dos vivos. Tudo nos é mostrado e o excesso de imagem nos rouba a imaginação, o encantamento, a escuta. Não havendo silêncio sonoro, também não há silencio visual. Com o tempo, tivemos que nos transformar em mercadoria e desesperadamente nos tornar vistos para podermos viver. Pois só está vivo quem aprece. Exibimo-nos nas redes sociais como quem precisa respirar. O que não é mostrável, não serve. Nas minhas últimas montagens não há iluminação, apenas luz ambiente, não há cenário, nem figurino, nem trilha sonora, nem movimentação cênica. Arthur Danto disse, com razão, que o Belo ficou separado da obra artística. O critério para se saber o que é Arte ficou na mão de pessoas que pouco a entendiam, curadores, donos de galerias, críticos de ocasião, gente sem educação artística. Digo: sumiram-se os critérios. Assumindo um caráter performático, a Arte está relegada a uma discussão moral, o que choca, o que não choca, perdendo completamente sua função de recordar o Rito, o mais alto. Apartando-se assim de uma questão Ética. Virou um atol de sensações e sentimentalismos, deixando de ser linguagem.


NR - Explique o conceito de Ator em Repouso e o que é o Anti-espetáculo.
LL - Em Madalena Bêbada de Blues coloco as atrizes lado a lado com a plateia em um circulo, no qual todos estão voltados para o vazio. As atrizes estão na postura que chamo de Ator em Repouso. O Ator em Repouso é o corpo em Saudade. Em Saudade do corpo alheio e do próprio corpo, na verdade, em saudade do corpo primordial, o corpo de argila, o corpo Adão-Eva, o corpo simbólico formador de todos os corpos. Tudo se cria a partir do Vazio. Precisamos, em tudo, diminuir o excesso. Penso. Assim tento criar o silêncio (este que não existe), um espaço para a imaginação, para a dramaturgia, esta arte pouco compreendida, que se movimenta através do conflito dramático e da ação interior. Para mim o teatro é dentro.


NR - Como é o diretor Leo Lama? Dirigir essas atrizes e lapidá-las para que a emoção aflore sem nenhum gesto e num ambiente tão íntimo?
LL - Para mim a função do diretor é sumir. Então o trabalho de direção é criar o sumiço de si mesmo e deixar as atrizes brincarem, tomarem posse do texto, das palavras, das intenções. Fico com o olhar de fora e muitas vezes é só um olhar de fora mesmo. Não acredito em obrigar o outro a fazer, acredito em propostas e diálogos. Dirigir é também se dominar, se frear, abster-se. Sou o líder, mas não o tirano. O Ator em Repouso é uma proposta de silêncio, de contenção, de foco, de energia.


NR - Você vai na contramão do entretenimento e pelo bate-papo após a peça dá pra perceber que as pessoas saem tocadas.
LL - Sim, acredito que eu esteja na via da contramão daquilo que é feito para entreter e até daquilo que é feito para agradar aos olhos e aos ouvidos, não por rebeldia ou pose, mas por necessidade, por sobrevivência existencial. Evidente que isto não me favorece financeiramente, mas de todas as pobrezas a pior é a de espírito. Tento não trair meu íntimo. Procuro estar em um caminho espiritual, tento não trair meu Criador. Ver as pessoas saindo tocadas da nossa peça enche meu coração de alegria, me emociona profundamente e me alimenta, me dá força para continuar nessa luta artística que na maioria das vezes é inglória. Não reclamo.


NR - Qual o seu objetivo enquanto artista e o que te impulsiona a criar?
LL - Penso que minha função como artista é fazer meus companheiros de jornada, os colegas, o público, recordarem os rituais do coração. A arte é filha - histórica e logicamente - do Rito, que é apresentado a nós humanos por Graça, ou seja, por Manifestação Divina. O Rito é a língua por que fala a Revelação ao coração dos homens, e a arte, a verdadeira, é a sua modesta resposta. Para mim a função da arte, em qualquer sociedade que se preze, sempre foi e sempre será a de responder às carências espirituais, ou seja, investigar as necessidades subjetivas da alma humana e elevá-la à sua condição superior.


NR - E o Leo músico, escritor? Você tem se dedicado a essas funções? A música tem papel essencial em várias montagens suas. Correto?
LL - A música é uma salvação para mim. Vem nos momentos mais difíceis. É minha matemática doce. Agora estou ensaiando com a Dani Nefussi, que faz Madalena, um recital chamado “Todo mundo é mulher”, com canções minhas sobre os abusos sofridos pela mulher. A escrita é o tempo todo, o tempo todo, nunca para. Tenho três romances quase prontos esperando revisão.


NR - Seu primeiro texto foi “Dores de Amores” e no decorrer da sua trajetória, cada vez mais, a sua dramaturgia traz um mergulho na alma humana. Faz um pequeno balanço do seu caminho, as peças que considera as mais marcantes.
LL - “Dores de Amores” foi um acontecimento único, um fenômeno que acontece poucas vezes no teatro e na vida de alguém. A peça fez muito sucesso, ficou anos em cartaz, e me deu muito, muito dinheiro (essas coisas acabam que é uma beleza), eu era muito jovem e não esperava nada disso. Estreou em 1989, quando eu tinha 23 anos. No elenco Malu Mader e Taumaturgo Ferreira, com direção de Roberto Lage. Recebei o prêmio Mambembe de revelação do ano e também o Prêmio Molière de melhor autor. A atriz Drica Morais substituiu Malu Mader em 1991; a peça ganhou formato de livro pela editora Maltese (1994); e, com o título “Dolor de Amor”, foi encenada no Teatro de Comédia de Buenos Aires, na Argentina (1998). Em 2009, a obra completou 20 anos e foi remontada com direção de Naum Alves de Souza. Com roteiro meu, “Dores de Amores” foi adaptada para o cinema sob a direção de Raphael Vieira, tendo como protagonistas Milhem Cortaz e Fabíula Nascimento. O filme estreou na Mostra de Cinema de São Paulo em 2013. E até hoje é uma peça muito requisitada.Também me marcou muito ter dirigido a primeira montagem de “A Mancha Roxa”, do meu pai, Plínio Marcos, em uma época (anos 80) que ninguém queria montá-lo. Em 1994, ao lado de Taumaturgo Ferreira, atuei na minha peça “Perdidos na Praia”, com direção de Fauzi Arap, o que foi um privilégio inesquecível, pois o Fauzi, já falecido, é considerado por muitos um dos melhores diretores teatrais brasileiros. Atuar na minha peça “Bang - Bang - Quando os revólveres não matam” ao lado da minha mãe, a atriz Walderez de Barros em 1995, também foi um privilégio e uma escola. São muitos os momentos marcantes na minha jornada de muito mais bênçãos que dissabores, mas o que realmente marca a minha alma é poder continuar. Ir em frente, ou melhor, para o alto, não sou saudosista, não costumo olhar muito para trás.


NR - Não poderia deixar de falar de seu pai, o dramaturgo Plínio Marcos, um dos nomes mais importantes da história do nosso teatro, junto com Nelson Rodrigues. Qual a sua relação com as obras do seu pai? Como foi dirigir “Quando as máquinas param”, por exemplo? Qual o legado que ele te deixou?
LL - Com a obra do meu pai tenho uma relação de herdeiro legal, junto com meus irmãos, Kiko e Ana, e, como dramaturgo, herdo o que toda a minha geração e as vindouras herdam e herdarão. Plínio abriu espaços, mudou formas, deixou obra imprescindível. Dirigir “Quando as máquinas param” foi muito significativo pra mim, porque ali pude juntar o meu teatro com o dele em diálogo. Fiz a peça nos moldes do Ator em Repouso e o resultado me deixou muito feliz.


NR - E tem a sua mãe, a Walderez. Como é a sua relação com a Walderez atriz?
LL - Uma atriz generosa. Entregue. Inteligentíssima. Uma das melhores, sem dúvida. Me ensinou muito, inclusive sobre escrever para teatro.


NR - Novos projetos que gostaria de citar?
LL - Bem, estou em um momento de vir com tudo. Não tenho mais tempo para não ser o artista que penso que sou. Estou ensaiando “Coração Abandonado Pelo Buddha” com a atriz Nany Di Lima. “O Puro Coração Perdido” com Guilherme de Barros, meu filho. E “Osso Temporal Partido” com um grupo de jovens atores. Isto é a metade dos projetos.
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DE OLHO NA CENA BY NANDA ROVERE - TUDO SOBRE TEATRO, CINEMA, SHOWS E EVENTOS Sou historiadora e jornalista, apaixonada por nossa cultura, especialmente pelo teatro.Na minha opinião, a arte pode melhorar, e muito, o mundo em que vivemos e muitos artistas trabalham com esse objetivo. de olho na cena, nanda rovere, chananda rovere, estreias de teatro são Paulo, estreias de teatro sp, criticas sobre teatro, criticas sobre teatro adulto, criticas sobre teatro infantil, estreias de teatro infantil sp, teatro em sp, teatros em sp, cultura sp, o que fazer em são Paulo, conhecendo o teatro, matérias sobre teatro, teatro adulto, teatro infantil, shows em sp, eventos em sp, teatros em cartaz em sp, teatros em cartaz na capital, teatros em cartaz, teatros em são Paulo, teatro zona sul sp, teatro zona leste sp, teatro zona oeste sp, nanda roveri,

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