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Entrevistas e dicas de espetáculos

ENTREVISTA: Ator, diretor, escritor, dramaturgo Vinícius Piedade
Publicado em 21/08/2017, 23:00
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Vinícius Piedade está em cartaz com duas montagens na SP Escola de Teatro, que integram o Projeto ‘Lasanha de Berinjela’

Vinícius Piedade é um artista múltiplo, ator, diretor, escritor, dramaturgo. Está sempre atento a todos os detalhes dos seus espetáculos. Com reconhecimento da qualidade do seu trabalho, conta sempre com espetáculos em repertório.

No início da carreira participou do Projeto Solos do Brasil, coordenado por Denise Stoklos e traz na sua bagagem monólogos que mostram todo o seu talento.

Cartas de um Pirata, Dias de Anestesia; Cárcere; H.E.R.Ó.I.S; Indizível; Identidade e 4 Estações marcam a trajetória de um artista sempre em busca de desafios.

Nunca cedeu às adversidades da profissão, conseguindo driblar as dificuldades típicas de quem produz arte no Brasil, levando os seus espetáculos para todo o canto do Brasil e também para diversos países.

No momento, está em cartaz com duas montagens na SP Escola de Teatro, que integram o Projeto ‘Lasanha de Berinjela’ e falam das relações familiares em estado de emergência e calamidade pública..

Na primeira peça do projeto, ‘PAIS E FILHOS (ou Lasanha de Berinjela 1)’ existe um diálogo entre o pai advogado e o filho artista plástico, com as cobranças comuns de pais tradicionais que querem determinar as escolhas e os caminhos de seus filhos. No palco estão os atores Evas Carretero e Roberto Borenstein.

‘IRMÃOS (ou Lasanha de Berinjela 2)’, a segunda peça, coloca no palco o conflito entre irmãos. Eles perderam os pais num acidente, quando a menina era bebê e o menino já adolescente.

Hoje quem financia o irmão, escritor falido, é a garota, escritora frustrada e professora na rede pública. Marta Caetano e Vinícius Piedade são os responsáveis pelos personagens.

Para tentar melhorar a situação financeira, ele escreve um livro baseado na história de sua irmã, uma obra que coloca em evidência as suas características mais negativas. Os irmãos colocam em xeque as suas frustrações, sonhos e sentimentos num jantar e no cardápio, Lasanha de Berinjela ao Molho Branco, prato preferido do irmão.

Para a criação dos textos, Piedade procurou desconstruir estereótipos sobre as relações familiares e o palco não tem cenário; o foco está no texto e nos atores.


ENTREVISTA
O ARTISTA FALA DE SUA TRAJETÓRIA E DOS SEUS NOVOS TRABALHOS


NANDA ROVERE - Como descobriu o teatro e o que mais te encanta na arte?
VINÍCIUS PIEDADE - Quando moleque eu fazia personagens para meus amigos darem risadas. Não eram imitações, eram situações que eu interpretava e aquilo tinha muito de teatro. Mas não lembro exatamente quando descobri o teatro. Quando fui ver, já estava mergulhado. Eu não tive aquela fase do adolescente que pensa "o que vou fazer da minha vida?". Nessa fase eu já tinha decidido (ou a vida havia decidido por mim?) que eu seria ator e ponto. O que mais me encanta na arte é a possibilidade que ela nos dá de sermos humanos. Exatamente isso: a arte humaniza. Ou como diria Hamlet "o que é um homem cujo o melhor uso do seu tempo é comer e dormir? Apenas um animal". A arte nos tira dessa condição bestial. Nos permite refletir (no sentido espelho e no sentido pensamento) sobre SER HUMANO.

NR - Você está sempre em atividade e se dedica a atuação, produção e direção... como é conceber todos os detalhes de um trabalho?
VP - Eu escrevo o que atuo e produzo o que escrevo. Ou seja, as coisas são ligadas. Não há outra possibilidade também. É preciso vender nosso peixe. Não dá pra contar com sorte ou esperar que alguém faça por você. Minha mãe me dizia no meu começo de carreira, "se você quer viver disso, encontre condições de subsistir através disso... ou... VAI PROCURAR UM EMPREGO!". Decidi que o teatro seria meu emprego. Não à toa vivo do teatro desde os 20 anos. Sempre acreditando e lutando pra fazer da minha arte meu ganha pão. Não há outra opção, não há saída. E paralelo ao produzir, tem o fazer artístico que pra mim é o êxtase supremo do existir. De modo que as coisas andam juntas. Mesmo que na prática estejam separadas. A questão é a orquestração dessa pluralidade de "Eus". Com o tempo, passei a encontrar prazer em fechar apresentações. Claro que o prazer é duplo: ganhar pra fazer o meu teatro e poder fazer meu teatro. Por todos os cantos. Amém.

NR - E as viagens, você já passou por diversos países e viaja o país todo. Como viabiliza essas apresentações?
VP - De fato tenho circulado loucamente. Nos últimos dez anos foram dez países, alguns mais de duas vezes, fora uma constante turnê nacional. Acho que posso dizer que sou o artista brasileiro que mais viaja o mundo atualmente. Nos últimos três anos, por exemplo, passei por todos os continentes do nosso mundão! Mas a luta é grande pra isso e as condições variadas. Tem Festivais que pagam cachê, passagens e dão estrutura. Outros só enviam uma carta convite e olhe lá. Mas o prazer de conhecer outras culturas faz com que a questão não seja só se apresentar. Estar nesses lugares em si já é um presente. Desse modo posso dizer que invisto também nas circulações. Muitas vezes recebo um convite pra apresentar em um país e aproveito a estada pra circular pela região, buscando parcerias. Sempre fiz isso no Brasil, a questão é que passei a buscar isso de modo global. Claro que o fato dos meus espetáculos serem solo e sem cenário facilita o trânsito, mas não é só isso, se fosse todos os solos teriam tal trajetória. Mas é mais que isso: trata-se de uma busca incessante, levar meu trabalho pra todos os cantos do nosso mundo. Eis minha sina.

NR - Como é falar pra pessoas de diferentes locais, idiotas, costumes?
VP - Sempre é especial. Além de encontrar o público brasileiro louco pra ouvir teatro em português como que pra matar saudade do idioma, sempre é especial levar o trabalho pra tantas culturas diferentes. É uma troca preciosa, porque ao mesmo tempo em que estou fazendo o meu, estou absorvendo o deles. E isso é vital. Literalmente vital. Não vivo mais sem isso. Costumo brincar que sou viciado em combustível de avião. Quando fico um mês inteiro em São Paulo (onde moro), me dá crise de abstinência.

NR - Algum local que tenha apresentado te marcou de maneira especial?
VP - Impossível dizer só um local. Todos me trazem lembranças absurdas. Estou escrevendo um livro sobre isso chamado DIÁRIO DE BORDO DE UM PIRATA, em que conto um pouco das experiências, não só de fazer as apresentações, mas das minhas impressões e sensações nas cidades. Lembro por exemplo da minha primeira apresentação fora do Brasil, em Zurique na Suíça. Minha chegada ao teatro com aquela sensação do novo. Minha apresentação em Nova York num espaço cultural a poucos metros do teatro onde Al Pacino fazia a peça dele, no mesmo horário em que eu. Lembro de andar pelas ruas de Berlim o dia inteiro e chegar ao teatro exausto para a apresentação. Lembro do clima quente e da receptividade fervente do público em Cabo Verde. Lembro da interação absurda que eu e Gabriela Veiga estabelecemos com o público na Bolívia. Lembro do meu êxtase no metrô indo para o teatro para apresentar em Paris. Lembro de brindar com vinho do Porto depois da apresentação no Porto. Lembro de me perder pelas ruas de Barcelona e chegar em cima da hora para a apresentação. Lembro do meu jet lag constante em Macau na China e que eu só ficava totalmente acordado na hora das apresentações. Lembro dos improvisos quando tive problemas com a legendagem do espetáculo em Munique e em Madrid. E tantas outras lembranças que me são tatuagem.

NR - E o Vinícius escritor, fale um pouco sobre essa atividade e o processo de criação.
VP - São de fato atividades bem diferentes. Mesmo quando escrevo para o teatro. O ofício de escritor não tem nada a ver, pra mim, com o de ator ou diretor. Não escrevo o tempo todo, são períodos. Depois que lanço um livro ou uma peça, passo uns tempos sem escrever e quando volto, volto com muito apetite. Mas escrever literatura e escrever teatro também são esportes diferentes. Nos últimos tempos tenho gostado de escrever em cafés. É inspirador sentir a pulsação das cidades.

NR - CARTA DE UM PIRATA você apresenta desde 2003. É um dos trabalhos de melhor repercussão, confere? Fale um pouquinho sobre ele.
VP - É um trabalho especial por ser o primeiro, mas o que tem mais repercussão é o CÁRCERE. O PIRATA é o que tem mais estrada no Brasil. Lembro que depois que eu estreei, eu queria apresentar a todo custo e como poucos teatros me davam espaço, eu levava pra escolas da periferia de São Paulo e lá sim apresentava pra multidões. Não tinha essa coisa de ficar esperando o público, eu ia até o público e isso foi pra mim fundamental. Minha formação de ator se deu sobretudo nessas situações. Minha voz e meu corpo ganharam mais potência. Tinham que ganhar, senão eu seria DEVORADO. Colocavam trezentos, quatrocentos, estudantes de Ensino Médio na minha frente e eu tinha que fazê-los se interessar pela peça. Monólogo! Imagina! Tantas situações, de sucesso e fracasso, mas sempre com multidões ávidas. E eles pagavam pra me ver. Eu cobrava dois reais por aluno e como eram muitos compensava até nesse sentido. Já estava vivendo de teatro. Mas na época não tirávamos tanta foto como hoje. Infelizmente eu tenho pouco registro daquelas manhãs e noites, mas eu lembro de cada apresentação, mais de cem em dezenas de escolas, todas públicas! Vez em quando sinto saudade daquela precariedade. E sempre com o CARTA DE UM PIRATA. Quando a peça fez dez anos, em parceria com o Kil Abreu, fizemos no Centro Cultural São Paulo três apresentações emocionantes onde a peça havia estreado em 2003. Foi demais ver aquela sala Jardel Filho lotada e tantas imagens me vinham à cabeça. Fizemos também homenagem ao grande Sebastião Milaré que foi além de crítico brilhante, um curador fundamental do CCSP.

NR - Nesse trabalho especialmente, mas em todos que você faz, faz a sua expressão corporal é incrível. Como se prepara para estar em cena?
VP - Devo muito ao Luis Louis minha pesquisa corporal. Antes de trabalhar com ele meu teatro era mais textual. Com Luis pude pensar teatro enquanto expressão corporal, para além do texto, o teatro não mais a serviço de uma ideia textual. Hoje pra mim corpo e texto caminham junto, ideia e expressão.

NR - Quais os artistas que te inspiram no processo de criação?
VP - Depende da fase, da peça. Mas milhares de artistas me inspiram profundamente. Digo mais, não só artistas, mas intelectuais e esportistas. O Rafael Nadal e o Cristiano Ronaldo com suas fibras e explosões me dão vontade de me superar sempre. O Al Pacino me dá vontade de atuar. O Domenico de Masi me inspira construções textuais, tal como o David Mamet, o Paul Auster, o J.M. Coetzee, o Shakespeare, o Wood Allen, Pina, o Bergman. As inspirações são infindáveis!

NR - E claro, fale sobre os novos espetáculos, a divisão dos temas e o que mais considerar importante.
VP - Fico muito tempo com cada peça em repertório e circulando. Acho importante essa continuidade, essa perpetuação, esse work in progress. E depois de alguns anos viajando com solos por aí, estreei NINGUÉM VAI RIR como diretor ano retrasado. Aí continuei com os solos. Queria fazer algo novo urgente. Estava com duas peças na ponta da língua. Ou do lápis. Me reuni com atores fantásticos e parceiros e decidi levantar duas peças de uma vez: PAIS E FILHOS (ou Lasanha de Berinjela 1) com Roberto Borenstein e Evas Carretero e IRMÃOS (ou Lasanha de Berinjela 2) que faço com Marta Caetano. Duas peças que tenho muita alegria de vê-las estreadas, inteiras, intensas. Normalmente eu demoro um pouco pra gostar dos meus trabalhos. CÁRCERE, que estreei em 2008, só fui gostar mesmo muito tempo depois. Mas dessas eu gosto profundamente. São jogos muito vivos. E os atores estão em altíssimo nível. Quero muito que todos venham SENTIR tais atuações. E com um tema comum a todos nós: rompimentos sanguíneos (familiares). Quem nunca?

NR - No que você está de olho na cena?
VP - Estou de olho naquilo que vai além do nosso óbvio!

A agenda de apresentações você pode conferir no https://www.viniciuspiedade.com.br/repertorio
No site tem informações também sobre os seus livros.
O artista viajará com Cárcere e os seus dois novos espetáculos

IRMÃOS (ou LASANHA DE BERINJELA 2)
Onde: SP Escola de Teatro – Sede Roosevelt
Praça Roosevelt, 210, metrô República, 3775-8600 | Como chegar?
Quando: De 5 de agosto a 17 de setembro. Sab., 21h; dom., às 20h.
Quanto: R$ 40
Duração: 75 minutos
Classificação: 14 anos

Ficha técnica
Texto, direção e iluminação: Vinícius Piedade
Elenco: Marta Caetano e Vinícius Piedade
Trilha sonora: Manuel Lima
Cenário: Evas Carretero
Figurino Ana Maria Piedade
Fotografia: Tati Wexler
Operador de Luz e Som: André Rodrigues

PAIS E FILHOS (ou LASANHA DE BERINJELA 1)
Onde: SP Escola de Teatro – Sede Roosevelt
Praça Roosevelt, 210, metrô República, 3775-8600 | Como chegar?
Quando: De 7 de agosto a 25 de setembro. Segundas às 21h
Quanto: R$ 40
Duração: 65 minutos
Classificação: 14 anos

Ficha técnica
Texto, direção e iluminação: Vinícius Piedade
Elenco: Evas Carretero e Roberto Borenstein
Trilha sonora: Manuel Lima
Cenário: Evas Carretero
Figurino Ana Maria Piedade
Fotografia: Tati Wexler
Operador de Luz e Som: André Rodrigues
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DE OLHO NA CENA BY NANDA ROVERE - TUDO SOBRE TEATRO, CINEMA, SHOWS E EVENTOS Sou historiadora e jornalista, apaixonada por nossa cultura, especialmente pelo teatro.Na minha opinião, a arte pode melhorar, e muito, o mundo em que vivemos e muitos artistas trabalham com esse objetivo. de olho na cena, nanda rovere, chananda rovere, estreias de teatro são Paulo, estreias de teatro sp, criticas sobre teatro, criticas sobre teatro adulto, criticas sobre teatro infantil, estreias de teatro infantil sp, teatro em sp, teatros em sp, cultura sp, o que fazer em são Paulo, conhecendo o teatro, matérias sobre teatro, teatro adulto, teatro infantil, shows em sp, eventos em sp, teatros em cartaz em sp, teatros em cartaz na capital, teatros em cartaz, teatros em são Paulo, teatro zona sul sp, teatro zona leste sp, teatro zona oeste sp, nanda roveri,

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