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Entrevistas e dicas de espetáculos

ENTREVISTA: Munir Pedrosa - Ator e idealizador do espetáculo Hotel Mariana
Publicado em 06/07/2017, 02:00
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Sobre Hotel Mariana: Espetáculo necessário, que coloca no palco depoimentos de moradores dos distritos de Bento Rodrigues e Paracatu de Baixo.

Como todos sabem, por volta de três e meia da tarde, de 5 de novembro de 2015, a barragem de rejeitos de minérios de Fundão, em Mariana-MG, com cerca de 55 bilhões de litros de lama espessa, rompeu-se e destruiu os dois distritos citados.
Em questão de horas, a lama chegou ao rio Doce, cuja bacia é a maior da região Sudeste do País. A lama avançou pelo rio com grande velocidade, chegando ao Espírito Santo em menos de cinco dias.

No dia 21, alcançou o mar em Linhares – blocos de contenção foram posicionados na foz do rio para controlar o impacto ambiental da chegada da lama ao mar.

Essa tragédia foi a pior destruição ambiental do nosso país e o maior do mundo envolvendo barragens de rejeitos! A multa de 250 milhões de reais, aplicadas pelo Ibama, é vergonhosa, diante do tamanho dessas empresas, do lucro obtido por elas!
Sabemos que a Samarco já tinha sido alertada do perigo de um desastre e ela nada fez, em nome da ganância, ou melhor, consta que fez algumas ações paliativas (absurdo!).

Os moradores perderam tudo ou quase tudo, mas o pior foram as vidas perdidas!

O ator Munir Pedrosa foi até Mariana e registrou o depoimento de várias pessoas. O resultado foi o excelente espetáculo HOTEL MARIANA.

Em cena, os atores usam fones de ouvido e reproduzem instantaneamente (e com maestria) os relatos que estão ouvindo – coletados por Munir. Eles utilizam a técnica chamada verbatim.

Ouvir o sofrimento e a força dessas pessoas emociona demais. Uma aula de vida!


ENTREVISTA MUNIR PEDROSA
O ator fala sobre a idealização do projeto, a coleta dos depoimentos e a transformação das falas em espetáculo teatral.

NANDA ROVERE - O que te levou a ir até Mariana?
MUNIR PEDROSA - O que me levou até Mariana foi uma indignação. Fiquei tomado pela história vendo o noticiário e as fotos. Confesso que não entendia nada de mineração, não sabia bem o que era uma barragem, mas aquilo era um apocalipse e eu podia levar água, comida, o que eu fiz, mas enquanto artista, achei que poderia também fazer alguma coisa para transformar a dor em poesia. Eu fui para lá com o intuito de escutar as vítimas e colher depoimentos em áudio somente, porque eu não levei câmera fotográfica. Minha ideia era que esses áudios se transformassem numa narrativa para levar as vozes para o maior número de pessoas possível.

NR - Fale o que achar necessário sobre a tragédia, sobre o que presenciou. A mídia mostrou o que realmente aconteceu, na sua opinião?
MP - Nenhuma foto, nenhum vídeo e reportagem que eu já tinha visto antes de ir para lá dava conta da dimensão do estrago feito pela tragédia. Por mais que as fotos tenham sido impactantes, pessoalmente o impacto foi muito maior. Uma barragem é o infinito de lama que morre no horizonte... É UM MAR DE LAMA ASSUSTADOR. O que mais chamou a minha atenção foi ver o quanto muitas pessoas, na sua simplicidade, não percebem o tamanho da Samarco e como a política age para que a população não tenha consciência da realidade. Uma vítima, que quebrou as duas pernas, me perguntou se eu tinha cadeira de rodas, e eu questionei se a Samarco não iria oferecer uma. E a resposta dessa pessoa foi a seguinte: ¨Mas eles vão ter que dar tudo? Eles já estão dando hotel pra gente?!¨

NR - Fale um pouco sobre os depoimentos, seguiu algum critério para colher as falas, como foi esse processo documental? De tudo o que presenciou, o que mais te marcou?
MP – Cheguei em Mariana sem conhecer nada e fui na primeira pousada que encontrei. Pelo movimento percebi que pessoas estavam hospedadas lá. Nunca fui repórter, mas fui tentar falar com alguém. Fui barrado algumas vezes por que não estavam permitindo que as pessoas dessem entrevista. Consegui falar com uma das vítimas e foi ela quem me guiou para eu chegar até as outras pessoas. Eles são uma comunidade e todo mundo que me concedia entrevista, falava de alguém e me mostrava o caminho para chegar até essa pessoa. Comecei a ser guiado pelos depoimentos...

NR- E o contato com as pessoas, você foi bem recebido por elas?
MP – Eu fui recebido com amor e dor porque todos estavam comovidos e fragilizados. O apoio que um dava para o outro, seja entre as vítimas ou a ajuda vinda de quem estava de fora, gerou uma corrente de amor muito forte. Foi isso que fez com que as vítimas diretas da barragem continuassem a viver. Elas não perderam somente uma casa, mas o passado, uma casa, uma história. Muita gente perdeu a sua família, o seu filho, o seu pai e a sua mãe... Tem pessoas que nasceram e viveram ali toda a sua vida e não terão mais o lugar onde cresceram...

NR - Algum depoimento chamou a sua atenção em especial?
MP – Todos os depoimentos foram muito fortes. Todas as pessoas tinham histórias para contar; algumas com maior ou menor indignação; outras com mais ou menos fé, mas todos chamaram muito a minha atenção por um ou outro fator. O Arnaldo, por exemplo, poderia ter ido embora, resolveu ficar e salvou muitas vidas... A Maria do Carmo disse que perdeu cinco dúzias de ovos e era o que ela tinha. Aí você percebe o valor das coisas...

NR - E para a escolha das falas que estão nos fones? Como foi o processo para dar um caráter dramatúrgico aos depoimentos?
MP - Eu cheguei em casa com uma polifonia muito grande – muitas horas de áudio e muitas camadas de uma mesma história... Eu colhi 40 depoimentos e 10 ficaram na peça. O Herbert Bianchi, diretor da peça, editou os depoimentos junto comigo. Eu costumo dizer que foram as próprias histórias que nos guiaram com relação ao que entraria ou não. Quando tentávamos encaixar algum depoimento, os áudios tinham vida própria e acabavam nos mostrando que naquele momento falar de um determinado assunto era muito importante. Para transformar os depoimentos em dramaturgia, respeitamos o verbatim, que pede para que não se coloque nenhuma palavra de fora. Fizemos, portanto, uma narrativa em cima do que já tinha sido dito, sem mudar a ordem dos depoimentos. Toda vez que entra o mesmo depoente, a sua fala está na ordem que eu gravei. Fizemos uma linha do tempo e intercalamos falas sobre como era antes a vida na comunidade, como foi o momento da onda de lama e como estava a vida no hotel.

NR - Como conheceu o Herbert?
MP - Somos amigos há muitos anos, certa vez fiz uma oficina de Teatro Verbatim ministrada pelo Zé Henrique de Paula e pelo Herbert Eu gostei muito da técnica e saí de lá com a ideia de fazer um espetáculo com ele, mas sem saber quando e sobre qual assunto...Quando aconteceu a tragédia em Mariana, não tive dúvidas em fazer esse trabalho. Eu tive medo, mas sabia que era algo que precisava ser dito.

NR - E como é dar voz a um personagem real, tão especial?
MP – Eu tentei dar espaço para o personagem porque, na verdade, o que você tem em mãos é a fala de um depoente com uma história de verdade, que viveu a enorme tragédia. O que eu fiz foi dar voz e não me colocar na frente. Fiz ao contrário do que tudo o que aprendi até hoje como ator: Não construí, mas fui afetado pelo áudio e tentei alcançar o máximo possível as camadas que o som me proporcionou (o sotaque, o volume, o timbre, respiração...usei, assim como todos do elenco, todos os detalhes da fala que eu fui capaz de ouvir e reproduzir.

NR - Como sempre, a mídia não fala mais sobre o assunto e os culpados não serão punidos como deveriam...Parabéns por colocar esse assunto em pauta através do teatro.
MP - Não consegui dar conta de ver tudo o que saiu, mas a sensação que eu tenho é que a força da tragédia está muito bem retratada no espetáculo. Ele consegue dar um panorama muito maior e afetar mais as pessoas do que as matérias (talvez pela magia e energia do teatro; talvez por falarem de uma tragédia como essa na TV e começar uma novela na sequência – e aí tudo vira ficção). A peça trouxe de volta o tema de Mariana e da Mineração. Nós tivemos uma matéria na Globo News de cinco minutos que fala da montagem e depois faz uma atualização de como anda essa história que já foi esquecida pela grande mídia. A peça está cumprindo um papel importante e estou muito feliz.

NR - No que você está de olho (na cena)
MP - Estou de olho nas cenas dos amigos. Vivemos um momento em que temos que nos unir e buscar trabalhos relevantes. O momento exige isso dos cidadãos, dos artistas. Estou buscando encontrar os meus amigos na cena e ver o que eles estão fazendo porque é preciso somar.


Sobre o Verbatim: é uma modalidade de teatro documentário que é muito comum na Inglaterra e teve seu auge nos anos 90. Ela trabalha em cima de temas ou fatos que são abordados através de pesquisas registradas em áudios. O Verbatim pode ser realizado através da busca das características do áudio, com o elenco decorando as falas, ou através de uma mimese sonora, como é realizado em Hotel Mariana. Nesse espetáculo, Munir Pedrosa e o diretor escutaram as falas e reproduziram, procurando a maior fidelidade possível ao conteúdo das gravações e também foram fiéis às características dos depoentes, com relação à respiração, sotaque, melodia, timbre, volume. O ator não decora para que toda vez que o público escute as falas, ele seja cristalizado pelo som.

Ficha técnica:
Elenco Angela Barros, Bruno Feldman,
Clarissa Drebtchinsky, Fani Feldman,
Isabel Setti, Lucy Ramos, Marcelo Zorzeto, Munir Pedrosa, Rita Batata, Rodrigo Caetano
Idealização e pesquisa: Munir Pedrosa
Direção: Herbert Bianchi
Edição: Herbert Bianchi e Munir Pedrosa
Assistente de direção: Letícia Rocha
Designer de luz: Rodrigo Caetano
Cenário: Herbert Bianchi
Cenotécnico: Marcelo Maffei
Figurinos: Bia Piaretti e Carol Reissman
Acervo: David Parizotti
Produção executiva e direção de produção: Munir Pedrosa
Apoio: Greenpeace e Oficinas Culturais do Estado de São Paulo
Assessoria de Imprensa: Pombo Correio
Realização: Governo do Estado de São Paulo

Serviço:
Temporada: Até 10 de julho.
Sábados e segundas, às 20h. Domingos, às 18h.
Estação Satyros.
Endereço: Praça Franklin Roosevelt, 134 Consolação São Paulo – SP
Telefone:(11) 3258.6345 / (11) 3231.1954
Capacidade:60 lugares
Classificação:Livre
Duração:70 minutos
Ingressos:Sábados e domingos – inteira 30 reais / meia 15 reais. Segundas-feiras – gratuito.

RECOMENDO MUITO! CORRAM PARA O TEATRO! NÃO PODEMOS DEIXAR QUE ESSA TRAGÉDIA SEJA ESQUECIDA!
MINHA CASA... LEVOU CINCO ANOS PRA EU CONSTRUIR ELA E ELA FOI EMBORA EM 5 SEGUNDOS! ( depoimento que consta no programa da peça)
Clique nas imagens para ampliar:



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DE OLHO NA CENA BY NANDA ROVERE - TUDO SOBRE TEATRO, CINEMA, SHOWS E EVENTOS Sou historiadora e jornalista, apaixonada por nossa cultura, especialmente pelo teatro.Na minha opinião, a arte pode melhorar, e muito, o mundo em que vivemos e muitos artistas trabalham com esse objetivo. de olho na cena, nanda rovere, chananda rovere, estreias de teatro são Paulo, estreias de teatro sp, criticas sobre teatro, criticas sobre teatro adulto, criticas sobre teatro infantil, estreias de teatro infantil sp, teatro em sp, teatros em sp, cultura sp, o que fazer em são Paulo, conhecendo o teatro, matérias sobre teatro, teatro adulto, teatro infantil, shows em sp, eventos em sp, teatros em cartaz em sp, teatros em cartaz na capital, teatros em cartaz, teatros em são Paulo, teatro zona sul sp, teatro zona leste sp, teatro zona oeste sp, nanda roveri,

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