Você ainda não foi ver Um Berço De Pedra? Tem que ver!
Essa obra-prima do nosso teatro está novamente em cartaz, no Tusp. Arrebatador, tocante!
De Newton Moreno, com direção de William Pereira, faz curta temporada!
De 13/04 a 07/05
Montagem indicada em seis categorias aos prêmios SHELL, APCA e Aplauso Brasil. Vencedor do Shell melhor Iluminação.
Elenco: Luciana Lyra, Débora Duboc, Lilian Blanc, Cristina Cavalcanti, além de Sônia Guedes e Jairo Mattos que entraram para essa temporada, substituindo Agnes Zuliani e Eucir de Souza.
Tem o mérito de mostrar as dores de mulheres que nos ensinam a agradecer a vida. Claro que a função do teatro não é a de trazer, necessariamente uma mensagem, mas o teatro que nos faz refletir sobre o mundo em que vivemos, que nos toca e nos transforma de alguma maneira, é urgente, necessário.
Um berço de Pedra mostra gritos de mães que por motivos diversos estão em situações em que os seus filhos correm perigo ou elas precisam deixa-los em nome da sobrevivência. O texto mais tocante do excelente dramaturgo Newron Moreno. Emoção, pura emoção!
Em cena estão mulheres fortes, lutadoras, mulheres vingativas e mulheres, que num primeiro julgamento, foram relapsas com relação ao filho ( mas como julgar, por exemplo, uma mãe que entrega seu filho a um desconhecido para que ele não morra de fome?; como ver sem sentir um nó no peito a dor de uma mulher que foi estuprada e ainda teve que suportar o grande suplício de ver a sua filha na mesma situação?!).
A miséria e a guerra são as causas predominantes de tragédias e enfrenta-las é algo desesperador. Ser mãe é sinônimo de luta, resignação. Em alguns momentos o tom é realista, em outros, a tragédia invade o palco (sempre com uma unidade impressionante).
De uma maneira poética, forte, pulsante, o diretor William Pereira guia os atores que estão sublimes em cena. Ele é o maestro dessa sinfonia de um tempo lastimoso, onde a guerra, a fome, a falta de liberdade e a loucura ocasionam tragédias, lamúrias, lutas.
A esperança é algo remoto e o ventre da mulher simboliza a dor e o grito de mulheres que estão por toda a parte desse mundo em que as pessoas, mesmo diante de tanto avanço tecnológico, insistem em cometer atrocidades em nome do amor, da religião e do dinheiro. A violência das armas está na Síria e em todos os países em que não existe liberdade. A violência do desrespeito, no entanto, é universal e causa de destruição de milhares de mães, de milhares de filhos.
A figura masculina entra em dois momentos somente, mas são personagens que fogem da figura do pai. Um deles é um estuprador que fica frente a frente com a mulher abusada e grávida. O outro está na rua e vê atônito uma mãe entregar o seu filho em nome da sobrevivência.
A luz e a trilha ajudam a dar vigor ás cenas, a aflorar as emoções. A música acompanha as tragédias, as emoções dos personagens, mas também é um bálsamo porque faz com que a respiração volte, já que é difícil se mexer na cadeira diante de cenas arrebatadoras.
A fala, os sentimentos e os corpos acompanham a sinfonia que embala as histórias de vida das personagens!
O cenário ajuda a ambientar as histórias num tempo e espaço incerto; espaços de dor, delírio e também de esperança ( a mãe que acredita que seu filho, desaparecido na ditadura pode voltar, ou a senhora que busca os esqueletos do seu filho e sonha em juntá-los para que essa ação devolva-lhe a vida.
A mãe-terra recebe a história de mulheres que enfrentam as suas dores, amores dilemas, numa desesperadora saga de desencontros e a alma dilacerada por uma realidade dura, sem tréguas e que arremata o âmago do nosso ser.
Ficha Técnica:
Texto de Newton Moreno
Direção e Cenografia: William Pereira
Figurinos: Cristina Cavalcanti
Trilha sonora: William Pereira
Iluminação: Miló Martins
Programação Visual: Eduardo Reyes
Fotografia e Registro em Vídeo: Marcos Frutig
Projeções: Daniel Mantovani
Visagista: Leopoldo Pacheco
Cabelos: Paolo Biagiogli
Aderecista: Michele Rolandi
Direção de Produção: Leopoldo De Léo Junior
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