Kiss Me Kate é de autoria de Bella e Samuel Spewack, com música e letra de Cole Porter, grande nome do jazz norte-americano do Século XX.
No palco, o metateatro com humor e muitos aplausos no final. Uma trupe encena A Megera Domada, de William Shakespeare.
O ano é 1948.
Na trama: Após uma trajetória de trabalhos sem muita notoriedade, o ex-casal Lilli Veronese (Alessandra Verney) e Fred Graham (Miguel Falabella) conquistaram o sucesso e agora protagonizam o clássico de Shakespeare. Eles estão na cidade de Baltimore, EUA.
Na peça de Shakespeare, os atores vivem Kate e Petruchio: Kate é uma mulher impulsiva, capaz de atos violentos para fugir do casamento imposto por seu pai; Petruchio quer se casar pelo dote e tem a quase impossível tarefa de domar a "megera".
O problema é que a vida pessoal de Lilli e Fred é explosiva, e infui no cotidiano profissional de ambos no palco.
Os desencontros do ex-casal podem prejudicar a continuidade do espetáculo A Megera Domada.
Pra piorar a situação, a novata e atraente Louis Lane (Bruna Guerin) pode ser o pivô de mais uma briga entre Lilli e Fred.
Pra piorar mais ainda, Bill (Guilherme Logullo), o namorado de Louis e também integrante da companhia, contrai uma dívida de jogo em nome do patrão e isso vai gerar uma confusão!...
Um imbrólio que para entendê-lo é preciso correr para o Teatro Villa Lobos, onde Kiss me Kate está em cartaz.
Kiss me kate conta com a presença de excelentes artistas, que interpretam, cantam e dançam. E como são bons! Desenvoltos e com uma ótima química.
Todos os atores merecem muitos aplausos e Miguel Falabella e Alessandra Verney exercem com louvor as suas funções como protagonistas. Fafy Siqueira é outro nome de destaque. Ela faz um dos homens que vão cobrar a suposta dívida de jogo de Fred e acaba se encantando com o teatro. Ela e Edgar Bustamante (os gangsters 1 e 2), conquistam a simpatia do público). Fafy com o seu humor popular, tem habilidade corporal e o tom da comédia na medida exata!
Fred, por sua vez, tem muita lábia, ao ser cobrado por uma dívida que não é dele, consegue fazer com que os gangsters assistam ao espetáculo e são eles que impedem a saída de Lilli no meio da apresentação, após mais uma briga feia com Fred.
Bela química entre Falabella, Fafy e Bustamante! Miguel Falabella, multi-artista, com um carisma ímpar, encanta mais uma vez no palco como Fred/Petruchio.
Bruna Guerin mostra, como sempre, muito talento interpretando a atriz novata e toda cheia de charme Louis. O Bill de Guilherme Logullo mescla charme e a cara-de-pau típica de quem apresenta deslize no caráter.
Como todos estão ótimos em cena, eis a lista completa do elenco:
Fred Silveira (General Harrison Howell), Fernando Patau (Batista), Rafael Machado (Paul), Mari Gallindo (Hattie), Thiago Machado (Grêmio), Leo Wagner (Hortêncio), Hipólyto (Ralph) e Thor Junior (Pops), além de Danilo Barbieri, Estêvão Souz, Esther Arieiv, Fernanda Godoy, Gabriel Conrad, Guilherme Pereira, Marisol Marcondes e Maysa Mundim, que compõem o ensemble.
O público acompanha os bastidores da peça, com confusões, encontros e desencontros, e a encenação de alguns momentos da história de Shakespeare, em especial a tumultuada relação de Lili e Fred no camarim e na encenação.
Kiss me Kate foi encenada aqui no Brasil pela primeira vez e pelas mãos de Charles Moeller e Claudio Botelho, grandes nomes dos musicais, em 2015, com José Mayer como protagonista, ao lado de Alessandra.
A atriz explora com perfeição o seu exímio domínio vocal em cena. A montagem foi apresentada com elogios no Rio de Janeiro. Não veio para a capital paulista.
A nova versão com Miguel Falabella estreou em São Paulo no final de julho e as sessões estão lotadas.
Falabella faz rir, canta muito bem, encanta o público. Tem o tipo ideal para interpretar Fred com louvor.
O ritmo de Kiss me Kate é agil com o canto e a dança ajudando a contar a história e contribuindo para o tempo transcorrer de forma prazerosa. As cenas de dança merecem aplauso em cena aberta. Aliás, Kiss me kate prende a atenção do início ao fim!
Os figurinos são chiques, bonitos e adequados para a época em que transcorre a trama. O cenário é formado por painéis pintados a mão - um primor - e que entram e saem da cena delimitando o espaço onde ocorre a apresentação do espetáculo A Megera Domada e os acontecimentos dos bastidores e camarins.
No primeiro ato, a dramaturgia é mais consistente, pois é ali que ocorrem os conflitos e o ápice da trama.
No segundo ato, acontece a finalização de toda a trama.
A obra é muito interessante e mostrar os bastidores do teatro é o seu trunfo.
A confusão entre os gangsters e Fred é explorada através do humor sem grandes tensões dramáticas. Isso é um apenas um detalhe, visto que com a ótima versão de Charles e Botelho, a presença dos gangstêrs garante boas risadas.
Vale lembrar que a dupla montou o musical Cole Porter – Ele Nunca Disse que me Amava’, lançando Alessandra Verney nos palcos, e conhecem o universo do compositor com profundidade.
Para diminuir o tom machista tanto de Kiss me kate, quanto da Megera Domada, de forma singela e inteligente, a
dupla de diretores coloca em xeque atitudes de Fred e Petruchio.
O humor afiado das cenas também ajuda a quebrar o conteúdo ufanista do texto que exalta o espírito de guerra do povo norte-americano em alguns momentos.
Kiss me kate é divertido, com cenas bem resolvidas, dinâmico e com artistas de muito talento envolvidos no projeto.
Montar e remontar textos célebres e de sucesso é importante para que essas obras não sejam esquecidas e a versão de Moeller e Botelho tem mérito porque respeita o estilo de teatro realizado na Broadway e com a presença de Falabella, que com seus cacos e carisma, ganha frescor.
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