Zulmira mora na Aldeia Campista, subúrbio do Rio, o marido está desempregado e ela sonha com um enterro de rico para impressionar a sua vizinhança, em especial a sua vizinha Glória. Está doente "do pulmão", sabe que vai morrer. Foi numa vidente e ela disse que uma loira estava no seu caminho. A loira, mesmo oxigenada, é Glorinha.
Nelson Rodrigues fala da hipocrisia de modo sarcástico, pessoas de moral duvidosa, invejosas, geralmente idiotas, símbolos de uma sociedade mesquinha.
Zulmira tem uma vidinha pequeno-burguesa, frustrada.
O marido descobre, já com a mulher morta, que ela tinha um amante e era o amante que ela queria que custeasse um pomposo enterro. A sua maior vingança: gastar todo o dinheiro para apostar no jogo, a sua paixão e perdição.
A Falecida já ganhou muitas montagens. Mais uma? Sim, um texto clássico de dramaturgia deve ser visto e revisto para ser sempre lembrado.
Sergio Módena dirige pela primeira vez " um Nelson". Ele valoriza o patético das relações, as facetas de Zulmira, que se mostra como seguidora de padrões, mas não tem nenhum pudor quando trai o marido. Recatada para a sociedade, fogosa para o amante! Inveja a prima porque esta tem melhor poder aquisitivo e ri quando descobre que ela teve câncer e só tem um seio.
Camila Morgado interpreta todas essas camadas de personalidade de Zulmira com competência. Fernanda Montenegro, no filme A Falecida; no teatro: Maria Padilha, dirigida por Gabriel Villela, Lucelia Santos e Maria Luísa Mendonça, dirigidas por Marco Antonio Braz, e agora Camila Morgado, dirigida por Sérgio Módena. Cada Zulmira interpretada com as características cênicas de cada montagem e eternizada por grandes atrizes.
Módena evidencia o patético com uma encenação de espírito gótico, com movimentos de entra e sai dos atores coreografados que ressaltam o quanto os personagens caminham para o abismo da pequenez humana.
Thelmo Fernandes mostra um toque de malandro carioca apaixonado por futebol, um sujeito sem brios e vingativo. É um ator sempre digno de muitos aplausos. Gustavo Wabner dá vida com louvor a Timbira, mulherengo e que se beneficia da morte, sempre explorando o sofrimento alheio. Wabner ressalta o grotesco desse personagem, um nojento sem escrúpulos.
Elenco todo merece aplausos!
O sagrado e o profano se misturam nessa montagem. A igreja surge cada vez mais como símbolo de seres hipócritas que fazem seus pecados sem dó e vão ao templo para mostrar para os outros que são tementes a Deus. Até eles mesmos acreditam que são bons e os "pecadinhos" foram perdoados.
Ate 1 de outubro
Sesc Santo Amaro
www.sescsp.org.br
Ficha técnica
Texto: Nelson Rodrigues
Direção: Sérgio Módena
Elenco: Camila Morgado, Thelmo Fernandes, Stela Freitas, Gustavo Wabner,
Alcemar Vieira, Alan Ribeiro, Thiago Marinho
Direção Musical: Marcelo H
Cenário: André Cortez
Iluminação: Renato Machado
Figurino: Marcelo Olinto
Preparação Corporal: Laura Samy
Produção Executiva: Ana Velloso, Vera Novello e Cacau Gondomar
Direção de Produção: Lúdico Produções Artísticas
Programação Visual e Fotos: Victor Hugo Cecatto
Assessoria de Imprensa: Pombo Correio
Produtores Associados: Camila Morgado, Sergio Módena e Lúdico Produções |