As Bruxas de Salém
Arthur Miller ganha montagem dos Satyros e mostra a força do teatro em provocar reflexões
Atualíssimo.
As Bruxas de Salém
Arthur Miller ganha montagem dos Satyros. Com esse trabalho, esse renomado grupo, sob direção de Rodolfo Garcia Vazquez, mostra a força do teatro em provocar reflexões, sem deixar de lado o valor artístico do encantamento.
Uma montagem instigante, porque através de um fato histórico promove o aprimoramento cultural e crítico do espectador.
O teatro cumpre a sua função de contribuir para a evolução do nosso senso crítico e assim a transformação do mundo para fias melhores torna-se cada vez mais possível.
Julgamentos e execuções absurdas na América colonial do século XVII mostraram até onde o fanatismo religioso pode chegar.
Artur Miller levou essa história para o teatro e colocou em pauta o quanto a ignorância, a ganância, a mesquinhez e o capricho de um amor não correspondido podem ocasionar uma tragédia. A trama foi levada ao cinema.
Na pequena cidade de Salém, Massachusetts, durante o século 17, jovens meninas, aparentemente ingênuas, participam de um ritual de dança e evocação de seres ancestrais e sobrenaturais para conquistas amorosas. Elas dançam nuas na floresta.
O que era pra ser um encontro clandestino se transforma em caso de justiça quando duas delas começam a demonstrar um comportamento muito estranho.
Para não serem punidas, acusam mulheres da cidade de bruxaria.
Uma delas em especial, para tentar conquistar o homem (casado) que ama (ou é um capricho?) é capaz de colocar no banco dos réus a esposa que fora traída.
É, viver nos idos de 1600 não era fácil. Bruxaria era crime para forca, aliás, pensar era perigoso. O jeito era seguir as regras impostas pela justiça, claro, a justiça hipócrita dos brancos, ricos e religiosos. O pecado assombrava.
A peça As Bruxas de Salém é baseada em caso real, foi levada ao cinema e é um clássico atual, que nas mãos de Rodolfo García Vazquez ganhou dinamismo e uma contemporaneidade que nos coloca diante de uma sociedade doente de ontem e de hoje, e esperemos que não do futuro.
As meninas acusam as bruxas e o alvoroço é geral.
Prisões, possíveis enforcamentos.
No julgamento popular, 14 mulheres e 5 homens haviam sido enforcados. Um homem foi castigado até a morte. Mais de 150 pessoas haviam sido julgadas e muitas delas que foram condenadas morreram em prisões desumanas. Foram vítimas do que hoje chamamos fake news, vítimas da violência política e religiosa, vítimas da ignorância.
Tudo muito familiar em tempo de guerras e ascensão da direita em muitos países.
Roubar e matar não é nada para quem só´pensa em satisfazer as suas necessidades e solidificar o seu plano de vingança.
O que é verdade e o que é mentira, o que é a justiça e a injustiça? O que é moral? O limite é tênue quando interesses escusos dominam a cena.
No Brasil, tivemos quatro anos de um governo de tendência fascista. Vivemos agora em um tempo de esperança, mas ideias reacionárias infelizmente estão ainda acesas...
A peça é uma alegoria intensa orquestrada por um diretor criativo e por um elenco coeso. Os atores recebem o público à luz de velas e já nos sentimos como parte integrante de uma trama macabra que nos faz pensar sobre o quanto um ser humano pode mentir para conquistar o seu desejo.
A dramaticidade ganha força através de tons que reforçam o terror de uma cidade à beira do abismo. Figurinos sóbrios com ares clássicos e universais. A luz deixa a cena com pouca claridade e também contribui para realçar o clima de desespero que emana em Salém.
Sem pensar, agindo por impulso, uma turma, turba, infame, clama pela morte de pretos, homossexuais, clama pela morte dos marginalizados, em nome do Deus, Pátria e Família ... a barbárie disfarçada de justiça, disfarçada de moral e de temência a Deus.
O coro canta, clama e ocupa o palco com uma força avassaladora.
Vazquez é culto, criativo e tem uma estética que faz com que os textos cheguem até o palco de forma prazerosa.
É um teatro underground vigoroso, porque não tem pudores, tem caráter transgressor, mas traz também poesia estética, "não tem papas na língua", vai contra o status quo que é o causador de tantos males; une artistas de idades e tribos diversas, grita contra preconceitos.
O teatro pulsa pós-pandemia e o grupo Os Satyros é um dos grandes responsáveis. Teatro lotado. Aplausos merecidamente calorosos.
"Querer trabalhar, ser gente, agregar. Essa é a Cia Os Satyros
Márcia Araújo Dailyn
"A Arte Salva vidas".
Sou travesti, sou atriz, me respeite! A arte resiste".
Palavras de Márcia Araújo Dailyn
Atriz que interpreta uma das pessoas que foram enforcadas de modo arbitrário - aliás, forca, pena de morte, nada disso pune, pelo contrário, só alimenta a violência e solidifica a mesquinhez e a ignorância.
Festival de Curitiba 2022
E por falar em Marcia, ela foi a primeira bailarina do teatro municipal. Bailarina e atriz. Quem está acostumado(a) com a artista exuberante, comunicativa, verá em cena uma mulher cabisbaixa. Parabéns para Márcia e todo o elenco, em plena sintonia!
...
Sinopse
Entre as personagens principais estão John Proctor, um fazendeiro respeitado na comunidade; o reverendo Parris, um pastor ambicioso e inimigo de Proctor; Abigail Williams, a jovem sobrinha do reverendo que teve a paixão frustrada; Elizabeth Proctor, a esposa de John, e o reverendo Hale, um especialista em bruxaria, enviado para investigar as acusações.
Temporada: De 17 de junho a 27 de agosto.
Local: Espaço dos Satyros.
Endereço: Praça Roosevelt, 214 – Consolação – São Paulo.
Telefone: (11)3255 0994 / (11)3258 6345 | WhatsApp: (11)97883-9696.
Capacidade: 60 lugares.
Dias e Horários: De quinta-feira a sábado, às 20h30min; domingos, às 18h.
Valor dos Ingressos: R$50,00 (inteira), R$25,00 (meia-entrada) e R$5,00 (para moradores da Praça Roosevelt, somente na bilheteria física).
Venda “on-line” e bilheteria física.
Compra de ingressos antecipados na Sympla: https://bit.ly/SatyrosBruxas
Duração: 140 minutos, com intervalo de 15.
Classificação Etária: 16 anos.
Gênero: Drama.
Idealização: Ivam Cabral e Rodolfo García Vázquez
Texto: Arthur Miller
Tradução: Rodolfo García Vázquez
Dramaturgia: Luís Holiver e Sabrina Denobile
Direção: Rodolfo García Vázquez
Assistência de Direção: Guilherme Andrade
Elenco: Alana Carrer, Alessandra Nassi, Alex de Felix, Aline Barbosa, André Lu, Anna Paula Kuller, Bruno de Paula, Cristian Silva, Daj, Diego Ribeiro, Diogo Silva, Eduardo Chagas, Elisa Barboza, Felipe Estevão, Georgia Briano, Guilherme Andrade, Gustavo Ferreira, Henrique Mello, Heyde Sayama, Ícaro Gimenes, Julia Bobrow, Karina Bastos, Laura Molinari, Luís Holiver, Marcia Dailyn, Mariana Costa, Mariana França, Morena Marconi, Pri Maggrih, Rosi Horácio, Sabrina Denobile, Suzana Horácio, Vagner Santos e Vitor Lins
Cenário: Thiago Capella
Figurino: Elisa Barboza e Marcia Dailyn
Iluminação: Flávio Duarte
Sonoplastia: Coletiva
Preparação Vocal: André Lu
Operação de Luz: Flávio Duarte
Operação de Som: Gabriel Mello
Fotos: André Stefano
Produção: Diego Ribeiro, Elisa Barboza, Gabriel Mello e Maiara Cicutt
Realização: Os Satyros
|