Em 1989 @ulyssescruz52 dirigiu @acerimoniadoadeus e a estreia foi no @sescconsolacao, em São Paulo.
Foi com essa peça que conheci o trabalho do Ulysses e me apaixonei.
Já fazia teatro, mas foi com essa peça que descobri que o teatro seria o meu guia. A concepção cênica de Ulysses mostrou para uma menina ainda adolescente, a magia do teatro pulsante, criativo, arrebatador.
A nova versão do diretor continua vibrante, criativa e arrebatadora.
Elenco:
Simone de Beauvoir – Beth Goulart
Aspázia – Malu Galli
Jean Paul Sartre – Eucir de Souza
Juliano – Lucas Lentini
Brunilde – Olívia Araújo
Francisco – Fernando Moscardi
Lourenço – Rafael de Bona
@bethgoulartoficial
@malugalli
@eucir
@liege_monteiro
@luizfernandocoutinho
#deolhonacena
http://www.deolhonacena.com.br/index.php?pg=3a3b&sub=520#linha
A Cerimônia do Adeus fala de sonhos, liberdade, pulsões, preconceitos, descobertas, arte, poesia.
Assim como o autor Mauro Rasi, Juliano é escritor. É um jovem que sonha em ser escritor renomado, reside no interior e tem que lidar com a família cheia de pudores, hipocrisias e preconceitos.
O texto foi escrito no final dos anos 60, mas não é datado. Se naquela época a ditadura estava a todo o vapor, repressora, violenta, acabamos de viver tempos sombrios com um miliciano no poder, com ideias fascistas e encantado por ideais ditatoriais.
Mais de 30 anos entre a montagem que também ficou em cartaz no Sesc Consolação e a atual, e a obra continua instigante, oportuna e apaixonante. Assim como no passado, Ulysses Cruz assina a direção. Se já naquela época o seu trabalho era digno de muitos aplausos, hoje o que vemos é um artista maduro, criativo, que transfere para o palco toda a ânsia de vida do protagonista Juliano, a sua paixão por Simonede Beauvoir e Sartre, os embates com a mãe e demais familiares.
O provincialismo do interior, que persiste nos dias de hoje, atordoa. Juliano não quer muita coisa na vida, quer ter liberdade para criar e ser respeitado. Ele respira literatura e o seu quarto se transforma num refúgio, lugar em que a imaginação aflora: ele materializa Jean Paul Sartre e Simone de Beauvour, seus ídolos franceses existencialistas, com ideias modernas. São as únicas pessoas que entendem o seu espírito libertário e é com eles que ele expõe as suas angústias.
As revoluções políticas em prol do fim da ditadura se unem à revolução interna de Juliano. Aspázia, a mãe, a irmã, Brunilde e o primo reacionário Lourenço representam um universo retrógrado que Juliano quer se desvencilhar.
Mãe e tia representam o status qoo, a visão pequeno burguesa e a mente bitolada. Lourenço é um ser doente, frustrado, asqueroso. No meio disso tudo, Juliano tem o seu cotidiano sufocado, está sempre explodindo de raiva. São conflitos de gerações e de visões sobre o mundo sempre pertinentes para serem abordadas. A arte que salva, que nos livra de um cotidiano sem graça, no caso, a literatura e o teatro são as molas propulsoras de um futuro promissor para o protagonista.
Para quem não sabe, Mauro Rasi foi um grande dramaturgo e essa obra é auto-ficção, baseada nas suas angústicas de um promissor escritor do interior que queria ganhar o mundo, sem amarras, escrever, amar e ser feliz.
Um fluxo alucinante de emoções e sensações traduzido cenicamente com precisão pelo diretor, com vivacidade e dinamismo. O metaverso explorado com maestria. Um texto atemporal, uma encenação primorosa.
Portas e livros formam o cenário; imagens projetadas também dão a amplitude do quanto a cabeça do jovem protagonista fervilha em conjunto com um mundo em ebulição.
Luz e trilha contribuem para reforçar o teor das cenas, explosivas e tragicômicas.
A trilha de André Abujamra é forte, esfusiante, intensa, funciona praticamente como um personagem delimitando o furor da passagem da adolescência para a fase adulta, os transtornos com a família e a descoberta da sexualidade.
A trilha embala o emaranhado de dramas, desejos e pulsões de Juliano.
O elenco foi muito bem escalado. Malu Galli, Beth Goulart e Olívia Araújo são vigorosas, primorosas em cada olhar, gestos e entonações. Eucir de Souza também merece aplausos. Sartre já está com problemas de saúde e Eucir dá ao personagem a necessária maturidade e fragilidade.
Lucas Lentini consegue transmitir a jovialidade, o espírito sonhador, inquieto e questionador de Juliano.
A montagem de 1989 é inesquecível e com certeza essa nova versão será um marco também, já é um marco. |