Josephine Baker – A Vênus Negra
Atriz Aline Deluna é explosão de beleza, sensualidade, talento e carisma
A dançarina, cantora, atriz Josephine Baker faleceu em 1975. A conhecia muito pouco. Já tinha ouvido falar sobre a Vênus Negra, lógico, mas foi um privilégio conhecer detalhes sobre a sua vida e carreira através de um musical.
Nasceu nos Estados Unidos, mas foi na França que ela começou a ser respeitada, já que sofreu muito com o racismo no seu país de origem.
Além do talento, a artista chamou atenção pelo seu espírito libertário, sobretudo a nudez sem nenhuma apelação. Também foi ativista, agindo em prol não somente da sua raça, mas visando o respeito a todas as raças e credos.
O autor Walter Daguerre apresenta a vida da artista de modo cronológico, mas as citações dos anos e dos fatos são interessantes porque ressaltam a sua irreverência e as dificuldades de ser mulher negra e artista numa sociedade como a americana nos anos 20.
As passagens da sua trajetória são, portanto, detalhadas, mas a dramaturgia não cansa o espectador porque serve para ressaltar as ações e os pensamentos de uma mulher que venceu os preconceitos e se firmou como uma artista de talento.
Entre os detalhes biográficos apresentados: Casou diversas vezes, teve atitudes libertárias na profissão e na vida pessoal, e adotou 12 órfãos de várias etnias, aos quais chamava "tribo arco-íris.
Josephine conseguiu colocar brancos e negros nas suas apresentações, lado a lado. Exigiu que as suas produções contassem com funcionários negros. Durante a Segunda Guerra Mundial atuou como espiã e recebeu honrarias porque acreditava que precisava retribuir à França o acolhimento que obteve no país.
Nos anos 50, a sua popularidade foi de suma importância na luta contra o racismo e pela emancipação dos negros; apoiou inclusive o Movimento dos Direitos Civis de Martin Luther King.
O musical trabalha com a primeira e a terceira pessoa, visto que a atriz narra a história e também vive a personagem. Uma opção cênica que evidencia o quanto Aline Deluna se identifica com Josephine, tanto que no início da apresentação ela conversa com a plateia e conta como se encantou pela artista e resolveu interpretá-la.
A produção vai na contramão dos grandes musicais e esse é um dos trunfos da montagem. Tem um caráterintimista e o carisma de Aline contagia a plateia.
O seu canto ecoa com precisão. É só assistir a vídeos de Josephine Baker na internet para constatar a alta qualidade do trabalho de Aline. Uma voz rara que está a serviço de Josephine, assim como todo o seu corpo também está..
Aline leva para o palco a alma de Josephine, com movimentos baseados nas suas apresentações mundo afora, mas além dos trejeitos característicos, Aline imprime também a sua personalidade em cena. A sua desenvoltura é incrível.
Transgressão, luta e o talento de uma artista apresentados no palco por uma atriz e cantora de talento e carisma. Trabalho realizado com esmero e maestria.
Dois pontos altos da montagem que aproximam Josephine do Brasil: Aline faz alguns comentários referentes ao mundo atual, além disso, a passagem de Josephine pelo nosso país ganha encantamento por seu contato, por exemplo com Grande Otelo, com quem chegou a contracenar no cassino da Urca,. A gravação de O Que É que a Baiana Tem?, uma canção de Dorival Caymmi imortalizada na voz de Carmen Miranda, também merece atenção especial.
A direção de Otávio Muller está focada no brilho da atriz, na sua performance no palco e na sua interação com os músicos, que também dão voz á personagens que fizeram parta da trajetória de Josephine. Eles contribuem para que a ação ganhe leveza e também a dramaturgia tenha sustentação. Os números musicais ajudam a contar a história e são um deleite devido ao talento da atriz e dos músicos.
O palco aberto, com coxias à mostra e com entradas da camareira que ajuda a atriz a mudar de roupa, é uma opção acertada, numa bela homenagem a quem faz o espetáculo acontecer e também remete à primeira função de Josephine no mundo artístico (a de camareira).
O figurino também merece aplausos e evidencia a trajetória de Josephine, o seu brilho, a quebra de paradigmas e a sua atuação na sociedade. Quem nos anos 20 teria coragem de usar uma mini-saia de bananas, correntes de ouro e brincos enormes? Com certeza poucas pessoas, entre elas Josephine Baker!
Com sucesso no Rio, e a atriz agraciada com vários prêmios na cidade, o musical chegou a São Paulo e conquistou o público que lotou as sessões. O problema é que a temporada foi curta demais. Precisa voltar para uma temporada maior.
Nesses tempos sombrios, entrar em contato com uma mulher símbolo da luta contra o preconceito e à frente do seu tempo, é essencial. Não podemos deixar que o preconceito tome conta do nosso país, que o retrocesso impere!
Sinopse: A história da dançarina, cantora, atriz e humorista Josephine Baker (1906-1975), norte-americana naturalizada francesa que conquistou o mundo com sua arte e seu talento, apesar das críticas ao seu estilo de vida rebelde e liberal. É essa mulher e artista que o espetáculo musical pretende apresentar ao público. No palco, a dança selvagem, a sensualidade e o deboche. Fora dele, a luta pela igualdade racial, a defesa da miscigenação e da convivência harmônica entre os povos.
Ficha técnica
Texto: Walter Daguerre
Direção: Otavio Muller
Direção musical: Dany Roland
Direção de movimento: Marina Salomon
Elenco: Aline Deluna (atriz), Dany Roland (músico), Christiano Sauer (músico) e Jonathan Ferr (músico)
Cenário e Figurinos: Marcelo Marques
Iluminação: Paulo César Medeiros
Projeto de som: Branco Ferreira
Preparação vocal: Débora Garcia
Visagismo: Guto Leça
Josephine Baker em BH
Cine Theatro Brasil Vallourec – Grande Teatro (Av. Amazonas, 315 – Centro)
29 e 30 de setembro (sábado e domingo)
Sábado às 21h e Domingo às 19h
INGRESSOS:
R$50
VENDAS:
online: eventim
https://www.eventim.com.br/
BILHETERIA OFICIAL - SEM COBRANÇA DE TAXA DE CONVENIÊNCIA
Cine Theatro Brasil Vallourec
Av. Amazonas, 315 – Centro/ Belo Horizonte
Segunda à Sábado das 12h às 21h
Domingo das 15h às 20h
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